Estudantes apresentam melhores resultados acadêmicos quando têm aulas com professores que atuam em uma única escola. A conclusão é de um estudo que analisou os dados do Pisa, uma das principais avaliações da educação básica do mundo.

No Brasil, 20% dos professores dão aula para turmas de anos finais do ensino fundamental (do 5º ao 9º ano) trabalham em duas ou mais escolas. A proporção brasileira é quatro vezes a média dos países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que é de 5%.

A conclusão consta no relatório "Perspectivas internacionais para o fortalecimento dos Anos Finais do Ensino Fundamental: diálogos com foco em políticas para o Brasil", organizado pelo Itaú Social em parceria com a OCDE.

Segundo a análise, estudar em uma escola em que ao menos 80% dos professores atuam exclusivamente naquela unidade foi associado a um aumento de 10 pontos no desempenho em matemática dos estudantes, depois de levar em conta o perfil socioeconômico dos alunos e escolas.

Os dados são da última edição do Pisa, aplicado em 2022 e que teve os resultados divulgados em 2023. Naquele ano, a prova focou a avaliação na área de matemática, o que significa que os estudantes responderam a mais questões dessa disciplina.

"Com certeza, esse efeito deve ser verificado também nas demais disciplinas. Quando o professor dá aula em apenas uma escola, ele consegue se dedicar mais aos alunos, saber quais são suas necessidades, preparar uma aula mais adequada para cada turma", diz Sonia Dias, gerente do Itaú Social.

Dados mais recentes do Censo Escolar mostram que a necessidade de encarar jornadas múltiplas de trabalho se acentuou no Brasil. Em 2023, saltou para 34,4% o índice de professores de ensino fundamental que atuam em mais de uma escola (seja dentro ou fora da mesma rede pública e em colégios particulares).

Sonia destaca que o trabalho em diferentes instituições de ensino e múltiplas turmas dificulta a formação de vínculos dos docentes com os alunos e prejudica a disponibilidade para planejar atividades.

"A dificuldade de criar vínculo ainda mais prejudicial para uma etapa tão sensível quanto a dos anos finais do ensino fundamental, quando os alunos estão em um processo de transição. Eles saem de uma etapa que tinham apenas um professor para outra que vão ter seis, sete professores diferentes."

"Soma-se a isso a transição de vida que estão vivendo, eles estão saindo da infância para entrar na adolescência. Eles passam por mudanças muito profundas, físicas, sociais e de aprendizado. Por isso, seria importante que tivessem professores com quem pudesse ter mais conexão", diz Sonia.

Outros dados da OCDE já haviam mostrado que os professores brasileiros trabalham mais e em piores condições do que em outros países, e ainda recebem salários menores.

O relatório Education at a Glance, por exemplo, mostrou que os professores brasileiros dos anos finais do ensino fundamental têm carga de 800 horas letivas ao ano, enquanto a média da OCDE é de 706 horas anuais.

Eles também têm uma média de 22 alunos por turma. A média da OCDE é de 13 alunos por sala.

O documento mostrou ainda que, no Brasil, os professores dessa etapa recebem, em média, US$ 23.018 por ano (equivalente a cerca de R$ 128 mil), pouco mais que a metade da média dos 38 países da OCDE, que é de US$ 43.058 ao ano (cerca de R$ 237 mil).

"As condições de trabalho dos professores têm impacto significativo no aprendizado dos alunos. Se queremos ter uma educação de qualidade, isso precisa mudar. Uma das formas de garantir melhores condições, é com a escola de tempo integral. Nesse modelo, os professores podem se dedicar exclusivamente e os alunos têm mais tempo para estudar e desenvolver outras habilidades."