Na última semana, a média diária de pacientes com traumatismos cranianos em decorrência de acidentes com patinetes elétricas chegou a quatro no Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, em BH, segundo a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Os números crescem desde fevereiro, um mês após os veículos terem chegado à cidade. A prática virou mania na capital, principalmente na região Centro-Sul, seja como lazer ou meio de transporte. Os benefícios dos equipamentos, que não poluem nem geram ruídos, são reconhecidos por especialistas, mas a preocupação com a segurança é unânime: a regulamentação municipal do uso da patinete, que ainda não foi feita, poderia reduzir riscos.
“A grande maioria das quedas está causando traumatismo craniano. A maioria é leve, mas já tivemos paciente com caso grave”, afirma o diretor assistencial da Rede Fhemig, Marcelo Lopes Ribeiro. Para ele, a regulamentação é necessária e deve exigir, no mínimo, o uso de capacete.
“O problema no Brasil é que tudo pode, de uma hora para outra. O pessoal anda no meio da rua, na contramão, em qualquer lugar”, pontua, salientando que os atendimentos demandam gastos públicos. “Temos surto de dengue, epidemia de queda de motos, estamos entrando no surto de doença respiratória e, agora, temos mais a epidemia da queda de patinetes elétricas”, diz.
O auxiliar administrativo Luiz Fernando de Andrada Pacheco, 42, usava patinete elétrica para passear e se deslocar, mas abandonou o equipamento após uma queda na Savassi. “A roda perdeu o controle, e a patinete caiu no chão. Saí catando cavaco e fui parar na quina de uma loja”, conta. “É preciso atenção do poder público”, destaca.
Diretor executivo do Instituto de Tecnologias para o Trânsito Seguro, Fernando Pedrosa também defende a regulamentação municipal. “Por ser um veículo extremamente vulnerável, o uso precisa ser muito bem modulado para não pôr em risco a vida dos usuários nem aumentar a insegurança da circulação viária no Brasil, que já é muito grande”, observa.
Posição. A Grin e a Yellow, que alugam patinetes em BH, informaram em nota que seguem o que regulamenta o Contran, que o acesso é restrito a maiores de 18 anos, e, sem dar detalhes, que facilitam o acesso ao seguro em caso de acidentes. Ações educativas são intensificadas, e há entrega esporádica de capacetes, mas o usuário é responsável por usar o item.
Preço. Nas duas empresas, o desbloqueio custa R$ 3, e cada minuto de uso, R$ 0,50. Na Grin, o primeiro minuto está incluso nos R$ 3.
Resolução do Contran limita velocidade
BH tem projeto de regulamentação do uso de patinetes. Um grupo de estudos da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) discute o impacto do meio de transporte e informou nessa terça-feira (30) que, até a criação da legislação municipal, os usuários devem obedecer à Resolução 465 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
O texto determina que equipamentos de mobilidade individual com propulsão própria podem transitar apenas em áreas de circulação de pedestres, ciclovias e ciclofaixas, com velocidades máximas de 6 km/h e 20 km/h, respectivamente.
A discussão do uso da patinete como política pública de mobilidade, com atenção para a moderação dos preços e o limite da velocidade, é defendida por Marcelo Amaral, membro do Movimento Nossa BH e do coletivo Desvelocidades . “Diminuindo a velocidade dos veículos, dá para todos conviverem com mais segurança”, afirma.