Basta começar a chover para a enfermeira Soraya de Jesus, 54, ficar atenta a qualquer mudança no terreno onde vive, no bairro Olaria, na região do Barreiro, em Belo Horizonte. “A qualquer momento pode acontecer (um deslizamento), nem dormimos direito”, diz a mulher, que mora com outros cinco adultos e duas crianças em um imóvel construído sobre uma encosta. “Por enquanto, foi só o barranco que caiu. Não queremos que o pior aconteça, mas não tenho para onde ir”, diz a enfermeira, que aguarda a ajuda da Defesa Civil municipal para colocar uma lona no terreno.
A chuva constante que atinge a capital desde a última quarta-feira coloca em estado de atenção toda a população que vive em áreas de risco geológico. Nesses locais, o encharcamento do solo pode instabilizar o terreno. Segundo a Defesa Civil de BH, os primeiros sinais de que algo está errado podem aparecer em forma de fendas, depressões no terreno, rachaduras em paredes e surgimento de minas d’água.
A situação se torna especialmente preocupante em uma cidade montanhosa como Belo Horizonte, onde, apenas em vilas e favelas, foram mapeadas 1.100 edificações erguidas em terrenos ameaçados pela possibilidade de deslizamentos, segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel).
Os imóveis em situação mais crítica, segundo o levantamento, ficam em aglomerados dos bairros Serra, na região Centro-Sul da capital, e Taquaril, na região Leste. No entanto, o tenente do Corpo de Bombeiros Douglas Constantino alerta que é preciso atenção a todos os pontos da cidade. “O risco está em todo lugar. As áreas ameaçadas estão distribuídas, e temos muitos morros e encostas na cidade toda”, destacou.
Segundo o tenente, a qualquer sinal de instabilidade do terreno, é preciso acionar a Defesa Civil, por meio do telefone 199. Ao ser acionado, o órgão deve fazer uma vistoria no imóvel,. Só depois disso, é possível definir se é preciso que os moradores abandonem a área. Segundo a prefeitura, a Urbel também pode ser acionada pelo telefone 3277-6409.
Alerta. A previsão de temporais pelo menos até amanhã na capital aumenta a preocupação de órgãos como a Defesa Civil e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que emitiram alertas para pancadas de chuva, possibilidade de alagamentos e de risco geológico.
Em nota, a prefeitura informou que atua nas vilas e favelas fazendo vistorias e obras. A PBH afirmou ainda que coloca lonas nas encostas, isola cômodos, faz obras emergenciais e remoções preventivas, temporárias e definitivas.
Pontos de alagamento aumentam
Pouco mais de 10 anos após a Prefeitura de BH mapear 80 pontos com risco de alagamento na capital, os números indicam que a situação só piorou. Novo levantamento divulgado em outubro de 2019, mês que marcou o início do atual período chuvoso, revelou que a cidade já soma 98 pontos com possibilidade de alagamentos. Somente a região de Venda Nova tem 20 áreas ameaçadas.
Ontem, a população enfrentou inundações em ao menos dois pontos da cidade. Na região Oeste, a avenida Francisco Sá se alagou próximo ao cruzamento com a avenida Amazonas. Já no bairro Carlos Prates, na região Noroeste de BH, a marginal que dá acesso à avenida dos Andradas foi tomada pela água.
Em nota, a prefeitura informou que atua para “ avançar na precisão da emissão dos alertas de chuva e de riscos de inundação, além da adoção de medidas preventivas e protetivas mais eficazes”.