A carência de respiradores, indispensáveis a infectados com coronavírus em estado grave de saúde, e a espera por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Covid-19 que não surgiram em tempo hábil são apontadas como razões para mortes de quatro pacientes internados em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Belo Horizonte nas últimas 72 horas. A informação foi compilada pelo Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel) a partir de relatos recebidos por funcionários lotados nessas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
Trabalhadores também narram falta de pontos de oxigênio, monitores, medicamentos e respiradores mecânicos – arsenal obrigatório para garantir a sobrevivência de diagnosticados com a Covid-19 em estado crítico. Duzentas pessoas estão na fila por um leito de UTI na rede pública de Belo Horizonte, segundo revelou Israel Arimar de Moura, presidente do sindicato, à reportagem na tarde de segunda-feira (29).
“Estamos em colapso na saúde em Belo Horizonte, não só na rede pública, mas também na rede privada. Não tem vaga de CTI. Nas últimas 72 horas, só nas UPAs, morreram 21 pacientes, dois por falta de respiradores e outros dois por conta da demora para conseguir um leito de CTI, e na fila de leitos o sindicato tem a informação de que aguardam 200 pessoas”.
O cenário de guerra nos hospitais públicos da capital mineira, como ele classifica, torna-se mais delicado frente à ausência de profissionais de saúde para lidar com o crescimento no número de internações e o cansaço dos que mantêm-se na linha de frente do tratamento de pacientes com o coronavírus. Ele afirma que abrir leitos à revelia não bastará como solução para o colapso na saúde.
“Esclarecemos à população que não adianta ficar abrindo leitos indefinidamente. Está faltando profissionais de saúde para cuidar dos pacientes. Pode colocar um hospital de campanha, mais 40 leitos, vai ter dificuldade para fazer funcionar pela falta de trabalhadores da saúde para cuidarem desses pacientes”, reforça. "O problema, a situação, vem se agravando com muita rapidez, soma-se a isso o cansaço e o estresse emocional dos profissionais de saúde e a dificuldade da Secretaria Municipal em conseguir colocar novos leitos à disposição", conclui.
Em nota, a prefeitura da capital alegou que, assim como todo o país, a situação da pandemia é grave. Por isso, a busca por atendimento de urgência nas UPAs aumentou e a Secretaria Municipal de Saúde trabalha "de forma ininterrupta para que todos os pacientes sejam atendidos". O Executivo municipal salientou ainda que só neste mês abriu 243 leitos de UTI para tratamento da doença.
"Todos os pacientes hospitalizados nas instituições da Rede SUS que necessitam de UTI já foram cadastrados na central de leitos, que funciona 24 horas, sete dias por semana, inclusive nos feriados. É importante ressaltar que essas pessoas foram atendidas, estão recebendo atenção médica e poderão ser transferidas para um hospital, caso necessitem de cuidados indisponíveis nas UPAs", informou.
A prefeitura também lembrou que a partir desta segunda-feira (29) as nove regiões de Belo Horizonte contam com centros de saúde em funcionamento 24h por dia para atender casos não ligados ao coronavírus. "Essa estratégia visa ampliar o atendimento de pessoas que não apresentam sintomas respiratórios e são classificados como baixa e média complexidade, deixando as UPAs dedicadas, prioritariamente, ao atendimento dos casos sintomáticos respiratórios, pediatria e traumas", declarou.
Nos últimos três dias, três unidades das regionais Centro-Sul, Pampulha e Venda Nova já funcionaram nesse modelo. Conforme balanço, foram realizados cerca de 600 atendimentos. Por fim, a prefeitura negou que pacientes tenham morrido devido à falta de respirador na UPA Norte, que conta com nove equipamentos, e os estoques de insumos, oxigênio e medicamentos estão abastecidos.