O pronto-socorro do Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Belo Horizonte, está com 60% a mais de pacientes do que a capacidade. O dado foi revelado pela diretora geral da unidade, Alzira de Oliveira, durante audiência pública realizada pela Comissão de Administração Pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (4). No encontro ainda foi debatida a situação financeira da unidade, cujo déficit mensal previsto é de mais de R$ 2 milhões.
“Somos um hospital que só atende urgência e emergência. Temos um grande volume de atendimentos. Amanhecemos nesta terça com 153 pacientes no pronto-socorro que foi planejado para ter 90 e, destes, 50 com necessidade de internação”, afirmou Alzira. A instituição 100% SUS atende cerca de 1,5 milhão de pessoas da região Norte de BH.
A demanda por atendimento é tanta que, segundo a diretora geral, alguns pacientes precisam ficar em macas aguardando vagas. “A superlotação é um grande problema. Precisamos rever a rede de urgência e emergência. Não dá, está muito sobrecarregado. Estamos 'matando' nossos funcionários. A sobrecarga é gigantesca no nosso pronto-socorro. Quando temos muitos pacientes nos corredores, nós abrimos macas extras e eles vão para a enfermaria”.
A média de atendimento diário é de 200 pacientes. Em 2023, até o mês de março, a média mensal chegou a 7.357 — 1.352 a mais que o mesmo período de 2022. Para a deputada federal Ana Pimentel (PT), a sobrecarga no Risoleta Neves tem explicação. “Os hospitais do interior não têm o aporte necessário para absorver as demandas [e eles acabam vindo para a capital mineira]. O que acontece em BH é reflexo do que temos no interior”, ponderou.
Hospital Risoleta Tolentino Neves em números
Resultados de 2022:
- 130 mil atendimentos - média mensal de 10.833
- 82,6 mil atendimentos de urgência/emergência
- 60,9 mil atendimentos no Pronto-Socorro
- 17,6 mil atendimentos na Maternidade
- 2,3 mil partos - cerca de 200 por mês
- 17 mil internações - 1.417 por mês
- 5,3 mil procedimentos no Bloco Cirúrgico
- 2,6 mil procedimentos no Bloco Obstétrico
Problemas financeiros
A administração do Risoleta Neves, conforme já noticiado por O TEMPO, vem enfrentando dificuldades financeiras e opera no vermelho. “O déficit previsto para 2023 é de R$ 2.176 milhões mensais. Existem departamentos do hospital que precisam passar por reformas, mas estão paralisados. Temos custo mensal com folha de pagamento que precisa ser respeitada e não sobra nada para as obras necessárias”, pontuou Lourdes Machado, presidente estadual do Conselho de Saúde.
Segundo ela, as verbas destinadas ao Risoleta Neves vêm do poder público, sendo 33% do Ministério da Saúde, 54% da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) e 13% da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Visando possibilitar o funcionamento dos hospitais 100% SUS da capital mineira, o secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, informou que acontecerá o aporte para que eles não tenham dívidas mensais e paguem as dívidas acumuladas ao longo dos anos. A informação havia sido antecipada a O TEMPO na série “Do ‘apagão’ de médicos ao caos na saúde”.
“O Ministério da Saúde, por determinação da ministra Nísia Trindade, fará aporte de recursos de forma a equilibrar totalmente a operação dos cinco hospitais (Santa Casa, Hospital São Francisco, Hospital Sofia Feldman, Hospital Universitário de Ciências Médicas e Hospital Risoleta Tolentino Neves). Esses hospitais são âncoras na atenção à saúde em BH. Não posso adiantar os números, pois será publicada uma portaria da ministra”, disse Magalhães.
O secretário complementou afirmando que o governo federal deseja reduzir o tempo de cirurgia e de consultas na rede pública. “Vamos alocar novos recursos de forma a aproximar da operação, vamos dizer assim, positiva, dos contratos de prestação dos serviços e ampliando o que é realizado”.