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Radar capaz de detectar chuva forte não emite mais alertas

Ao todo, 324 cidades da região metropolitana deixaram de receber os avisos preventivos

Por Luciene Câmara
Publicado em 02 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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O radar meteorológico instalado em Mateus Leme, na região metropolitana de Belo Horizonte, capaz de detectar temporais e chuvas de granizo com antecedência, não está emitindo alertas para as 324 cidades de sua área de abrangência, num raio de 200 km do eixo central. O monitoramento em tempo real poderia ter prevenido a população e evitado estragos durante os temporais que devastaram Caeté, Ribeirão das Neves e outras cidades do entorno nos últimos dias.

O equipamento começou a operar em 2012, com tecnologia de ponta vinda da Finlândia, ao custo de R$ 10,5 milhões, pagos pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O objetivo era justamente alertar as cidades, com pelo menos quatro horas de antecedência, sobre a ocorrências de chuvas fortes e formação de granizo, como ocorreu na última quarta-feira.

Porém, de acordo com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), órgão do governo de Minas responsável por operar a tecnologia, o monitoramento 24 horas foi suspenso “recentemente”, “situação que impede a identificação de eventos extremos com antecedência”.

O motivo da interrupção “momentânea”, segundo o órgão, são alterações na estrutura do Igam e na equipe de meteorologistas do Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Simge). “Houve uma redução no número de meteorologistas e analistas ambientais, que deixaram o Igam por razões pessoais”, disse o instituto, em nota.

Com isso, os alertas produzidos pelo monitoramento 24 horas não estão sendo enviados para a Defesa Civil Estadual nem para as Defesas Civis Municipais das 324 cidades cadastradas para receber os comunicados. “Não recebemos mais avisos desde o início deste período chuvoso, em outubro. Antes, os avisos chegavam com antecedência, a tempo de avisarmos as cidades e as populações mais vulneráveis”, afirmou um agente da Defesa Civil Estadual, que pediu para não ser identificado.

Caeté, por exemplo, onde 2.000 casas foram danificadas e 200 famílias ficaram desabrigadas na última quarta-feira, não recebeu nenhum aviso. “Quando vem aviso de chuva forte, conseguimos nos planejar e avisar a população, que toma mais cuidado de não parar o carro embaixo de árvores e proteger os telhados”, disse o secretário Municipal de Obras e Defesa Civil, Júlio César Batista.

Belo Horizonte é a única da área de abrangência do radar que emite alertas. Isso porque a Defesa Civil Municipal analisa as imagens que chegam do equipamento e faz seus avisos com até um dia de antecedência. (Com Aline Diniz)

Fim de vida

Risco. Velho e sem manutenção por falta de recursos, o supercomputador Tupã, que faz a previsão do tempo para todo o Brasil, pode parar e deixar o país sem o serviço a qualquer momento.

 

Site tem dados desatualizados 

O Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais (Simge), programa desenvolvido pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), publica diariamente em seu site (www.simge.mg.gov.br) a previsão do tempo para os próximos três dias e coloca avisos especiais quando tem previsão de ocorrência de chuvas mais fortes. No entanto, o último comunicado foi de chuva forte entre os dias 30 de outubro e 2 de novembro deste ano.

O próprio Igam admite que a informação divulgada no site é insuficiente para preparar os municípios. “Essa informação auxilia as Defesas Civis municipais em termos de expectativas de precipitações. São previsões que abordam a possibilidade de ocorrer certos eventos e intensidade, mas não tem a assertividade do monitoramento”, explicou, em nota.

O site do Simge deveria trazer, ainda, boletins diários com informações mais detalhadas, previsões para o dia seguinte, para as próximas 48 horas e para os sete dias seguintes. Mas o último documento foi publicado no dia 24 de março.

O Igam não deu uma previsão de quando a situação será regularizada, mas informou que é parceiro da Cemig na operação do radar e que os equipamentos estão funcionando normalmente, com “raras interrupções” por motivos de manutenção ou falta de energia, embora sem que os alertas cheguem à população.

O que diz a Cemig

Convênio. Sobre a falta de monitoramento constante no radar meteorológico, a companhia declarou que essa responsabilidade é do Igam, com o qual firmou convênio desde o início das operações do aparelho, em janeiro de 2012.

Energia. A respeito da falta de energia em vários lugares por conta da chuva dos últimos dias, a Cemig garante que não há cidades sem luz, apenas alguns pontos específicos de Ribeirão das Neves e Pedro Leopoldo, com poucos clientes desligados.

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