A decisão de um padre da cidade de Dom Bosco, na região Noroeste de Minas Gerais, de demolir uma igreja de mais de 50 anos revoltou moradores e virou caso de polícia na cidade. A igreja São João Bosco foi demolida no último domingo (27) sem autorização da prefeitura do município, que pretendia tombar a matriz como patrimônio histórica. 

De acordo com o Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, foi a prefeitura quem acionou os militares contando que o padre, de 35 anos, tinha mandado destruir o templo religioso localizado na praça Salustiano Cordeiro. 

Nenhum comunicado da decisão foi feito à prefeitura, que já encontrou as máquinas trabalhando no local e fazendo a demolição. Os policiais mandaram parar a ação, mas o estabelecimento estava bastante detonada já. 

O executivo afirmou que, nesta segunda-feira (28), seria assinado um documento para que a igreja fosse tombada como patrimônio histórico do município. 

A diretora do Departamento de Cultura da prefeitura da cidade, Nely de Fátima Souza, disse que Dom Bosco não tem nenhum patrimônio histórico e que o processo para tombamentos de bens do município foi iniciado neste mês. A igreja, uma ponte e uma escolinha seriam os primeiros espaços a se tornarem patrimônio da cidade.

“Nos estamos tristes porque foi uma igreja construída pela comunidade. No dia 18 o conselho aprovou o tombamento desse patrimônio. E agora tivemos esse desastre cultural. A história do povo de Dom Bosco foi demolida junto com a igreja. A prefeitura procura os trâmites legais para a punição por essa demolição”, afirmou a diretora.

Segundo a prefeitura, o padre já sabia sobre o tombamento e determinou a destruição da igreja em um momento que os funcionários do município estavam de folga. 

Aos policiais militares, o padre disse que a decisão de demolição para a construção de nova igreja foi tomada em comum acordo com o bispo de Paracatu, cidade localizada na mesma região.  Ele afirmou que realmente não pediu alvará da prefeitura e nem avisou sobre a destruição.

População se revoltou

A demolição do templo religioso revoltou os moradores da cidade, que acabaram apedrejando a casa onde o religioso mora, bem ao lado da igreja. O padre relatou aos policiais que está recebendo muitas ameaçadas e está com medo. 

No dia da destruição, 80 pessoas gritaram palavras de ordem contra o padre. Ele teria brigado com os populares e houve confusão, porém ninguém foi preso. 

Um morador da cidade, que preferiu não se identificar, contou à reportagem que quem ia à igreja com frequência já estava sabendo sobre a demolição. "O que sei é que tinham recursos para fazer uma nova e como essa antiga estava ficando pequena para a população, o padre optou por essa demolição. Iam construir uma maior", contou.

Outra moradora discordou completamente da demolição. "É um absurdo. Era nossa igreja principal e queríamos manter a preservação dessa igreja", lamentou. 

O caso foi encaminhado à Delegacia de Polícia Civil de Unaí, que vai investigar a ação. O padre não foi preso. A igreja era referência na cidade que tem 3.677 habitantes. 

A Diocese de Paracatu, responsável pela igreja, informou à reportagem que não havia ninguém para comentar o assunto.