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São João del-Rei suspende aulas em escolas municipais após mortes de crianças

Objetivo é fazer uma desinfecção e limpeza generalizada nas instituições de ensino; suspensão começa nesta quarta-feira (25) e não tem data para retorno

Por José Vítor Camilo
Publicado em 24 de outubro de 2023 | 13:15
 
 
 
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A partir desta quarta-feira (25 de outubro) estarão suspensas, por tempo indeterminado, as aulas nas escolas municipais de São João del-Rei, cidade da região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais. A medida foi anunciada pela Prefeitura do município — de cerca de 90 mil habitantes — após mães realizarem um protesto na manhã desta terça (24). Três crianças  — uma de 3 e duas de 10 anos — morrerem depois de apresentarem dor de garganta supostamente causada por uma bactéria. O Executivo municipal realizou exames em uma paciente, no entanto, não há laudo relacionado aos outros casos. 

A suspensão das aulas têm o objetivo de promover uma "desinfecção e limpeza generalizada" em todas as instituições de ensino. Ainda não há uma previsão de quando as escolas serão reabertas. As mortes ocorreram nos últimos 30 dias.

Inicialmente, na terça o município chegou a divulgar que havia confirmado a contaminação pela bactéria Streptcoccus pyogenes, por meio de cultura, em uma paciente de 9 anos que sobreviveu e recebeu alta médica. Entretanto, já nesta quarta-feira (25), a Prefeitura divulgou uma errata alterando esta informação, informando então que, na verdade, os testes realizados pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) apontavam para a bactéria Streptococcus sp. alfa-hemolítico.

Por outro lado, no caso das três crianças que morreram com alguns sintomas de infecções bacterianas, até o momento não houve confirmação laboratorial para a doença. 

Entenda os casos 

De acordo com a Prefeitura de São João del-Rei, a primeira das mortes foi registrada no dia 24 de setembro, quando um menino de 10 anos foi levado para a Santa Casa da cidade com quadro séptico. Já no dia 8 de outubro, uma criança de 3 anos, moradora da cidade mineira, teve a morte confirmada no estado do Maranhão com sintomas como "insuficiência respiratória, hemorragia pulmonar e Infecção não especificada". O corpo da criança passa por necrópsia e a causa da morte ainda não foi confirmada.

Já na última segunda-feira (23) uma menina de 10 anos deu entrada na UPA da cidade, foi transferida para outro hospital, mas acabou morrendo de "disfunção de múltiplos órgãos como consequência de choque séptico".

Desde o primeiro caso, passaram a circular diversas mensagens nas redes sociais, que acabaram gerando pânico na população e levaram o município a adotar as medidas.

"Orientamos que as crianças que relatarem sintomas como dor de garganta, febre, lesões ou manchas cutâneas não compareçam às aulas e que os pais procurem a Unidade Básica de Saúde mais próxima de suas residências, pois nossos profissionais estão perfeitamente capacitados quanto à essas demandas e preparados para o atendimento, orientações e esclarecimento de dúvidas", disse o município.

Confira outras medidas de prevenção divulgadas pela cidade:

  • Higienização das mãos, uso do álcool 70%, separar para as crianças os utensílios de uso individual (copinho, garrafinhas, talheres, etc.), orientando o não compartilhamento dos mesmos com os coleguinhas;
  • Promover a consulta de todos os casos sintomáticos, bem como diagnóstico, isolamento e tratamento adequado e oportuno.
  • Informar e orientar sobre o risco de doença invasiva entre os contatos domiciliares de casos de escarlatina, enfatizar sobre a higienização apropriada das mãos, e a ventilação interna adequada como medidas de proteção adicionais.
  • Aos profissionais que atenderem pacientes com os sintomas acima mencionados, comunicar ao sistema de vigilância todas as formas incomuns e imprevistas de infeção por esse agente (formas invasivas, surtos).

Plantão pediátrico é demanda antiga

Moradora de São João del Rei e mãe de uma criança de 8 anos, Dani Muffato é uma das mães que participaram da manifestação em frente à prefeitura na manhã desta terça-feira. Ela destaca que o município enfrenta uma emergência sanitária com mortes de crianças sem ao menos contar com um plantão pediátrico em suas unidades de saúde.

Segundo ela, para conseguir uma consulta de emergência para uma criança na cidade é preciso pagar por uma clínica particular, já que nenhuma das unidades públicas ou até mesmo de planos de saúde conta com o plantão. "Já são quase 2 anos que lutamos por isso, e sem sucesso. Já conversamos na Santa Casa e eles admitem que precisa abrir o plantão, mas que falta pessoal", reclama a mulher.

A reportagem de O TEMPO procurou a Secretaria de Estado de Educação (SEE) e a Secretaria de Estado de Saúde (SES) para saber se as escolas estaduais seguirão funcionando normalmente e, também, se há registros de casos de morte pela bactéria em outros municípios do Estado. Até o momento, as pastas do Governo de Minas ainda não tinham se posicionado.

O Ministério da Saúde também foi procurado, e respondeu, nesta quarta-feira (25), informando que monitora a situação em contato direto com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, mas descartou, até o momento, a existência de evidências que comprovem surto ou risco à saúde da população de São João del-Rei.

"O Ministério da Saúde também acompanha as buscas de casos suspeitos, assim como as coletas de exames laboratoriais para diagnóstico. A pasta também realiza treinamentos com a rede assistencial do município, com o objetivo de orientar na detecção e no tratamento oportuno de casos suspeitos de infecção", finalizou o órgão de saúde federal.

Relembre o caso

Andreia Pereira Donato, de 43 anos, é uma das mães que fizeram uma manifestação nesta quarta-feira (24), em frente à Prefeitura de São João del Rei. A mulher afirma que tudo começou há pouco mais de um mês, quando um menino, de 11, passou mal na escola com dor de garganta e vômito.

Ele foi levado a Upa da cidade, onde o médico receitou analgésicos e antibiótico. No dia seguinte, a criança piorou e foi internada na Santa Casa da Cidade, onde morreu dias depois. “Logo depois, veio o caso de uma menina de 3 anos que morreu após ter os menos sintomas, ela teve ainda febre alta e marcas arroxeadas pelo corpo”, conta.

O último caso, segundo Andreia, ocorreu nesta segunda (23), quando uma menina de 10 anos morreu também com sintomas semelhantes. O enterro da criança está marcado para às 10h desta terça (24), no cemitério Nossa Senhora das Mercês.

De acordo com o município, a maioria dos pacientes passou por avaliação médica, na rede pública ou privada, e o quadro de saúde deles é estável. Diante da repercussão dos casos, a prefeitura esclareceu que vai divulgar, ainda nesta terça-feira (24 de outubro) uma nota técnica sobre todo o histórico ocorrido no município, bem como informações importantes e detalhadas sobre a bactéria, forma de contágio e medidas de segurança.

Atualizada às 22h26 do dia 25 de outubro de 2023

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