Exposições, oficinas, exibições de filmes, feira de quadrinhos, debates, sessões de autógrafos, duelos de HQs, rodada de negócios e cerca de 300 artistas do Brasil e do exterior em um único espaço. Com proporções dignas dos grandes eventos globais, o 11º Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ BH) toma conta do Minascentro de hoje a domingo convidando crianças, jovens e adultos para uma imersão no universo dos quadrinhos.
Realizado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em parceria com o Instituto Lumiar, o evento – o maior do gênero na América Latina, cumpre dizer – apresenta uma extensa programação, totalmente gratuita, com atividades para todos os públicos.
Tendo a temática “Quadrinhos e o mundo do trabalho” como norte, o FIQ destaca a dinâmica da profissionalização dos agentes envolvidos no universo dos quadrinhos frente às crises que o mercado tem enfrentado ao trazer à baila uma reflexão sobre os processos de construção, fomento e distribuição dessa rica e criativa seara artística.
“Ser quadrinista é fazer, por vezes sozinho, toda a cadeia de produção presente num livro. Você é seu editor, seu revisor, seu diagramador, distribuidor e muitas vezes até a gráfica. O FIQ quis trazer esse tema para que possamos fazer essa ponte entre os diversos profissionais que atuam na área e também proporcionar a troca, o diálogo e reflexões sobre esse mercado e o fazer dos quadrinistas”.
Assim pontua Amma, ilustradora e curadora do FIQ – ao lado de Lucas Ed –, sobre a opção do evento em trabalhar com a temática “Quadrinhos e o mundo do trabalho”.
Para a artista, a mistura de linguagens e a diversidade são os grandes destaque desta edição do festival. “Vamos falar da acessibilidade, das narrativas de origem e da representatividade. Vamos trazer autores que estão fora do eixo Rio-São Paulo e dialogar com autores veteranos e novatos”, exalta.
Para a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, o FIQ se apresenta também como um importante espaço para o acesso e a democratização da cultura enquanto uma política pública de fomento e difusão artística. “Ao fomentar e abordar todas as etapas do processo criativo dos quadrinhos e sua relação com o universo profissional da cultura, de maneira diversa e transversal, o FIQ alimenta a ampla cadeia produtiva e a economia criativa da cidade”, ressalta.
Eliane também ressalta os efeitos que o festival traz para o setor. "O FIQ tem forte impacto porque, além de oferecer um panorama nacional e internacional da produção de quadrinhos, discute e fomenta todas as etapas do processo criativo e de difusão dos quadrinhos e oferece ainda inúmeras atividades de formação e reflexão. Gerações de artistas e profissionais dos quadrinhos foram inspirados e formados a partir do FIQ. Por sua abrangência, consistência e relevância, o FIQ BH é uma ação fundamental no processo de valorização e crescimento dos quadrinhos no Brasil", sublinha.
Diverso
Um dos aspectos que reforçam o tamanho da 11ª edição do FIQ está na quantidade de artistas que participam do evento. Oriundo de diversos Estados e com convidados internacionais, os cerca de 300 profissionais do setor demonstram o caráter diverso do festival.
Entre eles está o ilustrador francês Fabien Toulmé, autor de obras como “Não Era Você que Eu Esperava” e a trilogia “A Odisseia de Hakim”, publicadas no país pela editora Nemo. “Esta será a primeira vez que vou participar do FIQ. Estou extremamente contente de poder encontrar esse público e por ser também um pouco brasileiro – apesar de ser francês, eu me sinto um pouco brasileiro, então tenho a sensação de estar em casa”, conta o artista, que viveu por cerca de dez anos na Paraíba.
Personagem com uma relação muito próxima com o FIQ, o belo-horizontino Fabiano Azevedo, 45, marca presença no festival com “Santelmo Enfeitiçado”, obra que ele lança no evento. “O FIQ é o evento que mais movimentou a produção e a concepção sobre o mercado e a leitura de quadrinhos na história do Brasil. Digo isso com tranquilidade e convicção: a cada nova edição do FIQ, ao longo desses mais de 20 anos, o mercado de quadrinhos cresceu, encontrou novos nichos, se reinventou e buscou se adequar às diferentes realidades econômicas, próprias de cada momento”, destaca o artista, que há quase 30 anos se aventura profissionalmente nessa seara.
Já para a artista francesa Chloé Cruchaudet, autora de obras como “Degenerado” e que também marca presença nesta edição do FIQ, um evento dessa natureza, para o público, pode iluminar novas possibilidades. “Para os leitores, assistir às sessões de autógrafos pode simplesmente fazê-los querer abrir o livro, e a partir desse momento uma ‘magia’ pode acontecer, como estar imerso em novos mundos, viver outras vidas a partir da obra lida”, conta ela, que também ressalta a importância da aproximação entre criadores e leitores que o festival propõe. “Os leitores também podem tomar consciência, graças às discussões com os autores, do enorme trabalho envolvido nesse processo e compreender as dificuldades envolvidas na criação”, defende.
Tributo
Homenageado da edição 2022 do FIQ, o quadrinista, ilustrador e professor paulistano Marcelo D’Salete é um dos principais destaques do evento. Autor de celebradas obras, como “Cumbe” (2014) e “Angola Janga” (2017) – esta vencedora do prêmio Jabuti na categoria Histórias em Quadrinhos –, D’Salete estará presente no festival com a mesa “Marcelo D’Salete entre faróis, favelas e quilombos”, no sábado, dia 6.
O artista também ganha uma exposição, intitulada “Malungo D’Salete: Entre faróis, favelas e quilombos”, em cartaz durante todo o festival.
"Marcelo D'Salete é simplesmente um dos grandes nomes do quadrinho nacional. Seu trabalho é rico e minucioso. Ele imprime nossa história com maestria, demonstrando que ser professor é algo que está intrinsecamente ligado à sua obra. D'Salete escancara um Brasil que muitos não enxergam. É um Brasil do qual precisamos falar mais. Do povo negro, do quilombo, da favela, dos faróis. Sem contar que temos um autor premiado e atuante no mercado", justifica Amma, ilustradora e curadora do FIQ.
Programe-se
11ª edição do Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte - FIQ BH 2022
De 3 a 7 de agosto: quarta a sexta, das 9h às 21h; sábado e domingo, das 10h às 21h
Minascentro (rua Guajajaras, 1.022, centro)
Entrada gratuita
Programação completa no site do festival