Cada vez mais grave

Piora da pandemia pode provocar crise funerária em BH, alerta infectologista

Número de sepultamentos nos cemitérios municipais da capital já tiveram alta de quase 20% nos dois primeiros meses deste ano, na comparação com o mesmo período de 2020

Por Lucas Morais
Publicado em 11 de março de 2021 | 17:06
 
 
 
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Em um mês, os números da pandemia do coronavírus em Belo Horizonte avançaram assustadoramente. Com quase 20.000 novos casos confirmados e mais de 400 óbitos só entre os dias 10 de fevereiro e 11 de março, a ocupação dos leitos de UTI ultrapassou 89% no balanço da prefeitura divulgado pela prefeitura nesta quinta-feira (11) – no período anterior, o índice estava em 71,5%. Já a taxa de transmissão da doença, mesmo com as restrições das atividades, atingiu um dos maiores patamares desde o primeiro registro da Covid-19 e alcançou 1,22 – no mês anterior, estava em 0,94.

Com esse panorama, o infectologista e membro do Comitê de Enfrentamento à Covid-19, Unaí Tupinambás, alertou para os riscos de uma crise funerária na capital. "Me dirijo mais uma vez à população para dizer que estamos passando por um dos momentos mais dramáticos da pandemia em nossa cidade e também no Brasil. Estamos passando, como vocês estão percebendo, por uma das maiores crises sanitárias e humanitárias do século", enfatizou.

Diante da elevação do número de óbitos, o sistema funerário da cidade pode não suportar e entrar em colapso, como aconteceu em Manaus, no Amazonas. Além disso, outra possibilidade é a questão da limitação da abertura de novas covas nos cemitérios da cidade. "E podemos enfrentar também uma nova crise, que é a funerária. Portanto, mais do nunca, a população tem que entender nesse momento a gravidade do momento e seguir todas aquelas orientações das autoridades sanitárias. Se possível, fique em casa, evite aglomerações, use sempre a máscara e lave as mãos", alegou.

A situação atual fez ainda a prefeitura convocar uma coletiva para a próxima sexta-feira (12). O comitê está reunido nesta tarde para discutir as estatísticas da pandemia em Belo Horizonte. A expectativa é que medidas restritivas ainda mais duras sejam implantadas.

 

Sepultamento em alta

Dados da prefeitura nos quatro cemitérios municipais revelaram que o número de sepultamentos aumentaram quase 20% entre janeiro e fevereiro. Em 2020, foram realizados 1.674, contra 1.989 nos dois primeiros meses deste ano. Considerando até o dia 9 de março, ocorreram 2.266 sepultamentos na capital mineira, uma média de 33,32 por dia  – desse total, 319 ocorreram após óbitos provocados pela Covid-19 e outros 33 por doenças respiratórias. Em todo o ano passado, a média de enterros por dia ficou em 29,93.

O mês de janeiro na cidade terminou como o segundo pior desde o início da pandemia, com 251 enterros de vítimas da doença. O recorde aconteceu em julho ao ano passado, com 288 sepultamos. Sobre os números, a prefeitura informou que "existe defasagem nos dados, especialmente nos meses mais recentes, em função do efetivo recebimento das Declarações de Óbitos pela Secretaria Municipal de Saúde, não sendo recomendado, neste momento, qualquer inferência ou conclusões".

Entidade alerta que pode faltar caixão

Apesar do risco ser baixo, o presidente do Sindicato das Empresas Funerárias e Congêneres de Minas Gerais (Sindinef), Daniel Pereirinha, reforçou que a falta de matérias primas, aliado ao aumento de até 304% nos preços dos insumos para fabricação, pode levar a uma falta de urnas em todo o país. "É pequena, mas essa possibilidade existe. Por isso, as empresas estão reforçando os seus estoques para o caso de um pico da demanda. O aumento nos valores de alguns produtos traz uma dificuldade para a fabricação das urnas", relatou.

O dirigente minimizou um eventual colapso na rede funerária da capital. Conforme Pereirinha, há capacidade em BH para atender de 50% a 80% a mais da média de óbitos nos últimos anos. "O sistema é superdimensionado e isso é até um ponto positivo para momentos como esse", destacou. A principal reivindicação é sobre a inclusão dos profissionais que atuam na linha de frente, em funerárias e cemitérios, no grupo prioritário de vacinação contra a Covid-19. "Enviamos um ofício para a prefeitura e o Estado pedindo para que sejam reconhecidos como prioridade. Caso funcionário seja afastado e contaminado, pode gerar um grande impacto no setor e faltar mão de obra", justificou.

Vacinação em andamento

O infectologista Unaí Tupinambás também lembrou que, apesar da vacinação contra a doença estar em andamento, não é o momento de relaxar em relação às medidas preventivas. A expectativa do infectologista é que, até o fim do primeiro semestre, em junho, toda a população acima de 60 anos já esteja imunizada. "Então não é o momento da gente relaxar. Mais do que nunca, a gente conta com a colaboração de todo belo-horizontino e belo-horizontina".

 

 

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