Auxílio Emergencial

Triângulo, Sul e Zona da Mata são regiões mais beneficiadas do interior

Só 32% dos benefícios foram destinados à região metropolitana; veja a população favorecida na sua cidade

Por Cristiano Martins*
Publicado em 07 de setembro de 2020 | 11:00
 
 
 
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Os municípios mais dependentes do Auxílio Emergencial pago pelo governo federal durante a pandemia estão concentrados nas áreas mais pobres de Minas Gerais. Curiosamente, porém, as regiões ricas do Estado foram as mais favorecidas pelo novo programa em termos proporcionais.

Enquanto 6% dos habitantes receberam o benefício no Norte de Minas em julho (média de R$ 37,80 por pessoa), esse índice chegou a 9,6% na região Sul do Estado (R$ 61,20), por exemplo.

Esses dados apontam para o aumento das dificuldades financeiras entre as famílias de regiões mais produtivas, onde um maior número de pessoas economicamente ativas passou a se encaixar nos critérios sociais do governo devido à crise agravada pelo coronavírus.

 

 

Segundo os últimos dados do Ministério da Cidadania e da Controladoria Geral da União (CGU), Minas registrava em julho um total de 3,9 milhões de empregos formais, enquanto 1,8 milhão de desocupados, informais ou autônomos receberam o benefício.

Uma análise realizado por O TEMPO revelou que 50% dos contratos em regime CLT se concentram em apenas 14 grandes cidades. A outra metade dos empregos está espalhada pelo restante do Estado, onde vivem dois terços da população. Desta forma, metade dos municípios registram mais beneficiários do que empregados.

São João das Missões, no Norte de Minas, é o exemplo mais impressionante dessa realidade. Apenas 47 moradores possuíam um trabalho com carteira assinada na cidade de 13 mil habitantes, enquanto 639 receberam o pagamento do governo federal.

De fato, a maioria dos municípios com mais beneficiários que empregados encontra-se no Norte de Minas e nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, áreas historicamente mais fragilizadas do Estado.

Por outro lado, as regiões mais carentes foram as menos beneficiadas pelo novo programa de transferência de renda. Isso se deve principalmente ao fato de uma maior parcela já estar incluída no Bolsa Família e demais programas sociais anteriormente à pandemia, numa comparação com as áreas mais ricas.

Leia mais: Auxílio Emergencial supera emprego em metade das cidades de Minas

 

 

Fortuna na pandemia

Apesar de alarmantes em relação ao mercado laboral, os dados reforçam a importância do Auxílio para os negócios nos municípios de pequeno porte. As cidades com menos de 20 mil habitantes receberam, em média, uma injeção direta de R$ 410 mil somente em julho.

Um bom exemplo é Fortuna de Minas, na região Central. “É triste falar isso, pelas circunstâncias tão trágicas, mas não há como negar que, do ponto de vista econômico, a pandemia foi positiva para nossa cidade”, avalia o prefeito Dr. Patrick Diniz – o município de 2,9 mil habitantes não registra vítimas da Covid-19 até este momento.

Profissional da medicina, Diniz conta que as barreiras sanitárias impostas ainda em março levaram ao aumento do consumo interno, pois a população tinha o hábito de fazer compras em cidades vizinhas como Sete Lagoas. Além disso, a enorme maioria dos trabalhadores já estava no setor público ou na informalidade, em especial nos sítios e fazendas da região, praticamente em nada afetados pela crise.

Fortuna de Minas tinha 185 empregos em regime CLT antes da quarentena e viu esse número aumentar para 207 em julho (12%). Simultaneamente, 379 moradores contaram com o benefício do governo, o que representa 12,9% da população recebendo uma renda extra.

“A pizzaria que tinha um motoboy agora tem cinco. Até material de construção está em falta, porque tem gente aproveitando esse dinheirinho a mais para fazer uma pequena reforma, pintar uma parede…”, relata o prefeito.

 

 

'Estaríamos passando fome'

O impacto do Auxílio varia de acordo com o perfil econômico de cada região do Estado, ressalta o economista Glauber Silveira, professor do Ibmec. “Minas Gerais tem dimensões territoriais muito grandes, então há muita discrepância. Nos locais com menor atividade industrial e menor atividade de serviços, onde há um menor acesso a renda, existe uma maior dificuldade com relação à obtenção de trabalho”, destaca.

Para o especialista, o benefício é uma amostra de como a renda básica influencia as regiões mais carentes. “O Auxílio foi um ensaio de transferência direta do governo federal para a população. A ampliação do programa provocaria um crescimento econômico de forma mais descentralizada, com aumento da circulação de mercadorias e dos postos de trabalho para atender a essas pessoas que têm acesso a uma certa renda", explica.

A manicure Edina Maria da Silva, 57, mora em Ibirité, onde o número de beneficiários supera o de empregados em mais de 4 mil pessoas. Para ela, as parcelas de R$ 600 foram essenciais até agora.

“Antes da pandemia já não estava muito bom. E complicou, porque eu trabalho em casa, sou hipertensa e minha mãe também é do grupo de risco. Então, eu trabalho pouquíssimo. Nesse período, eu junto o pouco que ganho com o da minha mãe, que é pensionista. Se não, estaríamos, como se diz, passando fome", afirma a manicure.

Situação parecida viveu o motorista Antônio Ângelo Pereira, 56, morador de Ribeirão das Neves. “Se não é o dinheiro que a minha mulher pega junto comigo, eu não sei o que seria de nós. Quando veio a pandemia, fiquei pensando no que eu ia fazer da vida dali para a frente”, lembra. Ele conta que trabalhava como autônomo e chegava a faturar R$ 3 mil por mês, mas atualmente está desempregado, assim como a esposa, que é diarista.

*Colaboraram Rômulo Almeida e Bruno Menezes

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