No Campeonato Brasileiro A1 deste ano, equivalente à Série A no masculino, o Cruzeiro alcançou feito inédito, ao finalizar a fase classificatória em primeiro lugar geral. No domingo (10), a equipe comandada pelo técnico Jonas Urias enfrentará o Red Bull Bragantino, às 10h30, no Canindé, no duelo de ida das quartas de final da competição. A volta será em 17 de agosto, às 10h30, com expectativa de Independência lotado.
Pela Copa do Brasil, o time estrelado encara o Corinthians, nesta quarta-feira (6), às 16h30, no estádio Castor Cifuentes. Quem levar a melhor no embate em Nova Lima garantirá classificação às oitavas de final do torneio.
Além do bom desempenho na elite nacional, as garotas da Raposa atingiram outra marca histórica neste ano. Disputando o Brasileirão A1 pela sexta vez, as Cabulosas têm atraído, ano a ano, mais público em seus confrontos como mandante.
Em 2025, nas oito partidas em casa, levou 6.087 pessoas aos duelos, com média de 760 por jogo. Ano passado, 5.719 torcedores assistiram às partidas do time estrelado. Em 2023, foram 2.701 espectadores e, em 2022, 1.654. As temporadas 2020 e 2021 não estão contempladas neste levantamento, em função da pandemia da Covid-19, quando as partidas ocorreram com portões fechados.
Comparado aos confrontos do time masculino, o público pode ser considerado ínfimo. No Brasileiro passado, por exemplo, o Cabuloso teve 540.511 torcedores nos compromissos em casa, com média de 30.028 por partida. No entanto, Bárbara Fonseca, gerente executiva cruzeirense, opta por analisar o crescimento da torcida do feminino sob outro outro prisma.
“Pode-se pensar que, em números absolutos, isso (o público) ainda não é tão potente. Para nós, considerando-se todos os desafios que enfrentamos, é um resultado que merece ser levado em conta e tratado, sim, com muito carinho”, enaltece a dirigente estrelada.
Cruzeiro x Corinthians na disputa pelo maior público
As 6.087 pessoas que foram aos jogos do Cruzeiro como mandante na primeira fase deste Brasileiro A1 colocaram o time como o segundo maior público entre os 16 clubes participantes. Conforme o boletim financeiro das partidas divulgado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), quem mais vendeu ingresso para os seus jogos foi o Corinthians: 48.872 bilhetes, média de 6.109 por evento. Mas… “Venda de ingressos é bem diferente de público presente”, provoca, em tom bem-humorado, a médica cruzeirense Natália Simões, de 30 anos.
Presença assídua nos jogos das Cabulosas em casa e, quando a ‘agenda permite’, fora do Estado, residente no bairro Ouro Preto, na região da Pampulha, Natália explica a divergência com o Timão.
“O Corinthians sempre vende todos os ingressos disponíveis porque, ao adquirir o bilhete, o torcedor que participa do programa de sócio acumula pontos. No entanto, a maioria das pessoas não vai aos jogos, mesmo tendo comprado o ingresso. Isso, inclusive, é uma reclamação constante da torcida deles, porque tem gente que quer ir, mas não pode porque, quem comprou, não vai”, esclarece Natália.
Para tentar desfazer o embaraço, a torcida corintiana começou a organizar um esquema de doação, por meio de perfis no Instagram. A cada jogo, as páginas Fiel Fazendinha e Portal Corinthians Feminino promovem a interação entre portadores de ingressos que não pretendem ir à partida, e aqueles sem entrada, mas com intenção de comparecer ao estádio.
“Para sanar esse problema, que é algo sério para o futebol feminino do Corinthians, o coletivo Fiel Fazendinha passou a fazer campanha de doação entre torcedores que compraram só para pontuar no programa de sócio e aqueles que não poderiam ir, porque os bilhetes estavam esgotados”, reforça a torcedora corintiana, Letícia Lázaro, administradora do perfil Planeta Futebol Feminino.
A situação criou um paradoxo na avaliação da torcedora do time paulista. “É positivo porque o Corinthians tem uma renda muito boa em todos os jogos do feminino, sempre positiva. Em contrapartida, criou-se um problema anímico, porque ter o estádio vazio é muito ruim. Ainda mais se tratando de um clube que costuma ter um público legal. Com isso, o número de ingressos vendidos não corresponde ao de público no estádio”, pondera Letícia.
A divergência fez com que cruzeirenses se unissem para desmistificar o recorde de presença das corintianas nos estádios.
“Em todos os jogos delas (Corinthians), anunciam o público presente pelo alto-falante do estádio. Fizemos o levantamento de público dos dois times, por existir a rivalidade, e perdemos por cerca de cem torcedores. As páginas que cobrem o futebol feminino do Corinthians também têm esse levantamento”, gaba-se a cruzeirense Natália.
Procurado para abordar o assunto, o Corinthians não retornou o contato.
Rivalidade à parte entre cruzeirenses e corintianas, Bárbara Fonseca reconhece a força do Timão em campo, considerado o maior campeão da modalidade na América do Sul, e nas arquibancadas - com cinco títulos de Copa Libertadores, seis brasileiros, uma Copa do Brasil e quatro paulistas.
“O Corinthians construiu isso de maneira muito bacana, a torcida comprou muito a ideia. Para fazer o que eles fazem atualmente vai demorar um pouquinho”, admite a gerente executiva das Cabulosas.
Em contrapartida, ela aponta um aspecto que não deixa a torcida azul para trás. “Deixando de lado o aspecto quantitativo, a qualidade do que a torcida do Cruzeiro faz, chama muita atenção, principalmente nos jogos em casa. A qualidade dos poucos que vão, porque ainda são poucos, merece toda a minha menção carinhosa”, enaltece Bárbara.
Faltou um ponto para as Spartanas
O América foi o outro representante mineiro na primeira fase do Brasileirão A1 e ficou no ‘quase’. Terminou a etapa classificatória em nono lugar, com 19 pontos, um a menos do que o Bragantino, último time a garantir vaga nas quartas de final. Contudo, disputa nesta quinta-feira (7), vaga nas oitavas da Copa do Brasil, contra o Santos, às 15h, no Independência.
Pela segunda vez disputando a elite nacional, as Spartanas levaram 1.208 pessoas em seus seis jogos em casa, média de 201 presentes por rodada. O duelo frente à Ferroviária também foi como mandante, mas com portões fechados. Isso porque a Arena Frimisa, em Santa Luzia, não tinha laudos de segurança para receber público.
Em 2024, na estreia no Brasileiro A1, a média de público foi semelhante à desta temporada: 219 torcedores por jogo. Contudo, o total foi um pouco superior, 1.534 pessoas, porque os sete confrontos contaram com torcida.
O Coelho foi procurado para comentar questões como público nos jogos femininos, desafios para atrair mais torcedores, mas não retornou até a publicação desta reportagem, embora a assessoria das Spartanas tenha se comprometido a enviar as respostas.
Renascimento das Vingadoras
No Brasileiro A1 do ano passado, o Atlético foi rebaixado com três rodadas de antecedência. Queda provocada por uma campanha vexatória. Em 15 jogos, perdeu 14 e empatou um. À época, Rubens Menin, um dos donos do clube, admitiu: “Desleixamos um pouco com o futebol feminino, mas já estamos tentando encaminhar isso daqui para frente.”
As Vingadoras demonstram ter encontrado o melhor caminho. Na disputa do Brasileiro A2, a segundona do futebol feminino, as alvinegras garantiram o acesso e sonham com o título para coroar a campanha virtuosa. A trajetória bem-sucedida teve um capítulo histórico, na ida das quartas de final, contra o Vitória. Na ocasião, o Galo feminino atuou pela primeira vez na Arena MRV e venceu por 1 a 0 com gol de Geysna.
O duelo registrou público de 2.906 pessoas, sendo o recorde do time na temporada. Até então, apenas 534 torcedores haviam comparecido, ao todo, em quatro partidas como mandante.
“Foi um dia histórico para todos nós e uma grande oportunidade para que muitos torcedores tivessem o primeiro contato com a nossa equipe feminina. Quem sabe, a partir daí, conseguimos aumentar o público habitual que acompanha as partidas?”, indaga Ricardo Guedes, gestor do futebol feminino atleticano.