Cultura pop

Traços beatlemaníacos: concurso em BH premia charges inspiradas na banda

Promovida pelo Cine Theatro Brasil Vallourec, competição celebrou as seis décadas do quarteto e os sete anos da reinauguração do espaço cultural

Por Bruno Mateus
Publicado em 16 de outubro de 2020 | 07:03
 
 
 
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O legado dos Beatles é incalculável. Personagens centrais da cultura pop e de todos os movimentos artísticos e comportamentais surgidos nos anos 60, John, George, Paul e Ringo continuam tão presentes como se estivessem ainda hoje lançando seus álbuns. A milhares de quilômetros de Liverpool, cidade onde o quarteto nasceu, Belo Horizonte é o pedaço de terra mais beatlemaníaco do Brasil. São diversas bandas de cover, assim como shows e festivais que festejam uma das obras mais importantes do século XX.

A novidade da vez foi o concurso de charges The Beatles, idealizado pelo Cine Theatro Brasil Vallourec para lembrar os 60 anos da banda e os sete anos da reinauguração desse emblemático espaço cultural da cidade, em outubro de 2013. Ao saber da iniciativa, o artista Evandro Luiz da Rocha, 49, decidiu se preparar: ele assistiu ao filme “Yellow Submarine” para pescar referências. Acabou vendo o desenho três vezes.

Com um toque de fantasia e psicodelia, ele uniu referências das artes plásticas, do teatro, da música, da dança e do cinema em uma ilustração com desenhos e colagens que celebram os Beatles e a história cultural do próprio Cine Brasil, transformado em um grande submarino amarelo. 

“A faixa de pedestre vermelha lembra muito BH, ao mesmo tempo em que remete à capa de um disco deles. Usei os bonecos do Giramundo, coloquei a dança com a Ana Botafogo e os painéis de Portinari pensando em unir eventos que aconteceram no Cine Brasil durante esses sete anos”, explica o vencedor do concurso.

Segundo ele, mesclar Beatles e o universo das charges foi uma grande sacada: “A banda era muito gráfica, usava muito a linguagem do cartum, da ilustração. Foi uma oportunidade de unir dois campos de arte. Que venham outros concursos”.

A paixão do consultor Reynor Albino dos Santos, 56, pela ilustração vem da infância, quando muitas das brincadeiras com as quais ele se envolvia tinham o papel, o lápis de cor e a imaginação como principais inspirações. O primeiro emprego, inclusive, foi como desenhista, mas depois ele migrou para outra área.

Assim que uma sobrinha comentou sobre o concurso, Santos começou a pensar em referências e chegou à imagem do quarteto na primeira fase, a chamada “Beatlemania”, com um número 7 entrelaçando os integrantes em alusão ao aniversário de reinauguração do Cine Theatro Brasil Vallourec. 

“A charge foi feita na correria, o prazo já estava se esgotando. Quando apareceu meu nome em segundo lugar, fiquei contente demais. É a minha primeira participação em concursos, e vejo esse prêmio como incentivo para participar de outros”, comenta o segundo colocado. 

Provocação

Diretor de criação de uma agência de comunicação, Igor Rodrigues de Oliveira transformou a capa do disco “Help”, de 1965, em quatro árvores pedindo socorro, uma menção ao desrespeito dos governantes com o meio ambiente e às recentes queimadas ocorridas em todo o país. A concepção foi de Oliveira, e a execução do trabalho coube ao designer Graziani Riccio, numa tabelinha à la Lennon e McCartney.

“A charge tem a sátira como característica, passa uma mensagem e gera uma reflexão por meio do humor, do sarcasmo. Optamos pela crítica, pela provocação”, ressalta o publicitário, que ficou em terceiro lugar.

Beatlemaníaco de carteirinha e fundador do bloco infantil Besourinhos, que tocou pela primeira vez em BH no Carnaval deste ano, Oliveira diz que a relação de BH com os Beatles é forte porque os fãs decidiram colocar essa paixão em prática. e criaram projetos pessoais para reverenciar a banda. Ele cita a Sgt Pepper Band, a Hocus Pocus e o músico Aggeu Marques como grandes incentivadores do movimento beatle na capital.

Para o publicitário, qualquer iniciativa que enalteça a obra do quarteto é importante para “passar o bastão e levar essa cultura para outras gerações”.  “Os Beatles foram maiores que a música, influenciaram a moda, a comunicação, o design, as mudanças de comportamento, a forma de se enxergar as artes gráficas”, completa.

Gestora enaltece qualidade das produções

Durante o processo de seleção dos vencedores, escolher os três primeiros colocados foi uma tarefa difícil, como conta a gerente de planejamento de ação cultural do Cine Theatro Brasil Vallourec, Sandra Campos: “Os jurados pontuaram que consideraram a criatividade e a conexão com o tema. Os traços, as cores e as técnicas também foram pontos que chamaram a atenção. Realmente ficamos surpresos com a qualidade das charges recebidas”.

Segundo a gestora, os trabalhos estavam relacionados aos temas – os Beatles e os sete anos da reinauguração do teatro –, mas também refletiam sobre assuntos do momento, como a pandemia e o coronavírus. Sandra diz que o concurso cumpre o papel de fomentar a cultura em todos os seus diversos tipos de expressões artísticas. “Desde o início da pandemia, seguimos empenhados em oferecer as melhores opções de entretenimento e lazer para a população de Belo Horizonte. O retorno foi muito positivo”, comenta Sandra.

As charges foram avaliadas por uma comissão formada por três jurados: o vice-presidente do Cine Theatro Brasil Vallourec, Bertrand Mourier, o chargista dos jornais O TEMPO e Super, Duke, e o ilustrador Camilo Lucas, além de uma votação popular entre os dias 6 e 8 de outubro. O vencedor levou um prêmio de R$ 1.000 em dinheiro, e o segundo colocado ficou com R$ 500. Já o terceiro recebeu um livro sobre a história do Cine Theatro Brasil.

Ao todo, o concurso recebeu 39 charges, sendo que 33 cumpriam os critérios e estavam aptas a receberem votos. O resultado foi anunciado durante a live que marcou o encerramento do festival BH Beatle Live, transmitido pelo canal do Cine Brasil em 9 de outubro, data em que John Lennon completaria 80 anos.

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