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Azzula lança nesta sexta-feira o EP 'Fera"

O disco reúne composições que reverberam várias formas de afeto, ecoando as vivências do artista Sam Lucca em um encontro com as de seu alter ego

Por Patrícia Cassese
Publicado em 14 de maio de 2021 | 09:50
 
 
 
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O ponto de partida do EP "Fera", que a drag queen mineira Azzula lança nesta sexta-feira (14), foi justamente a faixa homônima, que, por sua vez, despontou após um convite do projeto Soulfar Sounds. "Em seguida, as outras composições foram chegando", conta o alter ego do artista (cantor, compositor, ator)  Sam Luca, que labuta para mostrar e reforçar a força contida em produções artísticas negras, periféricas e com recorte LGBTQI+.

"Fera" conta com três faixas inéditas e autorais: além de "Fera",  "Suor" e "Agora". "É totalmente autoral este EP. É um apanhado de vivências que falam sobre afetividade em geral e sobre as relações vividas por mim enquanto artista Sam Luca e por Azzula".

Azzula/Sam conta que, de forma subjetiva, algumas das reflexões contidas nas faixas do EP falam sobre sua vivência como artista, transformista, inserindo a arte drag na cena musical. "Tem toda uma questão de ser uma arte periférica não somente no sentido geográfico, mas como arte que já está à margem. As letras trazem, de alguma forma, também um pouco do 'trato' do caos que é lidar com a heteronormatividade, com as tratativas e com as relações mesmo. É também um ato de resistência", situa. 

Nesta sexta, também será lançado (às 13h, no youtube.com/azzula) o clipe de “Agora”, que conta com a direção de Bruno Senna (Storm Filmes). Os próximos clipes a serem lançados contarão com participação dos atorxs mineiros Beto Militani, Samira Avila, Giovanna Heliodoro e Katia Aracelle. Sobre esta música em particular, Azzula diz ser "um suspiro sonoro". "Nela, trago algumas reflexões mais íntimas de como lidar com vários tipos de abandono, seja no trabalho, na carreira, nas relações. De forma bem ampla. A música é isso:  ainda que a sociedade ou que a arte estejam na margem, eu estou aqui e 'Agora', atuando e cantando enquanto artista. 'Agora estou aqui, escrevendo esta canção'".

O clipe, prossegue Azzula, é especial por adentrar a cena como um grande show. "É como abrir uma cortina, colocando a 'cara a tapa' para me abrir por completo para este novo momento. Decidimos fazer ele como se fosse um show, porém, ocupando um outro espaço, um lugar privado não convencional (utilizamos as instalações do jornal 'Diário do Comércio'). E estando em um lugar não óbvio, já traz uma ocupação diferenciada. É um momento de partilha, no qual a ideia é humanizar Azzula, trazendo ela mais próxima da felicidade, das falhas, dos erros e acertos, e mostrando ao mundo o trabalho dessa artista", resume Azzula. "É um convite ao público para que conheça, se sinta tocado. E é um grande abraço coletivo de Azzula neste momento tão complexo, para que eu me sinta próximo, mesmo ainda distante".

Confira, a seguir, outros trechos da entrevista
Como está sua vida na pandemia? A que tem se dedicado? 
Tenho me dedicado exclusivamente à minha carreira musical. Por mais que a pandemia esteja sendo um momento muito dificil pra mim, foi um momento de autocuidado, no qual centrei as energias no meu trabalho e comecei de fato a abrir para o mundo as minhas composições, minhas letras. A compartilhar o meu trabalho. 

Que pensamentos te invadem em meio a um cenário não menos que tenso?
O que me assola hoje é uma não certeza sobre qual caminho o mundo vai seguir, como vamos resolver a pandemia, como a arte vai sobreviver e como resistir enquanto artista - não apenas durante a pandemia, mas na pós pandemia. E uma grande ansiedade para este momento novo logo chegar. 

Que lições vem tirando dessa experiência inusitada que estamos vivendo?
Tiro como maior experiência o cuidado, o respeito com o próximo, o pensamento de que as minhas atitudes de hoje afetam pessoas que nem conheço. São pensamentos de medo e responsabilidade, e tenho pensando muito em como a minha arte pode nutrir as pessoas de alguma forma, em campos como o afetivo, por exemplo, que é um ponto o qual todos precisamos neste momento. 

Qual a importância da resistência cultural neste momento?
A cultura sempre foi resistência, na verdade. Talvez agora seja mais importante ainda não desanimar, mas continuar produzindo, entregando arte, pensando que é uma situação momentânea, que vai passar, e que, ao fim, vamos ter aprendido muito. A arte nutriu de várias formas muitas pessoas neste momento. Para mim, música é som, ar, respiro, pausa, movimento e continuidade. Assim, resistir e produzir arte é uma forma de ainda me sentir livre e vivo por completo. 

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