Inquérito

Polícia culpa pilotos por acidente de avião com Marília Mendonça: 'imprudência'

Tripulação seria julgada por homicídio culposo, mas inquérito foi arquivado

Por Lucas Gomes, Raíssa Oliveira e Tatiana Lagôa
Publicado em 04 de outubro de 2023 | 10:07
 
 
 
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O delegado Ivan Lopes Sales, da Polícia Civil de Minas Gerais, em entrevista coletiva nesta quarta-feira (4 de outubro), responsabilizou o piloto pela queda da aeronave que levava a cantora Marília Mendonça a Caratinga em novembro de 2021.

Segundo o delegado, a tripulação não respeitou a perna de pouso estipulada para o aeródromo de Ubaporanga. “O manual determina uma velocidade para fazer a perna do vento, os pilotos ultrapassaram essa velocidade não respeitando o manual. Eles saíram da zona de proteção e qualquer responsabilidade de (ver) antena, morro quaisquer obstáculos, cabia aos pilotos observar. Diante desses cenários de negligência, de imperícia, a Polícia Civil atribuiu a responsabilidade da queda da aeronave aos pilotos”, disse.

A conclusão da polícia mineira é semelhante ao do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). O relatório do órgão indica que "houve uma avaliação inadequada acerca de parâmetros da operação da aeronave, uma vez que a perna do vento [trajetória de voo percorrida durante o procedimento de pouso] foi alongada em uma distância significativamente maior do que aquela esperada". 

Os investigadores concluíram que os pilotos deveriam ser julgados por homicídio culposo, quando não se assume risco de matar. Por conta do óbito dos pilotos, foi recomendado o arquivamento do processo por extinção da punibilidade.

A investigação descartou a obrigatoriedade de a Cemig sinalizar as torres de transmissão nas proximidades do aeródromo. "É fato que a aeronave se chocou com a torre de transmissão e ela não era sinalizada. O fato de não estar sinalizada poderia ter prejudicado visão dos pilotos. Mas era obrigatório que as torres estivessem sinalizadas? Não. Agora estão sinalizadas por recomendação do Cenipa, mas não há obrigatoriedade pela altura da torre e da distância da zona de proteção", explicou Ivan Lopes. Os delegados também disseram que não houve um atentado, assim como a possibilidade de mal súbito por parte da tripulação. 

Procurado, o Ministério Público diz que analisará o inquérito e que, no prazo de 15 dias, vai definir as medidas cabíveis.

Defesa de pilotos questiona conclusão da Polícia Civil 

Em nota divulgada à imprensa, a equipe de defesa da tripulação a conclusão da Polícia Civil de Caratinga como sem "fundamento nas provas do inquérito e é até injuriosa com a imagem do piloto e copiloto". Segundo o advogado Sérgio Alongo, o acidente ocorreu porque a "Cemig instalou a rede de alta tensão na reta final do aeródromo de Caratinga na altitude do tráfego padrão que é de 1000 pés, cujo aeródromo não tinha Carta Visual de Aproximação". (Leia a nota na íntegra).

Segundo a PC, a linha de transmissão não tinha obrigatoriedade de sinalização. Após o acidente, o Cenipa também orientou que a Cemig sinalizasse os cabos de alta tensão onde o avião colidiu. A companhia mineira atendeu a recomendação em setembro deste ano. Sobre a alegação da defesa, a reportagem questionou a Cemig e aguarda retorno.

Relembre o acidente

Uma aeronave de pequeno porte caiu em uma cachoeira de Piedade de Caratinga, próximo ao acesso da BR-474, na região do Vale do Rio Doce, por volta das 15h30, do dia 5 de novembro de 2021. Horas depois do acidente, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais confirmou que Marília Mendonça estava entre as vítimas fatais. 

Além da morte da cantora, outros dois óbitos foram atestados pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) após queda da aeronave que trazia o artista e outros dois membros da sua equipe para Minas Gerais.

Morreram o produtor da cantora, Henrique Ribeiro, e seu tio Abicieli Silveira Dias Filho – nomes e óbitos também foram atestados pela assessoria da própria artista. O piloto e o copiloto, Geraldo Martins de Medeiros Júnior e Tarciso Pessoa Viana, também não sobreviveram à queda. 

O avião com a cantora sertaneja decolou de Goiânia, na tarde de 5 de novembro, com destino a Caratinga, onde Marília teria uma apresentação.
 

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