Belo Horizonte já registrou 5.195 casos confirmados de coronavírus, segundo dados da prefeitura divulgados nesta sexta-feira (26). Porém, o número de infectados, na realidade, pode ser superior a 100 mil - é o que indica o projeto que faz a análise de amostras do esgoto da capital e de Contagem, na região metropolitana.
De acordo com o boletim temático, as estimativas da população infectada pela Covid-19 foram realizadas com base nas concentrações virais presentes nas amostras, determinadas em laboratório pela técnica de RT-qPCR. "As estimativas de população infectada pelo novo coronavírus em Belo Horizonte, a partir do monitoramento das concentrações virais quantificadas no esgoto afluente às ETEs Arrudas e Onça, mostram-se significativamente superiores aos casos confirmados acumulados de Covid-19 registrados nos boletins epidemiológicos da Prefeitura de Belo Horizonte", consta.
Isolamento
Esse estudo também destaca a importência do isolamento social em relação ao combate à doença. "Na semana epidemiológica 22, quando o número estimado de infectados era de cerca de 20 mil pessoas, houve flexibilização das medidas de distanciamento social em Belo Horizonte, que incluiu a reabertura de salões de beleza, shoppings populares e comércios varejistas. Duas semanas depois, na semana epidemiológica 24, o número estimado de pessoas infectadas com base no monitoramento do esgoto mais que dobrou, passando para cerca de 50 mil pessoas."
Kalil recua em reabertura e apenas serviços essenciais de BH vão poder funcionar
De acordo com o estudo, essa discrepância entre os números estimados e os dados oficiais da PBH pode ocorrer por dois fatores: a baixa testagem da população e a grande quantidade de pessoas assintomáticas.
Para saber mais informações sobre essas dados, bem como os bairros que ele abrange, clique AQUI.
Projeto
O projeto-piloto Monitoramento COVID Esgotos é realizado em 24 pontos de coleta no sistema de esgotamento sanitário de Belo Horizonte e Contagem pela Agência Nacional de Águas (ANA) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Estações Sustentáveis de Tratamento de Esgoto (INCT ETEs Sustentáveis/UFMG). A ação é realizada em parceria com o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM), Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
Trabalhos em campo
O trabalho é desenvolvido pelos professores Carlos Chernicharo, César Mota e Juliana Araújo, do INCT, baseado em estudos recém-publicados pela revista Lancet Gastroenterol Hepatol. Um levantamento realizado em Amsterdã, na Holanda, mostrou que pacientes com a coronavírus apresentaram em suas fezes o RNA do Sars-CoV-2, causador da doença.
São quatro técnicos trabalhando na coleta das amostras. "Cada equipe tem um amostrador automático, com uma mangueirinha que vai na rede de esgoto, coletando amostras em intervalos de tempo regulares. Essa amostra fica preservada numa caixa com gelo, um isolante térmico, abaixo de 4 graus. É uma amostra grande, de 10 l. Depois a gente homogeniza e levamos para o laboratório", explica o professor Chernicharo.
As amostras são analisadas no laboratório de microbiologia do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Escola de Engenharia da UFMG.