Prestes a se matricular para o curso de inglês oferecido pelo Centro de Extensão da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), um estudante negro denuncia ter sido submetido a uma sessão de espancamento com chutes, golpes e mata-leão, comandada por, pelo menos, quatro seguranças do campus Pampulha. As agressões aconteceram próximo ao horário de término das aulas do período da manhã, neste sábado (28) e, por isso, muitos alunos e também professores presenciaram a cena.
Com gritos sendo ouvidos das salas de aula, muitos deixaram as turmas para descobrir o que acontecia e tentar acudir o homem. Após intervenção, os seguranças o teriam deixado jogado no chão. Contudo, nas redes sociais, estudantes relataram que antes do término da confusão, os guardas agarraram o celular de um aluno que tentou filmar a agressão. O aparelho teria ficado destruído ao ser lançado pelos ares.
"Um dos guardas segurou ele (a vítima) por trás enquanto os outros davam chutes socos. Ele gritou pedindo socorro e várias pessoas foram ver o que estava acontecendo. Um amigo meu começou a filmar com o celular, mas um segurança deu um soco na mão dele e o celular foi completamente destruído", contou um professor que prefere não ser identificado.
No entanto, outra pessoa conseguiu registrar o final das agressões. Esse vídeo foi disponibilizado à reportagem e, nele, é possível assistir o momento em que dois seguranças tentam segurar o homem enquanto um terceiro aplica um mata-leão em seu pescoço.
Histórico
A quem presenciou as agressões, o suposto chefe da segurança teria dito que o homem negro "queria se passar por aluno para roubar outros alunos". No entanto, esta versão foi contestada por alguns estudantes, principalmente nas redes sociais. Há comentários de alunos sobre supostos comportamentos agressivos de funcionários da segurança mesmo em ocasiões anteriores.
"As pessoas ficaram bem assustadas. Não é a primeira vez que esses guardas tem comportamentos inadequados com pessoas negras que frequentam o campus, mas é a primeira em que agridem alguém", explica o professor.
"A gente já sabe como seria a situação se (o homem) fosse branco e não quero nem pensar no que aconteceria se ninguém tivesse descido lá", denunciou ainda outra aluna da universidade em um perfil na internet.
Outro lado
Após as agressões, responsáveis teriam registrado o acontecido em um livro de ofícios próprio da universidade. No entanto, procurada por e-mail e telefone, a UFMG informou que ainda não está apurando o caso.
A reportagem também entrou em contato com a TBI Seguranças, empresa terceirizada responsável pela segurança privada no campus Pampulha, através dos endereços de e-mail fornecidos no site da companhia. Ainda não houve retorno.
Registro policial
Algumas horas após as agressões, o homem compareceu à base comunitária móvel da Polícia Militar na região da Pampulha para registrar a violência.
Aos agentes, ele contou que seguia pela portaria da universidade em direção ao prédio da Faculdade de Letras, onde se matricularia no curso de inglês. Já na entrada, os seguranças o teriam questionado sobre o que ele faria por lá e se era estudante. Assim, a vítima teria se identificado e foi permitida sua entrada.
Segundo ele, durante o caminho, decidiu virar em direção à Faculdade de Música para beber água e, com isso, foi novamente abordado pelos guardas que o indagaram sobre a mudança de rumo e o fizeram voltar para o percurso original.
Durante o deslocamento, um dos funcionários teria dito que ele não era estudante e que estava ali apenas para roubar os alunos e outro segurança ainda teria completado, dizendo que o colocaria para fora. Nisso, começaram as agressões, como conta o homem, já na entrada da Faculdade de Letras.
Posicionamento e denúncia de racismo
O diretório acadêmico da Faculdade de Letras (gestão Bagagem) confirmou os fatos narrados e garantiu, em uma postagem no seu perfil oficial no Facebook, que foi feito um relatório de ocorrência com a segurança interna do campus. Segundo o órgão, o caso será acompanhado e os alunos podem receber atualizações por meio da página oficial.
Atualização: A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) informou, nesta segunda-feira (30), que está apurando o caso.
Atualizada em 30/09/2019, às 9h46.