Literatura

Há exatos 50 anos, morria Jack Kerouac, o anjo torto beatnik

O escritor norte-americano, autor do icônico livro On the Road, descortinou sonhos, angústias e aventuras de uma geração

Por Bruno Mateus
Publicado em 21 de outubro de 2019 | 13:31
 
 
 
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Nascido Jean-Louis Lebris de Kerouac, em Lowell, no Estado de Massachusetts, na Costa Leste dos Estados Unidos, Jack Kerouac deixou um legado que vai muito além da literatura. Com “On the Road” e outros livros, ele se tornou um dos símbolos de uma geração de escritores que ficaram conhecidos como beatniks, que tinha no time Allen Ginsberg e William S. Burroughs, entre outros. Kerouac, com um texto alucinante como o ritmo do bebop, inundou suas páginas de liberdade, sexo, drogas, espiritualidade, beleza e decadência. O norte-americano, figura complexa e contraditória, morreu em 21 de outubro de 1969, aos 47 anos, em decorrência de uma hemorragia, consequência da cirrose adquirida após anos e anos bebendo desenfreadamente.

“On the Road”, a bíblia

É impossível medir a influência que o livro teve na mente de quem passou pelas páginas escritas freneticamente por Kerouac, inspirado por café e jazz – a benzedrina, estimulante muito usado naquela época pelos escritores beat, não entra na lista, segundo o próprio Kerouac dizia. Com uma narrativa espontânea e inovadora, de um fôlego só, o escritor traduziu o pensamento de jovens do pós-Segunda Guerra que desejavam guiar suas vidas para rumos diferentes das escolhas de seus pais. 

Se o fotógrafo Robert Frank, morto recentemente, descreveu o espírito americano dos anos 50 no clássico “The Americans”, Kerouac o fez pela literatura. Publicado em 1957, depois de ter sido rejeitado diversas vezes pelas editoras, o autobiográfico “On the Road”, escrito em três semanas, é a história de Kerouac e do também escritor beat Neal Cassidy, que se transformam, respectivamente, em Sal Paradise e Dean Moriaty, mas vai além: pinta um retrato cru de vagabundos, jovens artistas e homens e mulheres à procura da liberdade prometida por sexo, drogas e jazz.

“On the Road” é uma ode à liberdade, um marco da contracultura que desaguou no movimento hippie, um manifesto que despedaçou o sonho americano e um chamado de rompimento do status quo. Em 2012, o cineasta brasileiro Walter Salles levou o filme para as telas do cinema.

Dicas: biblioteca kerouaquiana

Nenhum outro livro de Kerouac conseguiu alcançar a projeção e o sucesso de público e de crítica de “On the Road”, mas isso não quer dizer que a produção do norte-americano tenha se resumido a somente um grande momento literário. Pelo contrário, Kerouac produziu muito e deixou relatos inovadores e cheios de vida. Entre dezenas de obras, aí vão três dicas para se conhecer um pouco mais de um dos escritores mais influentes do século XX.

“Os Vagabundos Iluminados” (1958)

Lançado apenas um ano depois do estrondo de “On the Road”, o livro narra a história Ray Smith, inspirado no próprio Kerouac, um aspirante a escritor de São Francisco que busca a verdade e a sabedoria, apresentadas a ele por Japhy Rider, um jovem montanhista zen-budista que vive alheio à sociedade de consumo norte-americana. É considerado por especialistas e fãs da literatura beat como o melhor romance de Jack Kerouac, que buscava sua iniciação no budismo.

“Os Subterrâneos” (1958)

Narrativa de um fôlego só, característica de Kerouac, escrita durante três dias e três noites, acompanha o ritmo do jazz. Os subterrâneos são artistas, outsiders, frequentadores do submundo São Francisco, em que bares e becos escuros dão contornos a um cenário decadente e hedonista. Autobiográfico, a obra apresenta Kerouac como Leo Percepied, que se apaixona por Mardou Fox, uma garota cherokee com quem ele realmente teve um caso.

“E os Hipopótamos Foram Cozidos em Seus Tanques” (2009)

Escrito em 1945 com William S. Burroughs, antes de os beatniks surgirem como um vendaval, o livro é baseado em uma história real: o assassinato de David Kammerer cometido pelo adolescente Lucien Carr em 1944, às margens do Rio Hudson, em Nova York. Ambos eram amigos dos escritores e viviam um romance. Só após a morte dos envolvidos, o manuscrito foi editado e lançado em 2008 nos EUA e, no ano seguinte, por aqui. A história é contada pelo garçom Will Denninson (Burroughs) e pelo marinheiro Mike Ryko (Kerouac).

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