Teatro

Espetáculo ressalta a trajetória de Maria Leopoldina

Responsável por assinar o decreto de independência do Brasil, a personagem tem seu papel na história brasileira revisitado no palco

Por Carlos Andrei Siquara
Publicado em 13 de setembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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A independência do Brasil ganhou uma imagem gloriosa a partir do quadro do pintor Pedro Américo, que mostra um dom Pedro I com vestes imponentes, montado no seu cavalo, às margens do rio Ipiranga. Pintado 66 anos depois do chamado “Grito do Ipiranga”, a obra foi fruto de uma encomenda de dom Pedro II, mas o que ela apresenta distancia-se muito da versão defendida por especialistas em história do país.

Segundo o escritor Laurentino Gomes, por exemplo, dom Pedro I estaria montado sobre uma mula, e sua indumentária mais plausível seria a mesma usada por tropeiros. Além disso, há outro fato pouco difundido: foi Maria Leopoldina quem assinou o decreto de independência do país no dia 2 de setembro, enquanto dom Pedro I estava ausente em razão de uma viagem a São Paulo. 

Lançar um olhar mais abrangente para o papel dessa mulher na história brasileira, ainda que matizado com pinceladas de ficção, é um dos motes da peça “Leopoldina, Independência e Morte”. Com direção de Marcos Damigo, a peça está em cartaz até o dia 30 no Centro Cultural Banco do Brasil. O elenco traz Fabiana Gugli no papel de Leopoldina e Plínio Soares interpretando José Bonifácio, que é considerado um dos mentores do processo de independência. 

“Eu acho que o que me interessa é colocar essa pergunta: por que nós escolhemos o dia 7 de setembro para celebrar a Independência do Brasil em vez do dia 2? Eu acho que essa pergunta traz consigo uma série de reflexões sobre o lugar da mulher na sociedade e sobre a importância de Leopoldina”, pontua Damigo. 

Ao fazer esse exercício, ele acredita ser possível estimular uma revisão das versões historiográficas predominantes no país – gesto que ele reforça ser muito saudável. “Eu acho que, às vezes, nós nos aprisionamos nas narrativas que criamos para nós mesmos, e é interessante questionarmos essas versões. Tem algo de terapêutico nesse processo, acredito, e, como artista, eu acho importante fazermos esse tipo de provocação para os espectadores que forem ver a peça”, completa o diretor.

Fabiana ressalta que, para ela, a vida de Leopoldina foi uma grande surpresa, pois raramente a trajetória da princesa de origem austríaca é vista com mais detalhes nas escolas. “Foi estudando um pouco da biografia dela que eu notei que Leopoldina teve realmente uma importância fundamental na política brasileira. Ela, inclusive, falava várias línguas e era muito mais instruída e bem mais preparada para governar o país do que dom Pedro”, observa ela.

O espetáculo narra o percurso de Leopoldina dividindo-o em três momentos. O último é o que mais se vale da licença poética, porque é quando a personagem está prestes de morrer e entra em delírio. “Ali nós também fazemos uma relação com o hoje e mostramos como, em muitos aspectos, nada mudou no nosso país”, acrescenta Fabiana. 

Serviço

Espetáculo “Leopoldina, Independência e Morte”, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (praça da Liberdade, 450, Funcionários). Em cartaz até o dia 30; de quinta a segunda, às 20h. Sessões duplas nos dias 16, 20, 23, 27 e 30, às 15h e às 20h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).

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