Com um ano de atraso, o regente e compositor Arthur Bosmans (1908-1991) recebe, hoje, uma homenagem por seu centenário. Parte de sua obra será apresentada no Concerto Minas Experimental, com a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, sob regência do maestro Oiliam Lanna, que foi seu aluno na década de 70. Paralelamente, o foyer do Palácio das Artes recebe a exposição "Notas de um Jovem Maestro", que fica em cartaz até o próximo dia 19, onde estarão reunidos documentos, pinturas, fotos e diversos materiais do músico, que teve fundamental importância na formação de uma geração de regentes e compositores e na divulgação da música brasileira na Europa.
Belga radicado no Brasil a partir da década de 40, ele apresentou, em concertos que realizou no Velho Continente, obras de nomes como Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Edino Krieger e Radamés Gnattali; e na via contrária, o maestro teve importante papel na difusão, em Minas Gerais, de compositores como Ravel, Claude Debussy e Jacques Ibert, entre outros. "Ele vivia a dicotomia de ser considerado um gringo aqui e um brasileiro no exterior. Toda vez que ele ia para a Europa à convite para reger alguma orquestra, sempre fazia questão de incluir compositores brasileiros nos programas que apresentava", diz seu filho, Jaak Bosmans, idealizador da homenagem. "Meu pai fazia uma espécie de intercâmbio, porque também apresentou muitos compositores europeus no Brasil", completa, ressaltando a afeição que o maestro nutriu pelo Estado que o acolheu.
"Ele sempre foi uma pessoa de Minas Gerais, viveu meio século em Belo Horizonte por escolha. Depois de se naturalizar brasileiro e estar à frente das orquestras do Theatro Municipal, da Rádio Nacional e da Sinfônica Brasileira no Rio de Janeiro, ele veio para a capital mineira a convite de Juscelino Kubitschek e construiu sua história musical na cidade", aponta.
Para Oiliam Lanna, essa história pode começar a se tornar mais conhecida com as homenagens em torno de seu centenário. "Ainda falta a Arthur Bosmans o reconhecimento devido. Acredito que o legado dele merece uma pesquisa mais aprofundada, um estudo sistemático que pode se desenvolver a partir dessa homenagem", destaca.
Jaak considera que a contribuição mais importante de seu pai para a música no Estado foi no sentido de popularizar o universo erudito. "Ele sempre lutou contra a ideia da música erudita como uma coisa hermética, para iniciados. Meu pai acreditava que qualquer pessoa que tivesse acesso a uma peça sinfônica, entenderia perfeitamente. Ele costumava fazer concertos populares no estádio do Paysandu, onde hoje é a rodoviária, para um público formado por operários que trabalhavam ali por perto", diz, ressaltando a preocupação do maestro com o entendimento da plateia. "Os concertos que meu pai fazia tinham um ingrediente didático. Ele mostrava os instrumentos, explicava a diferença entre uma viola e um violino, entre o contrabaixo e o violoncelo. Era um trabalho no sentido de popularizar sem vulgarizar", destaca.
Sobre a exposição, que tem curadoria de Paulo Schimidt, ele diz que reúne diversos documentos, partituras, gravações e fotos que estavam guardadas em seu baú. "Tem desde o emblema oficial da marinha, que ele serviu, até quadros que pintava quando jovem. Tem um conjunto grande de fotos e a própria máquina fotográfica com que rodou o mundo no período em que foi marinheiro", afirma o filho.
Programa
Obras de Bosmans incluídas no concerto de logo mais
"La Vie en Bleu"
"Sinfonietta Lusitanna"
"Três Valsas"
I - "Viennoise"
II - "Americaine"
III - Fraçaise "La Rue"
AGENDA
O que: Concerto em homenagem a Arthur Bosmans
Quando: Hoje, às 20h30
Onde: Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 32367400)
Quanto: Entrada franca (limite de quatro ingressos por pessoa)