Um shopping, um parque ecológico, moradias populares, arquibancadas com capacidade para 30 mil pessoas e hangares que serviriam perfeitamente como quadras para as escolas de samba da elite do Carnaval de BH. Assim o aeroporto Carlos Prates, que até hoje gerava ansiedade e medo aos moradores de seu entorno, pode acabar se tornando um polo de natureza, cultura e diversão para a população da região Noroeste de Belo Horizonte. Pelo menos é o que sugere o projeto criado pelo arquiteto e urbanista Leonardo de Jesus da Silva, o Léo de Jesus.

Após o novo acidente com um avião, que atingiu duas casas no bairro Jardim Montanhês, no último fim de semana, a ideia do profissional e sambista, que já tem cerca de 10 anos, voltou a ganhar repercussão e agradou aos moradores, ouvidos na segunda-feira (13 de março) pela reportagem de O TEMPO

Jesus, que também é integrante da escola de samba Acadêmicos de Venda Nova, atual campeã do Carnaval da capital mineira, explica que o projeto inicial não seria no terreno do aeroporto. Entretanto, com os recorrentes acidentes e insatisfação da população, a Liga das Escolas de Samba fez a proposta de se criar esse projeto arquitetônico, que, após o anúncio de que o aeroporto seria fechado, alimentou a esperança dos envolvidos. 

“O sambódromo poderia abrigar diversas manifestações artísticas e esportivas, além da questão de um parque ecológico à disposição da população. Sem falar que o espaço poderia abarcar também as agremiações juninas da cidade e, ainda, abraçar outros eventos da cidade, como leilões, desfiles, feiras, e até mesmo shows privados”, sugere.

O arquiteto destaca ainda que o seu projeto chegou a ser apresentado à Belotur, em 2014, e sua construção, na Via 240, venceu a votação do Orçamento Participativo, porém, até hoje, nada saiu do papel.

Parte da estrutura seria aproveitada

A ideia da construção da "Cidade do Samba" de BH contaria com a facilidade de já existir a pista de aviação, que seria usada como “passarela” do sambódromo, e os hangares de aviação, que seriam de suma importância para as escolas de samba. Jesus destaca ainda que o projeto prevê a construção de um shopping no espaço, que poderia ser um facilitador para que o município desenvolva uma Parceria Público-Privada (PPP) para a obra. 

“O projeto prevê ainda duas grandes galerias de exposição, a chapelaria e um shopping, o que viabilizaria a implantação de uma PPP. Sem falar nos hangares, que a ideia é que sejam espaços cedidos às agremiações para produzir seus espetáculos, o que reduziria o custo altíssimo com locação e com o desgaste dos carros alegóricos, que muitas vezes ficam na chuva”, complementa. 

A reportagem de O TEMPO pocurou a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) para saber se a proposta de construção do sambódromo pode ser avaliada pelo município, porém o Executivo municipal destacou que a proposta existente já foi apresentada ao governo federal, que, nesta terça-feira (14) anunciou que o aeroporto será fechado no dia 1º de abril e repassado ao município. 

No dia do acidente, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, se manifestou dizendo que quer pedir a administração do espaço para “construção de moradias, parques, escolas, centro de saúde e toda a infraestrutura urbana necessária para a população”. 

Nessa segunda, o chefe do Executivo municipal se encontrou com o vice-presidente Geraldo Alckmin e, mais uma vez, falou sobre a proposta. “Não podemos mais permitir que acidentes assim aconteçam. Por isso sigo com a minha proposta de utilizar a área do aeroporto para a construção de moradias, parques, escolas, centro de saúde e toda a infraestrutura urbana necessária para a população”, disse o prefeito.

Entretanto, de acordo com o arquiteto e urbanista criador do projeto do sambódromo, sua ideia não seria um entrave para a execução da proposta municpal. "A gente aposta também que, juntamente a essa ideia de parque ecológico e de moradias, a gente possa construir algum equipamento público de referência para a cultura. O terreno é muito grande, daria para fazer as duas coisas. Poderia aliar a habitação, o parque e um equipamento é público voltado para a cultura, esporte e lazer, que é uma grande demanda hoje", argumentou Jesus. 

Ideia tem aprovação de vizinhos do aeroporto

Nas proximidades do local do acidente do último sábado, que deixou o piloto morto e sua filha gravemente ferida, a reportagem contou da proposta da construção de um sambódromo no local, e a ideia agradou aos moradores. 

A faxineira Maria José de Andrade Pereira, de 55 anos, disse que seria uma ótima opção, uma vez que o terreno estaria abandonado hoje em dia. “Tem muita dengue, escorpião, até cobra já achamos aqui. Lá virou um bota-fora de lixo, na parte do camping, então, se tiver essa proposta do sambódromo, vai ser bom que vai aproveitar a área. Mas tem que ser imediato”, protesta. 

O empresário Matheus Machado Condessa, de 33 anos, tem há dez anos uma empresa do setor têxtil nas proximidades do local do acidente. Para ele, o fim do aeroporto seria uma coisa coisa benéfica para a região. 

“Certamente para a região seria muito interessante, é uma região carente dessa parte cultural, então seria muito bom. Aumentaria o número de restaurantes e movimentaria o comércio local”, defendeu.