Depois de três anos seguidos com melhorias nos indicadores, a qualidade da água da lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, piorou. O índice, medido pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad), mostra que o lago está mais contaminado neste ano, confirmando a sensação de quem passa por lá ao sentir o mau cheiro e ver o tom esverdeado que tomou conta do cartão-postal nos últimos tempos.
Desde 2012, são avaliados pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), ligado à Semad, três pontos da água na lagoa: em frente à ilha do Amor, nas proximidades da igreja de São Francisco, conhecida como Igrejinha da Pampulha, e perto do vertedouro, que é a saída do reservatório.
No primeiro ponto de monitoramento, o indicador caiu de 49,7, em 2017, para 37,9, em 2018. O padrão faz com que o trecho tenha água classificada como ruim. Já nos outros dois, a situação piorou, mas é considerada média. Perto da igreja de São Francisco, o índice foi de 68,8, em 2017, para 56,4, neste ano. Já na saída do reservatório, ele passou de 66,5 para 62,6 no mesmo período. Só é considerado bom quando tem Índice de Qualidade da Água (IQA) acima de 70.
Segundo o analista ambiental do Igam Matheus Duarte Santos, para formular o IQA, são levados em conta vários fatores. A contaminação das águas por causa da presença de matérias orgânica e fecal, além de alguns sólidos e nutrientes, é um deles. Entram na análise, por exemplo, a quantidade de oxigênio e fosfato dissolvidos, a variação da temperatura e o nível de transparência da água.
Segundo a Semad, o principal motivo de depreciação da qualidade das águas da lagoa da Pampulha são os lançamentos de esgotos no reservatório e nos cursos d’água que deságuam no local.
Tratamento. A situação coincide com os seis meses em que o lago não recebe tratamento químico e acompanhamento da qualidade da água por causa do fim do contrato entre a prefeitura e o consórcio, que fez o serviço de março de 2016 a março deste ano.
A expectativa, segundo a Secretaria Municipal de Obras de Belo Horizonte, é que a renovação do contrato ocorra ainda nesta semana e que o tratamento seja retomado neste mês. Na última semana, a prefeitura publicou no “Diário Oficial do Município” (“DOM”) a decisão de contratação emergencial do mesmo consórcio, sem a necessidade de licitação.
A pasta justifica a queda da qualidade da água da lagoa da Pampulha com o fato de se tratar de um lago urbano, afetado por várias fontes poluidoras, como lavagem dos solos pelas chuvas, eventuais vazamentos de esgotamento sanitário e lançamento de efluentes domésticos e industriais.
Água poluída aumenta risco de doenças
Apesar de o tratamento químico da água da lagoa da Pampulha estar suspenso há seis meses, a poluição está mais perceptível só agora por causa do tempo seco. Segundo especialistas, esse é o momento em que a sujeira fica mais aparente na água.
“Basta você imaginar um copo de água com sal. Se mantivermos a mesma quantidade de sal e um volume menor de água, o líquido fica mais turvo. É a mesma lógica para esgoto em lago”, explica Diego Lara, biólogo e analista ambiental.
Doenças. O especialista afirma que, quando a água fica no nível em que está a da lagoa da Pampulha, o contato com ela é totalmente desaconselhável.
“Algumas pessoas insistem em pescar na lagoa, mesmo havendo uma proibição, e correm riscos reais de ter doenças transmitidas por parasitas presentes na água. Além disso, quem consumir esses peixes pode ter doenças gastrointestinais”, explicou Lara.
Patrimônio
Ameaça. Para especialistas, a recuperação da qualidade da água da lagoa da Pampulha é urgente para a manutenção do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, da Organização das Nações Unidas. “A qualidade ambiental é tão importante quanto o patrimônio edificado. Por isso, se a limpeza não ocorrer, estaremos, sim, com o título ameaçado”, afirma o arquiteto e urbanista Sérgio Myssior.
Unesco. Questionada, a Unesco não falou sobre a possibilidade de perda do título, apesar de ter colocado a recuperação da água como uma das recomendações.