Filhos de pais que estavam acostumados a receber benefícios tradicionais no trabalho, como vale-refeição e plano de saúde, as novas gerações desejam ir além e usar os valores disponibilizados pelas empresas como bem entenderem - seja comprando livros ou pagando sua conta de luz usada para fazer home office. De acordo com a Swile, startup especializada em benefícios flexíveis, 34,8% dos millennials (nascidos entre 1982 e 1994) e 38% da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) priorizam a flexibilidade nos benefícios oferecidos pelas empresas.

Atualmente, enquanto alguns benefícios são previstos em lei, como o vale-transporte, outros são opcionais, como vale-alimentação e vale-refeição - que podem estar vinculados ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). Nessa toada, diversas empresas já têm disponibilizado cartões com um valor que pode ser usado como o colaborador desejar. 

Com cinco anos de atuação no mercado de benefícios e cerca de 35 mil clientes de todos os portes, a Caju permite que as empresas ofereçam uma gama de vantagens aos seus funcionários. Os valores podem ser usados em segmentos diversos, como mobilidade, saúde, educação e cultura em mais de 4 milhões de estabelecimentos atrelados à bandeira Visa. Para a diretora de marketing Mariana Hatsumura, era nítido que haviam falhas no mercado tradicional de benefícios. 

“Houve pouca evolução ao longo dos últimos anos e sobrava insatisfação. Não é por acaso que muitos trabalhadores vendiam seus vales, uma vez que não podiam gastar aquele valor de outra forma. Cada pessoa tem uma necessidade e isso influencia na sua decisão de entrar ou permanecer em uma empresa. Cerca de 65% dos nossos clientes enxergam os benefícios como um fator importante para atração e retenção de talentos”, afirma. 

Uma pesquisa divulgada no ano passado realizada pela LCA, encomendada pelo iFood, apontou que 36% dos trabalhadores estão insatisfeitos com as empresas emissoras de seus cartões de vale-alimentação e vale-refeição. Cerca de 38% reclamam que a bandeira atual não é aceita em todos os estabelecimentos e 39% apontam que a bandeira atual não oferece serviços inovadores.

Para Mariana, a pandemia reforçou também a necessidade de haver benefícios flexíveis. Com a necessidade de trabalhar em casa, as demandas também mudaram. “Vi diversos absurdos, como trabalhadores recebendo auxílio transporte ou vale-refeição e sem poder usar os valores. Esse período, aliás, mudou as relações de trabalho. Cerca de 56% dos funcionários dos nossos clientes, hoje, trabalham em home office ou modelo híbrido”, diz. 

Mariana Hatsumura, diretora de marketing da Caju. Foto: Divulgação

Além desse valor mensal, a empresa também oferece às empresas a gestão de gastos corporativos - eliminando a necessidade de reembolsar os funcionários - e a possibilidade de premiar os colaboradores por meio de um saldo que pode ser usado livremente. 

“Em 2022 também recebemos um aporte de US$ 25 milhões (cerca de R$ 136 milhões) para entrar no mercado de software as a service (SaaS) e diversificar nosso negócio. Agora, além dos benefícios flexíveis, também oferecemos tecnologias para gestão de despesas e de admissão de colaboradores - fortalecendo a eficiência operacional do RH. Nossa expectativa é dobrar de tamanho neste ano em relação a 2023”, garante. 

Alisson Batista, professor de Ciências Contábeis e diretor da Estácio Floresta, destaca que as empresas também têm vantagens econômicas ao oferecer os benefícios. “A folha de pagamento tem diversos encargos, como o INSS, e quando a empresa oferece um valor fora do salário ela acaba tendo um alívio, uma vez que os encargos não incidem sobre os benefícios”, explica. Com a Caju, por exemplo, o empresário paga apenas uma taxa de 2% sobre o valor depositado para os funcionários.

Ele aponta que as empresas também podem conseguir descontos no Imposto de Renda por conta do pagamento dos benefícios. “Além disso, há uma redução de 9% a 14% nos tributos em geral. Sem falar que, se a empresa paga o salário e o benefício em dias diferentes, ela pode usar essa ‘janela’ para investir o dinheiro e gerar dividendos.” 

Saúde mental: bom para os funcionários e para a empresa

Uma das empresas parceiras da Caju na oferta de benefícios é a Wellhub, a antiga Gympass. A mudança de nome ocorreu em maio deste ano e, de acordo com Priscila Siqueira, líder do Wellhub no Brasil, o novo posicionamento vai servir para colocar a empresa como uma plataforma que proporciona bem-estar e não apenas “descontos em academias”. 

“Os usuários do benefício corporativo têm à disposição diversas atividades, como musculação, terapia, mindfulness, meditação, nutrição e qualidade do sono. Além disso, também fornecemos coachs de bem-estar para apoiar os funcionários em suas jornadas pessoais, oferecendo planos personalizados e aconselhamento especializado”, explica. 

De acordo com a Wellhub, que acumula mais de 15 mil clientes em 11 países, o investimento em saúde e bem-estar tem contribuído como fator decisivo para que funcionários decidam se candidatar para vagas. Estudos realizados pela empresa com mais de 5 mil trabalhadores em nove mercados revelaram que 96% das pessoas afirmam que, na busca pelo próximo emprego, levarão em conta apenas empresas que claramente priorizam o bem-estar. Além disso, 93% dos profissionais consideram o bem-estar tão importante quanto o salário. 

“Para a empresa, também é vantajoso economicamente. De acordo com o estudo anual ROI do Bem-Estar 2024, realizado com 2 mil líderes de RH em nove países, 95% observaram uma redução no número de licenças médicas após a implementação do programa e 93% das empresas relataram economias nos custos de saúde. O bem-estar causa um impacto direto no desempenho da empresa”, garante. 

Números da Organização Mundial da Saúde revelam que 264 milhões de pessoas sofrem depressão e ansiedade e causam uma perda de US$ 1 trilhão na economia mundial todo ano. A mesma pesquisa afirma que, para cada US$ 1 investido em ações que promovem melhorias na saúde e bem-estar mental dos colaboradores, US$ 4 são percebidos em ganhos com o aumento da produtividade.

Nichar para lucrar 

Com mais de 20 anos de atuação no mercado, a mineira Central dos Benefícios resolveu nichar para poder se destacar, e oferece produtos relacionados a seguros de vida, planos odontológicos e planos de bem-estar. De acordo com o CEO Igor Marques, um dos principais desafios é vencer o preconceito em relação a esse tipo de serviço. 

“Muita gente acha que vai pagar para não usar. Porém, a pandemia veio para mostrar o quanto é importante estar assegurado. Além disso, os colaboradores contam com diversas coberturas e assistências, como gratificação por casamento, reembolso de material escolar e cesta básica”, detalha. 

A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não estabelece a obrigatoriedade da contratação do seguro de vida para os funcionários. Porém, existem algumas convenções coletivas que tornam essa modalidade de seguro obrigatória em determinados segmentos de trabalho - como construção civil, postos de combustíveis e alguns setores da indústria. 

Igor Marques, CEO da Central dos Benefícios. Foto: Divulgação

Com 14 mil empresas em sua cartela de clientes, e cerca de 300 mil funcionários impactados através delas, a Central dos Benefícios também decidiu focar no nicho das micro e pequenas empresas - que atendem uma média de 30 funcionários. Segundo o empresário, o know how e o volume de contratos negociados faz com que seus clientes também tenham menor custo e mais celeridade no processo. 

“De forma convencional seria muito mais demorado, pois a empresa precisaria procurar um corretor e realizar diversas cotações. Por termos um trabalho bastante focado, já conhecemos as burocracias envolvidas e ganhamos agilidade. Além disso, nossos clientes conseguem contratar seguros até 30% mais barato conosco”, garante.