Em falta

SUS em BH: déficit de 500 médicos desafia a saúde e a paciência

Pais se desesperam com a falta de atenção e partem para via-crúcis

Por Pedro Nascimento
Publicado em 05 de fevereiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Quem depende da rede pública de saúde em Belo Horizonte precisa exercitar a paciência e contar com a sorte na hora de achar um médico nos centros de saúde e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de todas as nove regionais da capital. O SUS municipal tem aproximadamente 3.000 médicos, entre efetivos e contratados administrativamente, informa a PBH, e 500 vagas em aberto para várias especialidades, incluindo infectologistas, ginecologistas e, em especial, pediatras. 

Para o médico especializado na saúde de crianças, até dezembro do ano passado, havia 31 vagas não preenchidas. Uma delas no Centro de Saúde Marco Antônio do Menezes, no bairro Sagrada Família, na região Leste de BH, gerando transtorno e frustração para os pais. 

A dona de casa Daiany Pereira Dias, 33, reclama que a filha, de 3 anos, ficou sem atendimento de urgência após apresentar sintomas gripais. “Ela estava sendo medicada com um xarope que o farmacêutico me indicou, mas até então essa foi a minha única orientação. No posto de saúde eles só falaram que não teria como atender e me mandaram procurar outra unidade, longe de casa”. 

O técnico administrativo Moisés Rodrigues Ferreira, 24, também passou pelo mesmo problema no posto do Sagrada Família. Por conta disso, o filho de 7 meses ficou sem acesso ao pediatra na rede pública. “Eles orientam a procurar atendimento em outros postos, mas, chegando lá, eles não atenderam meu filho por causa do problema no cadastro. Nosso posto é aqui, no Sagrada Família, e as consultas periódicas só podem ser feitas aqui”, detalha Moisés Ferreira.

“Há meses a gente não consegue marcar exames. Em caso de urgência, eles passam até para o clínico geral, mas aí depende de desistência. Tem sido difícil”, desabafa o pai.

Realidade

Para o secretário geral do Conselho Municipal de Saúde, Bruno Pedralva, a crise gerada pela falta de médicos na rede pública é grave e tem raízes profundas. Segundo ele, as condições de trabalho, incluindo salários e até a própria segurança dos profissionais, têm afastado cada vez mais profissionais do serviço público.

“Outros serviços em geral oferecem salários melhores. Além disso, a gente avalia que ocorreu, em alguns lugares, um efeito manada. Na medida em que a escala de um plantão na UPA está com pouco médico, ou um centro de saúde conta com poucos profissionais, os que estão indo trabalhar se colocam em risco e acabam abandonando o trabalho”, avalia. O conselho cobra a realização de concursos para médicos e outros profissionais da saúde.

Vereador questiona distribuição

Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, a situação é acompanhada pela Comissão de Saúde e Saneamento. Em novembro do ano passado, o vereador Wilsinho da Tabu (PP), que é membro suplente da comissão, protocolou requerimentos de informações endereçados à Prefeitura de Belo Horizonte questionando como é feita a distribuição dos pediatras nos centros de saúde e solicitando a recomposição dos quadros.

“Temos feito visitas a unidades básicas de saúde e verificamos a falta de médicos pediatras, o que coloca em dificuldade mães que precisam levar seus filhos”, disse Tabu.
 

PBH à espera de currículos

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) confirmou ontem, por meio de nota, a existência de quase 500 vagas para médicos, argumentando que os números mudam diariamente. “A distribuição de pessoal na Rede SUS-BH é muito dinâmica e muda diariamente em virtude dos desligamentos, demandas temporárias e movimentações internas”.

Para continuar preenchendo as vagas, que são para contratação imediata, o Executivo pede que os interessados se cadastrem no banco de currículos disponível no site oficial da PBH.

 

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