Artes visuais

Com mural do MST e show de Mateus Aleluia, 7ª edição do Cura começa nesta quinta

Festival traz o conceito 'terra' para a programação, que se estende até dia 25 e propõe diversas atividades no entorno da praça Raul Soares

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 14 de setembro de 2022 | 15:35
 
 
 
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Se, em 2021, o Cura – Circuito Urbano de Arte fez da água seu conceito e seu norte, neste ano o festival firma os pés na terra e a observa em todas as suas dimensões filosóficas, políticas, sociais e artísticas. “Vamos falar de barro, argila, tijolo, da terra como questão central de solução do Brasil, de distribuição de terra, da terra como ancestralidade, como elemento da espiritualidade. Também falamos de luta, de classe trabalhadora, de população negra e indígena. A terra vai aparecer tanto em plasticidade e cores, quanto nas questões e pautas que vamos levantar”, comenta Priscila Amoni, uma das idealizadoras e curadoras do festival, ao lado de Janaina Macruz e Juliana Flores.

A programação da 7ª edição do Cura foi anunciada em uma apresentação à imprensa na manhã desta quarta-feira (14). O festival começa nesta quinta, na praça Raul Soares e seu entorno, no Centro de Belo Horizonte, e concentra atividades até o dia 25 deste mês.

A grande novidade, guardada em segredo até hoje, é a parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para pintura de uma empena no Edifício Rochedo, à rua Goitacazes. A obra, de 489 m² e 36,1 metros de altura, será feita por artistas da Escola de Artes João das Neves, do MST, onde a equipe do Cura ministrou uma oficina sobre ocupação do espaço público. O tema “terra” já havia sido definido pela curadoria quando a participação do movimento foi incluída na agenda do evento.

“Descobrimos artistas incríveis lá dentro e o desejo do MST de adentrar o mundo do mural como forma de relatar sua história. É um marco muito forte para o Cura ter (como parceiro) um movimento tão importante para o Brasil. Eles querem falar sobre segurança alimentar, agroecologia e trabalhadores do campo”, ressalta Priscila Amoni. Dirigida pela cantora Titane, a escola de artes do MST foi fundada pelo dramaturgo João das Neves (1934-2018) e reúne artistas que integram o movimento.

Com grandes esculturas de barro posicionadas na praça Raul Soares, a instalação “Levante”, da artista baiana Selma Calheira, marca a abertura do festival. “Ela traz a força do barro, são quase 30 bonecos posicionados fazendo um levante na praça”, explica Amoni. O artista convidado desta edição é o maranhense Pedro Neves, residente em Betim, na região metropolitana de BH.

Neves ficará responsável por dar cor à empena do Edifício Copacabana. A obra terá 434 m² e 41,1 metros de altura. “Um artista negro, periférico, que está se destacando. Estamos apostando nossas fichas nesse lançamento dele”, diz a idealizadora do Cura.

A mineira Sueli Maxakali, liderança dos Tikmũ’ũn, mais conhecidos como Maxakali, povo indígena originário de uma região situada entre os atuais estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo, é outro nome que integra a programação do Cura. Educadora, fotógrafa e realizadora audiovisual, Sueli fará uma arte de 600 m² (60,4 metros de altura e 10,7 metros de largura) no Edifício Roma, na avenida Paraná.

Do Aglomerado da Serra, a dançarina de vogue Willand Cabal, selecionada na convocatória do festival, propõe um diálogo entre arte, mundo digital e metaverso com um lambe NFT, que ocupará uma fachada no Hotel Sorrento, no entorno da praça Raul Soares.

“Ela é uma pessoa não-binária, traz a linguagem do vogue, uma dança muito típica das periferias. É importante ressaltar que a cultura do NFT tem um lado inclusivo, traz uma democratização importante”, pontua Priscila Amoni, que cita um viés inédito da 7ª edição do Cura: “Os artistas estão estreando em atuação de pintura de prédio. Garantimos essa inclusão também”.

Conceito

Para Flaviana Lasam, curadora do Cura pelo segundo ano consecutivo, é impossível falar da história do Brasil sem tocar profundamente na questão da terra. “O Brasil é fundado a partir dela. Se hoje existem as favelas é por causa de terra e sua exploração; se temos processo de mineração, é por causa de terra também. A história do Brasil se faz por causa da terra. Entendemos que ela é símbolo material e filosófico do que o país tem de positivo e negativo”, ela pondera.

Quando o festival aponta o conceito “terra” para esta 7ª edição, a ideia é que todas as obras estejam sintetizadas na coleção que agora nascerá. É como se o círculo da praça da Raul Soares abraçasse de forma completa toda a criação vindoura. “A obra da Selma olha para a empena do Pedro Neves, que olha para Sueli Maxakali. Os homens de barro puxam a periferia, o morro vai estar representado.É como se o levante da Selma carregasse todas as empenas. E a presença do MST dá seguimento ao que representa esse levante”, conclui Flaviana Lasam.

Mateus Aleluia na Raul Soares

A programação da 7ª edição do Cura – Circuito Urbano de Arte será encerrada no dia 25, um domingo, com show do cantor e compositor Mateus Aleluia. A apresentação, gratuita, acontece às 18h na praça Raul Soares. Antes, na próxima quarta-feira (21), das 16h20 às 22h, haverá lançamento da loja Cura, com produtos baseados nas obras do festival, e desfile e apresentação do espetáculo “Pink Garden”.

No dia seguinte, às 18h30, será lançado o catálogo “Cura” com a mesa “Cura e a Cidade”. Na mesa, cuaj mediação ficará a cargo de Roberto Andrés, estarão Binho Barreto, Felipe Thales, Carol Jaued, João Perdigão e Flaviana Lasan. Informações e outros detalhes estão no Instagram e no site do festival.

Confira a programação completa da 7ª edição do Cura:

De quinta (15) a 24 de setembro: Pinturas e instalações, das 16h20 às 22h

Instalação “Levante”, de Selma Calheira (BA); pintura de empenas por Pedro Neves, Sueli Maxakali e MST 

Quarta-feira (21), das 16h20 às 22h

Lançamento da Loja Cura com House of Cabal: desfile e apresentação do espetáculo “Pink Garden”

Quinta-feira (22), das 16h20 às 22h

DJ Pelas ( 16h20 às 18h30) 

Lançamento Catálogo CURA com a mesa “CURA e a cidade”, com Binho Barreto, Felipe Thales, Carol Jaued, João Perdigão e Flaviana Lasan. Mediação Roberto Andrés (18h30 às 20h) 

DJ Kingdom (20h às 22h) 

Sexta-feira (23), das 16h20 às 22h

Becks apresenta Pedro Pedro e João Nogueira

Sábado (24), das 16h20 às 22h

Xeque Mate apresenta Lázara e Jambruna

Domingo (25)

Espaço Cura (em parceria com o MST) — arte, comida e agroecologia (10h às 22h)

DJ Palomita (10h às 14h) 

Performance Solstício: Dança para o amanhã (14h às 15h) 

DJ Pat Manoese (15h às 18h) 

Show Mateus Aleluia (18h às 19h) 

DJ Rico Jorge (19h às 22h)

 

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