Arte

Instituto Inhotim inicia dezembro com uma série de novidades

Além da coletiva ‘Deslocamentos’, o sábado marca o início do Museu de Arte Negra, com a exposição 'Abdias Nascimento, Tunga e o Museu de Arte Negra'

Por O TEMPO
Publicado em 03 de dezembro de 2021 | 19:35
 
 
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De forma inédita, Inhotim passa a sediar outro museu dentro de seu espaço: no caso o Museu de Arte Negra, iniciativa em parceria com a Ipeafro. Trata-se da concretização de um  projeto idealizado pelo Teatro Experimental do Negro sob a liderança de Abdias Nascimento no início dos anos 1950. Pensado para ser um "museu voltado para o futuro", o MAN nasceu com o objetivo de "recolher e divulgar a obra de artistas negros, sem distinção de gênero, escola ou tendência estética, promovendo-se, assim, a documentação de sua criatividade, estimulando sua imaginação e invenção na ampla faixa de expressão plástica", como explicou Abdias Nascimento em entrevista concedida em 1968 para o extinto "Correio da Manhã".

A iniciativa traduz o desejo de Abdias Nascimento de desafiar os conceitos vigentes sobre a arte moderna, revelando sua relação com a estética africana. Além disso, procura apoiar e promover a produção de artistas negros de todo o mundo e enfrentar o racismo em suas dimensões estética e institucional.  A exposição será dividida em quatro atos, cada um com duração de cerca de cinco meses, desdobrados a partir de indagações postas à coleção do Museu de Arte Negra. O primeiro, exibido a partir deste sábado, traz o diálogo entre a obra de Abdias, Tunga e o acervo do MAN em um espaço que remete às origens do Inhotim: a Galeria Mata, situada próximo à Galeria True Rouge, uma das primeiras da instituição e que expõe de forma permanente a instalação de título homônimo de Tunga.

Entre as cerca de 90 obras apresentadas estão o quadro pintado por Tunga em 1967, aos 15 anos, para o acervo do MAN; "Invocação Noturna ao Poeta Gerardo Mello Mourão: Oxóssi' (1972), pintura que Abdias fez em homenagem ao amigo Gerardo e à memória dos poetas da Santa Hermandad Orquídea; e a instalação Toro Condensed; Toro Expanded (1983 - 2012), na qual Tunga traz a ideia de movimento contínuo e alude a metáforas de desenvolvimento, como o ciclo da vida, que faz parte da mitologia afro-brasileira. "Amigos de longa data, Tunga e Abdias abrem espaço para o Museu de Arte Negra, e para os próximos atos desse projeto. Cosmogonias, tradição e ancestralidade conduzem os caminhos neste encontro de mundos", diz Douglas de Freitas, curador do Inhotim.

Deslocamentos

Já na Galeria Fonte, a temática de deslocamento, seja de lugares físicos ou imaginados, norteia a curadoria da coletiva "Deslocamentos", que também poderá ser vista a partir deste sábado.  A mostra reúne obras dos artistas Cerith Wyn Evans, Gordon Matta-Clark, Jorge Macchi, Laura Lima, Matheus Rocha Pitta, On Kawara, Raquel Garbelotti, Rivane Neuenschwander, Rodrigo Matheus, Rubens Mano e Sara Ramo, e trata, também, de questões relativas à ocupação, ao compartilhamento e à migração em diferentes territórios.

"As mazelas e contradições do capitalismo global e o desenho geopolítico das desigualdades sociais são centrais a alguns dos trabalhos reunidos aqui. A inquietação em relação à exploração e transformação da natureza e a consequente escassez de recursos naturais, assim como a crítica ao consumismo e à obsolescência programada, conectam diferentes perspectivas dos artistas", explica Douglas de Freitas, curador do Inhotim.

São obras como a instalção "Cleave 02 (The Accursed Share)", 2002, pensada a partir da ideia de um deslocamento sensorial e também ideológico, pelo britânico Cerith Wyn Evans. A obra, que foi criada para a Documenta XI de Kassel (2002), traz uma crítica ao eurocentrismo e ao imperialismo nas artes. No trabalho, trechos do livro The Accursed Shared (1949), do escritor francês Georges Bataille - autor que propôs análises socioeconômicas sobre o consumismo desenfreado - são traduzidos em código Morse, um recurso de comunicação codificada utilizado durante períodos de guerra. Os trechos são convertidos por software em padrões de acendimento de um refletor de luz, por sua direcionado a um globo de espelhos.

Já na obra Conical Intersect, 1974, do artista americano Gordon Matta-Clark, há o registro histórico, testemunho de uma icônica intervenção do artista ao lado do Centre Georges Pompidou, na França, na época em construção. O trabalho faz parte da série de building cuts (cortes de edifícios), desenvolvidos pelo artista entre 1974 e 1978 e apresentado pela primeira vez na IX Bienal de Paris (1975). Trata-se de um registro audiovisual do processo de criação de uma intersecção cônica, na qual cortes tridimensionais foram feitos por Gordon ao longo de duas edificações datadas do século XVIII.

Serviço

Deslocamentos, mostra coletiva com Cerith Wyn Evans,Gordon Matta-Clark, Jorge Macchi, Laura Lima, Matheus Rocha Pitta, On Kawara, Raquel Garbelotti, Rivane Neuenschwander, Rodrigo Matheus, Rubens Mano e Sara Ramo

Abertura: 4 de dezembro, sábado, das 9h30 às 17h30
Local: Galeria Fonte | Instituto Inhotim

Museu de Arte Negra - Primeiro ato: Abdias Nascimento e Tunga
Período expositivo: 4 de dezembro de 2021 a 10 de abril de 2022
Local: Galeria Mata | Instituto Inhotim

Visitação: de quinta a sexta-feira, das 9h30 às 16h30; e aos sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 17h30
Ingressos: R$ 22 (meia) e R$ 44 (inteira) no Sympla

Entrada gratuita na última sexta-feira de cada mês, exceto feriados, mediante retirada prévia através do Sympla

***Moradores de Brumadinho cadastrados no programa Nosso Inhotim e Amigos do Inhotim também possuem entrada franca
 

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