“Aqui, o tempo parece passar mais devagar”. A fala da comerciária Larissa Santos, de 25 anos, em um primeiro momento, parece contrastar com tudo o que há ao redor dela: trânsito intenso, pessoas correndo, um ou outro pedestre impaciente furando a sinalização e se arriscando na rua. Porém, a jovem não se atém a isso.

Comprando verduras na Feira da Agricultura Urbana localizada na rua Goiás, na região central de Belo Horizonte, Larissa vê o lugar como um refúgio em meio à correria de uma capital. Assim como ela, diversas outras pessoas visitam constantemente as cerca de 300 feiras alimentícias do município, onde produtores e consumidores se encontram para um ‘dedinho de prosa’ e lutam para manter essa tradição cada vez mais viva.

A capital conta com cinco tipos de feiras de vendas de alimentos: Feira da Agricultura Urbana, Direto da Roça, Feira Livre, Feira Modelo e Feira de Orgânicos (saiba mais abaixo). Em vários bairros de todas as regionais, é possível ter acesso a produtos muitas vezes mais acessíveis financeiramente, mais saudáveis e com todas as características das comidas mineiras feitas na ‘casa de vó’, com receitas únicas. Tem de tudo, a depender do local: desde alface, cenoura, beterraba e cebolinha até geleias, compotas e o famoso feijão tropeiro.

Para a subsecretária de segurança alimentar e nutricional da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Darklane Rodrigues, essas feiras têm uma importância ímpar, para todos os envolvidos: são o retrato da cultura dos antigos mercados, geram renda para os produtores e ainda oferecem itens de qualidade para os consumidores. Além disso, são ‘pontos de encontro’ para a população.

“Existem múltiplos benefícios. Essas feiras trazem a cultura do interior, dos mercados antigos. São um espaço importante para essa manutenção cultural. Além disso, geram renda para o feirante, que não precisa de um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para atuar. Já os consumidores têm à disposição itens de alta qualidade nutricional, que vêm de uma produção que preza o cuidado com o meio ambiente, a preços mais acessíveis”, afirma ela.

Qualidade dos produtos é justamente o aspecto destacado pela feirante e agricultora Raquel Pereira, que mantém uma barraca na rua Goiás. Ela tem um argumento imbatível para garantir o diferencial dos itens comercializados por ela. Aos 79 anos, ela afirma, satisfeita: “Este ano eu faço 80 anos. E só como meu produto”, e logo depois dá um sorriso.

De lá pra cá

Quando se trata da origem de itens frescos, como verduras e legumes, geralmente eles fazem uma pequena viagem até chegar à capital. Gerente de formação profissional e promoção social da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Lisiana Rodrigues explica que muitos alimentos são cultivados em cidades como Brumadinho, Mário Campos e Sarzedo. Para ela, as feiras são uma oportunidade para quem sai do campo expor os seus produtos.

“É uma forma de escoar a produção do meio rural. Geralmente, são pequenos e médios produtores que vão ser conhecidos, ter a oportunidade de fazer negócios, de fechar vendas”, diz ela.

Mas também há os que cultivam os produtos na própria capital. Sônia Barbosa, que expõe verduras na Feira de Agricultura Urbana do bairro Milionários, na região do Barreiro, planta os alimentos perto de casa. Apesar dos desafios - como o frio e a chuva-, ela fala com alegria sobre os itens. “Gosto de plantar. Estou fazendo mudinhas. Quando tem a feira, a gente vende bastante”, diz ela. José Adão, de 56 anos, cultiva produtos no assentamento Vitória, na região Norte de Belo Horizonte. Ele cita um a um com o maior cuidado. “Tem alface, mostarda, cenoura, mandioca, banana, chuchu. Pessoal gosta muito”, diz.

A feirante Maria Agostinha, a Nini, de 63 anos, também tem na ponta da língua tudo de bom que a barraca dela oferece, indo desde hortaliças, passando por ervas medicinais até os condimentos. E, quando se fala em plantio e comercialização, ela ressalta a importância de encurtar caminhos entre produtor e consumidor.

“É importante encurtar o caminho entre o produtor e o consumidor, eliminando o atravessador, diminuindo o custo, trazendo alimentos mais saudáveis e renda para o produtor”, destaca.

Clima diferenciado

Se, por um lado, comprar produtos é o principal motivo para as pessoas irem até as feiras, há várias razões secundárias que levam os consumidores até elas. O “clima”, as conversas, a troca de experiências, as lembranças do passado, entre outros, são algumas delas.

Diversas palavras ditas pelos consumidores dão o tom do que representa esses locais. A funcionária pública Lúcia Oliveira, de 59 anos, fala em “raridade”. Para ela, o local representa de tudo um pouco: ela conta que já fez amizade com os feirantes, já comprou mudas e já até colheu o que plantou. “A gente consegue comprar coisas de qualidade”, diz.

Já a professora aposentada Beatriz Furbino, de 75 anos, fala sobre segurança. Isso tendo em vista as formas de plantio dos produtos. “Sabemos que estão mais voltados para um cultivo ecológico”, afirma.

Concluindo sobre toda a importância das feiras, a psicóloga Joana Ladeira, de 41 anos, salienta que a cidade pede e precisa de momentos como os proporcionados por esses locais, em que o verde possa ocupar um espaço, inclusive, no centro de uma capital. “É muito legal frequentar a cidade com esse tipo de iniciativa”, finaliza.

Saiba mais sobre os cinco tipos de feiras de alimentos na capital

Feira da Agricultura Urbana

Comercializa alimentos saudáveis e típicos da cultura mineira, cultivados com os princípios da agroecologia. Entre eles estão hortifrutigranjeiros, ervas, folhosas, raízes, frutas e sementes.

Feira de Orgânicos

Vende cereais, frutas e hortaliças cultivados de acordo com os fundamentos da agricultura orgânica. O plantio é feito por produtores rurais da região metropolitana de Belo Horizonte e suas formas associativas.

Feira Modelo

Oferece as chamadas comidas de rua alinhadas à alimentação saudável, pratos árabes, sírios, massas, orgânicos processados e produtos artesanais.

Feira Livre

Conta com uma série de itens, como doces, peixes, laticínios, hortifrutigranjeiros e biscoitos.

Direto da Roça

Comercializa produtos da agricultura familiar e oferece itens como verduras, legumes e frango caipira.