Depois de Kayete e Teuda Bara, a attriz indígena Adana Omágua Kambeba é a protagonista do terceiro episódio da websérie #Quarentemas, que integra o projeto Teatro EmMov Digital. A partir das 20h desta quinta-feira, pelo perfil do Instagram @teatroemmovimento e pelo canal no Youtube/teatroemmovimento, vai ao ar “Ser Solar”, com direção de Inês Peixoto. A narrativa gira em torno do chamado "astro rei": o sol.
A sugestão do tema, vale dizer, veio de Inês, e é mais do que pertinente. Tendo vindo do Amazonas para estudar medicina na capital mineira há cerca de sete anos, Adana está, neste momento, sofrendo a privação de um contato mais amiúde com o seu povo - os Omágua Kambeba. E ponderando-se que ainda há o contexto da pandemia do novo coronavírus, na verdade, até mesmo o contato com colegas, professores, amigos e vizinhos está limitado. Das janelas do apartamento onde reside - localizado na avenida Amazonas, centro da cidade, mais precisamente nas proximidades da praça Raul Soares - no entanto, Adana continua a se conectar com a estrela em torno da qual a Terra gira. "Nós, povos indígenas, temos uma relação muito profunda com o sol, uma ligação muito forte. Neste momento, na minha compreensão, o sol renova a nossa esperança de que dias melhores virão. Temos que ter paciência", narra.
Mas não só. No caso específico da narrativa, Adana salienta que a intenção também é mostrar que mesmo aqui, entre montanhas, tantos quilômetros distante dos seus, há elos que nunca serão dissolvidos. "Mesmo longe, estando agora no meio urbano, não perco a ligação com as minhas origens. Sigo falando com o meu povo, mantendo meus hábitos, lendo livros sobre a luta da área da saúde (voltada aos indígenas)", narra ela, que acredita que, no seu episódio, será possível ver imagens de pontos das cercanias, como a citada praça Raul Soares.
Inês Peixoto conheceu Adana em um evento em que ambas foram homenageadas - Inês, pelo trabalho de atriz e pela atuação no Grupo Galpão; Adana, por sua militância nas causas indígenas - ela participa do Movimento Indígena através da divulgação e promoção da existência do povo Omágua Kambeba, e dos valores indígenas.
Na conversa, Inês ficou sabendo que ela fez parte do elenco do filme "Xingu" (2011), de Cao Hamburger). Mas, na verdade, a atuação entrou na vida desta moça bem antes. "Antes, já tinha feito uma minissérie local, 'O Auto do Boi Bumbá', do diretor Cleber Sanchez, onde fui a cunhã-poranga, fiz peças infantis ainda na adolescência. Em 'Xingu', fui a Kaiulu, par romântico do Cláudio VIllas-Bôas, que foi interpretado pelo ator João Miguel", lembra.
Inês, então, indicou Adana para o elenco de "As Órfãs da Rainha", longa sob a direção de Elza Cataldo, filmado em fevereiro, e agora, a convidou para esse trabalho. "Fiquei muito encantada com a proposta, e a Inês é uma pessoa muito intuitiva", elogia.
Em tempo: Adana também é compositora e cantora de cantos indígenas (língua Tupi Amazônico-Nheengatu). Tem formação musical, especificamente na música erudita, tendo participado da “Orquestra Jovem Floresta Amazônica”, tocando no naipe dos primeiros violinos. Já atuou na Educação Bilíngue Indígena (Tupi/Português). Também já se envolveu com a produção de artesanato (peças de cerâmica, adereços, cestarias, redes) com as diretrizes de sua cultura.
Quando concluir o curso de medicina, Adana pretende voltar à sua terra natal e atuar por ela, não só atendendo membros da sua etnia como das demais, bem como a população ribeirinha e eventuais visitantes, já que turistas de todo o mundo passam por lá. Os Omágua (povo das águas), ou Kambeba, são um povo originário da Amazônia brasileira e peruana. No caso do Brasil, estão localizados em vários municípios no Rio Solimões ("no baixo, médio e alto"). "E também no baixo Rio Negro e na cidade de Manaus, onde, além da parte urbana, existem vários aglomerados de povos indígenas, em terras que também estão dentro dos limites da capital". Justamente para poder se dedicar a seu povo, ela pretende se especializar em Medicina da Família e Comunidade.
O nome Adana, vale dizer, vem de uma lenda indígena, na qual uma uma guerreira se apaixona por outro guerreiro, embora já esteja prometida a um homem ao qual não ama. Os dois decidem fugir, mas acabam sendo alvos da vingança do índio ao qual estava prometida. "Ao final, Adana se transforma em um ser encantado da natureza", explica a atriz.
Mais sobre #Quarentemas. Além de Inês Peixoto na direção geral, a websérie #Quarentemas tem premissas dramatúrgicas de Vinicius Calderoni, idealização e coordenação de produção de Tatyana Rubim, criadora do Teatro em Movimento, festival que há 19 anos promove a circulação de espetáculos teatrais por diversas cidades brasileiras.
A equipe inclui também o cineasta Gilberto Scarpa (direção), Éder Santos e Barão Fonseca (montagem e finalização), o músico Tattá Spalla (trilha sonora), o cenógrafo e figurinista Marcio Medina (direção de arte). A websérie segue até o dia 21 de janeiro de 2021, sempre às quintas. Ao todo, serão 20 episódios inéditos, cada um estrelado por um ator, em um elenco majoritariamente mineiro. Os roteiros surgiram através de temas sugeridos aos atores para um processo criativo baseado no improviso.
De acordo com a produção, a iniciativa segue rigorosamente todas as normativas da Organização Mundial de Saúde contra a contaminação pela Covid-19.