“Puxa uma cadeira e coloca o meu pé na sua perna para ficar mais confortável para você. Para mim, é bom também pois alonga a perna e quanto mais alta, melhor para a circulação e inchaço”.

Essas instruções para uma massagem nos pés foram escritas no começo desta semana pelo professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cristiano Mauro Assis Gomes, de 47 anos. Ele é uma das vítimas da intoxicação de dietilenoglicol e está internado no hospital Biocor, em Belo Horizonte, desde 23 de dezembro, quando deu entrada com insuficiência renal. Em janeiro deste ano (2020), problemas neurológicos apareceram. 

A mensagem foi divulgada pela  mulher de Cristiano, Flávia Schayer. Segundo ela, o marido apresenta melhora significativa do quadro e já consegue desempenhar algumas funções, como escrever bilhetes. 

“Os pés se mexem e a perna ainda está fraca, mas está sendo exercitada. E ele já apresenta controle e sustentação do pescoço. Anteontem (segunda, 3) ele pediu um papel e caneta e começou a escrever.  Foi surpreendente!”, comemorou Flávia. 

A psicóloga comentou que o estado de saúde do marido ainda é grave, mas que ele já está em processo de sair da ventilação mecânica. 

“Tem feito a retirada da máquina e treinado a respiração somente com o oxigênio.  A pressão, que era de difícil controle, começa a se estabilizar.  Ele está hipertenso, mas a pressão não oscila igual era antes”, explicou. 

Agora, a esperança da família é que Cristiano recupere a capacidade de falar. 

“A fonoaudióloga iniciou o trabalho.  Estamos estimulando a face dele e a parte interna das bochechas e a deglutição da própria saliva”, contou Flávia. 

Intoxicação

Cristiano é um dos quatro casos em que há confirmação da intoxicação de dietilenoglicol. Outros 26 pacientes estão sob investigação, conforme o último boletim da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES). Seis pessoas já morreram, sendo um caso já confirmado e cinco sob investigação. 

A principal suspeita é que a intoxicação foi causada pelo consumo da cerveja Belorizontina, da marca mineira Backer. 

Laudos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) detectaram a presença da substância na água usada no processo da fabricação da cerveja e em 10 rótulos de 41 lotes da marca. 

Nessa terça-feira (4), a Backer vazou trechos do laudo pericial produzido pela Polícia Civil. O documento diz que a substância não foi encontrada na água, contrapondo assim o Mapa. A PC informou que não vai comentar sobre o resultado da perícia e que as investigações seguem sem data prevista para o encerramento do inquérito.