Desde que a greve dos metroviários foi desencadeada na última quinta-feira (25), em protesto contra o processo de privatização do metrô de Belo Horizonte, os canais de denúncias da prefeitura não param de registrar reclamações de superlotação nos ônibus. 

Segundo os dados da BHTrans, a quantidade excessiva de passageiros foi responsável por 22% das queixas registradas no dia 25. O dado supera a média de reclamações deste tipo em agosto, que foi de 20%. Em relação à semana anterior, o percentual de reclamações em função da superlotação representou 10,20%.

 

 

O reflexo dessa lotação já é sentida nos pontos e estações, onde os passageiros se acumulam em busca de uma solução para chegar nos compromissos. “Como o metrô está com horário reduzido, eu pensei em pegar ônibus para chegar na faculdade na hora. Mas o problema é que estava tudo muito cheio e eu ainda tive que esperar passar o próximo para poder entrar, de tão lotado”, disse o estudante Igor de Paula, de 23 anos, ao relatar a experiência para chegar à universidade onde estuda no Centro de Belo Horizonte nesta segunda-feira (29).

A linha que lidera as reclamações de lotação, de acordo com os dados abertos da BHTrans, é a 806 (Estação São Gabriel/Vista do Sol via Nazaré), com 93 reclamações deste tipo em agosto. A lista é seguida pela linha 62 (Estação Venda Nova/Savassi), com 79 queixas e a linha 5250 (Estação Pampulha / Betânia), com 57 queixas.   

Com o metrô operando em escala mínima, cerca de 100 mil usuários deixaram de ser atendidos nos horários corretos, segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Nesta segunda-feira, o intervalo entre as viagens é de 25 minutos, fora do horário de pico. Das 6h às 8h30 e das 16h30 às 19h, considerados os horários de maior movimento, a espera é de nove minutos.

"Serviços se complementam"

Para o professor Guilherme Leiva, do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG, é natural que o sistema de ônibus sinta o impacto da falta de ofertas no metrô, uma vez que o serviço de um depende, essencialmente, do outro.

“Existe uma integralidade entre os serviços de ônibus e metrô e, a partir do momento que um desses serviços deixa de ser ofertado, ou opera de forma reduzida, isso naturalmente compromete o serviço adjacente. Então isso vai trazer, principalmente nos horários de pico, um aumento no número de usuários do transporte coletivo”, avalia o professor.

Questionado sobre como a BHTrans deveria agir para reduzir os impactos da greve nos ônibus, Guilherme explicou que as mudanças feitas na operação do transporte público são complexas.

“Tudo depende dos rumos que essa greve vai tomar. Não é uma mudança simples e uma leitura rápida do sistema que vai avaliar e solucionar essa migração de usuários do metrô no transporte coletivo. Entendendo essa continuidade, aí sim é possível fazer uma leitura e propor alternativas. Essa organização é complexa pois você, principalmente durante os horários de pico, grande parte da frota já está comprometida com a prestação de serviço atual. Então a margem é limitada para atender o grande número de usuários vindos do metrô”, analisa.

Desde o mês passado, a operação dos ônibus em Belo Horizonte passou a ser subsidiada pela prefeitura, o que resultou em um aumento de 30% no número de viagens. Em contrapartida, as empresas de ônibus vão receber R$ 237,5 milhões até março do ano que vem. Até o momento, já foram pagos R$ 107,75 milhões, segundo dados da Superintendência de Mobilidade do Município de Belo Horizonte (SUMOB).

Procurada, a BHTrans informou que as equipes nas estações e no Centro Integrado de Operação de Belo Horizonte (COP-BH) verificam, avaliam e solicitam viagens extras, caso seja constatada a necessidade. A empresa não informou, no entanto, quantas dessas viagens foram solicitadas desde o começo da greve do metrô.

O Sindicato das Empresas de Ônibus de Belo Horizonte (Setra-BH) também foi procurado para comentar sobre a oferta de ônibus durante a greve dos metroviários, mas ainda não há retorno.