Com o celular em mãos, fazendo uma transmissão ao vivo para outros parentes, a professora Fabrícia Alves, de 42 anos, estava nitidamente ansiosa para ver o sobrinho e o filho dele desembarcarem na saída internacional do Aeroporto de Confins, na tarde desta quarta-feira (19).
Os dois fazem parte do grupo de brasileiros que foram para os Estados Unidos sem ter visto para ficar no país e acabaram sendo deportados. “É uma angústia muito grande”, define Fabrícia Alves.
Inicialmente estava previsto que 93 pessoas estivessem no vôo. Entretanto, ao pousar, a BH Airport, empresa que administra o Aeroporto de Confins, informou que haviam apenas 17 pessoas. A empresa afirmou que não sabia explicar a diferença porque os vôos são organizados pelo governo norte-americano, que não disponibiliza a listagem de passageiros.
Esse foi o quinto avião fretado pelo governo norte-americano que chegou a Belo Horizonte, desde outubro de 2019, trazendo brasileiros deportados. O último havia chegado na última sexta-feira (14) e trouxe, de acordo com a BH Airport, 86 pessoas, sendo 40 crianças. No dia, a professora Fabrícia Alves até foi ao aeroporto para receber o eletricista Gilliard Machado e o filho dele, o estudante Erick Viana Nascimento, 15, mas eles não estavam no vôo.
Nesta quarta-feira, finalmente eles puderam se reencontrar. E dessa vez ela levou mais gente para a recepção: a esposa de Gilliard Machado, a dona de casa Luciana de Paula Viana e a filha do casal, Vitória, de oito anos. “A primeira coisa que eu falei foi que eu amo eles”, disse emocionada a pequena garotinha.
Assim que o marido apontou na porta do desembarque internacional, Luciana de Paula Viana começou a chorar e correu para abraçar o marido. “Nós não vamos separar mais, porque família é tudo. Eu tive receio. Porque na hora que falaram que só tinham 17 pessoas eu pensei: eles não vão vir de novo. Ele emagreceu 20 quilos”, conta.
Momentos difíceis
Assim como outros brasileiros deportados que chegaram em outro vôos, o eletricista Gilliard Machado relatou ter passado momentos difíceis após ele e o filho terem sido detidos pela imigração nos Estados Unidos. “Eu emagreci 20 quilos só passando fome e frio. Foi angustiante. É assim que eles tratam a gente lá. Eu não coloco os meus pés lá nunca mais”, pontua.
O mecânico de máquinas pesadas Ezequiel da Silva também foi deportado com a esposa e as duas filhas. Segundo ele, a mulher e a filha ficaram em tendas, enquanto ele, assim como outros homens, ficavam em uma cela superlotada. “Na cela ficavam 32 pessoas. Tinham pessoas até debaixo do vaso (sanitário) e tudo sendo filmado. Se quisesse usar o vaso tava tudo sendo filmado. A comida era fria. Quem chegava primeiro na cela, se tava vazia, dormia deitado. Se chegasse depois ficava em pé”, explica.
Além dos momentos complicados, o mecânica Ezequiel da Silva e a família ainda não sabem como vão fazer para voltar para casa. Eles moram em São Francisco do Guaporé, em Rondônia a cerca de 110 km da divisa com a Bolívia. No bolso, a família tem apenas U$$ 25. “Não sei como voltar. Vou ver se arrumo alguma carregadeira para arrumar por aí, faço um dinheirinho e volto pra minha terra”.
Os deportados relataram que ainda há muitos brasileiros detidos nos Estados Unidos, apesar disso, a BH Airport informou que ainda não há previsão para que novos vôos cheguem a Belo Horizonte