Mesmo um olhar displicente seria capaz de perceber: um céu cinza e uma linha do horizonte enevoada ganharam a paisagem da capital mineira nos últimos dias. Houve até quem associasse o fenômeno à nuvem de fumaça provocada por queimadas recordes em regiões amazônicas – e que fizeram o dia parecer noite em São Paulo, na última segunda-feira. Por aqui, todavia, a explicação é outra.

De acordo com o meteorologista Claudemir de Azevedo, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), tantos tons de cinza sobre a capital mineira são decorrentes da passagem de uma frente fria pelo litoral da região Sudeste somada à poluição do ar e ao tempo seco. 

O clima, de fato, tem sido marcado por certa aridez e temperaturas altas. Ontem, por exemplo, o Inmet registrou umidade relativa do ar em 35%, e os termômetros chegaram a marcar 29º C. O dado preocupa uma vez que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera críticos índices de umidade abaixo de 30%. Taxas a partir de 60% são apontadas como ideais.

Mas não pense que as queimadas deixaram de contribuir para esse cenário. “Nessa época do ano, é comum o aumento de focos de queimadas, o que piora a qualidade do ar”, aponta o especialista.

Previsão. Até o fim desta semana, a expectativa é que a umidade média siga em 35%, mas deve haver uma pequena queda de temperatura – indo para máxima de 27º C hoje e de 25º C até domingo na capital.

“É comum, nessa época do ano, que o tempo fique mais seco”, aponta o meteorologista, situando que o cenário começa a mudar só no mês que vem quando começam a acontecer as primeiras pancadas de chuva. Entretanto, “não há previsão de chuva para o princípio do mês que vem ainda. Até lá vamos conviver com o período de seca”, expõe.

Para lidar com esse clima, vale um cuidado especial aos hábitos diários. Hidratar-se constantemente é conselho que vale para o ano todo, mas merece atenção redobrada nesse período, como sugere Rodrigo Lima, presidente da Sociedade Mineira de Pneumologia e Cirurgia Torácica. 

O médico também recomenda o uso de umidificadores de ar. E, em termos coletivos, lembra da importância de campanhas de conscientização contra as queimadas.

Clima está propício para as infecções

“Além do tempo seco, têm as queimadas comuns, que aumentam a poluição do ar. Para quem tem doença respiratória, isso é horrível”, observa Rodrigo Lima. Ele lembra que essa aridez leva à predisposição de infecções por vias aéreas. 

Lima frisa que esse clima é especialmente problemático para quem sofre com problemas alérgicos. É o caso da estudante de direito Juliana Costa, 26. “Eu tenho passado muito mal nos últimos dias com rinite e sinusite. Estou sentindo o ar mais seco e quente, dificuldade para respirar e até dormir”, reclama.

Recorde. Entre os dias 14 e 15 de agosto do ano passado, BH registrou o índice mais baixo de umidade relativa do ar: 10%. Uma taxa que é similar a de locais desertificados, como o Saara, na África.