A Morfo, startup franco-brasileira de reflorestamento em larga escala com uso de Inteligência Artificial, ciência de ecossistemas e drones, esteve na Exposibram, na manhã desta quarta-feira (11), para mostrar casos concretos de como sua metodologia patenteada tem aumentado a velocidade de recuperação ambiental em áreas esgotadas pela mineração, com foco na biodiversidade vegetal.
Um dos projetos de sucesso da Morfo foi a revegetação e reflorestamento em uma mina de ouro aluvial no noroeste da Guiana Francesa, dentro do bioma amazônico. Em Crique Korossibo, numa área acessível apenas por via aérea, foram reabilitados 30 hectares de terra em um plantio que durou dois dias com uma equipe de duas pessoas e um drone. O monitoramento, feito por satélite, drones e visitas ao local, mostra que, em três anos, a cobertura vegetal saiu de 0,3% para 74% e o número de espécies saltou de um para 24. Além disso, a taxa de solo descoberto passou de 84% para 19%.
“A ciência é uma condição essencial para uma estratégia de restauração eficiente; desenvolver um forte conhecimento sobre as espécies e a interação entre elas, bem como outros elementos como solo e água, permite adaptar e refinar padrões de plantio e construir ecossistemas resilientes", disse Adrien Pages, CEO da Morfo.
No Brasil, a startup estabeleceu uma parceria este ano com a Hydro Paragominas para a recuperação de 50 hectares no Pará, também no bioma amazônico. Com a Mosaic, está desenvolvendo um Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas (PRADA) em uma área de 251 hectares de cerrado em Minas Gerais para mitigar impactos ambientais e promover a conservação da biodiversidade, em especial de espécies ameaçadas. "Para além dos clientes em mineração, a Morfo está à frente de um importante projeto da prefeitura do Rio de Janeiro, que, ao longo dos próximos três anos, vai recuperar 100 hectares de Mata Atlântica na zona oeste do município dentro de uma série de ações para a redução dos impactos das ondas de calor na cidade", afirmou o CEO.
Com a missão de restaurar 1 milhão de hectares de terras degradadas nos próximos 10 anos, a companhia, que foi reconhecida pelo Trillion Trees Challenge do Fórum Econômico Mundial, pelo programa Google Startup for Sustainable Development e pelo selo Solar Impulse Efficient Solution, tem atualmente 20 projetos em andamento. Ao longo do ciclo de vida de restauro, a economia de um projeto pode chegar a 40%. Também é possível reduzir em até 20 vezes o número de pessoas em campo em grandes áreas e, consequentemente, os riscos de acidentes em regiões de encostas ou de difícil acesso.
Como funciona o plano de restauração da Morfo?
Tudo começa com o diagnóstico do solo, feito a partir de imagens de satélite e de drones para mapear a topografia, os recursos hídricos e a cobertura vegetal existente - se é composta de vegetação nativa ou de espécies invasoras, por exemplo. Em laboratório, outras características são analisadas, como a compactação, a umidificação e a composição mineral e orgânica. Mesmo em se tratando do mesmo bioma, de acordo com o estado do solo, a área pode ser dividida em subáreas, cada uma recebendo uma preparação diferente, por exemplo.
Com o estudo em mãos, a próxima etapa consiste na identificação de, no mínimo, 20 espécies nativas com mais chances de sucesso para aquele solo, incluindo variedades dos três estágios da sucessão ecológica, como plantas rasteiras, arbustos e árvores. Essa seleção também é feita em laboratório, com testes que avaliam a taxa de germinação, as substâncias necessárias para a fixação e crescimento e quais podem ser plantadas in natura e quais vão precisar serem envoltas em uma cápsula nutritiva.
Após essa definição, o plano de plantio é feito por inteligência artificial, que calcula quais sementes serão plantadas em quais áreas, junto com quais espécies, a proporção de sementes de cada uma delas e a quantidade necessária para cada espaço, criando padrões de plantio complexos, que a própria Morfo chama de “plantação inteligente”.
A terceira etapa é a dispersão das sementes encapsuladas e in natura de acordo com o plano, feita com uma equipe de duas pessoas e um drone. Uma das vantagens desse método é a facilidade de logística para áreas remotas, sem a necessidade de deslocamento de uma equipe numerosa, tornando o processo mais seguro para os colaboradores envolvidos. Além disso, o drone tem todo o plano de voo pré-determinado, a fim de garantir o nível máximo de segurança para a equipe.
Como um único drone é capaz de cobrir entre 25 e 50 hectares por dia e chega a ser até 50 vezes mais rápido do que soluções tradicionais de reflorestamento, o que também reduz o tempo de permanência da equipe em locais isolados e de difícil acesso. O método também dispensa os meses de nutrição em viveiro das mudas, assim como o transporte delas até a região do plantio.
Com as sementes no solo começa a etapa de monitoramento, feito com imagens de satélites e de drones, que usa inteligência artificial para estudar a evolução da cobertura vegetal e também da biodiversidade. Essa avaliação também permite a rápida solução para eventuais imprevistos, como eventos climáticos adversos ou o surgimento de espécies invasoras.
Todas essas informações ficam disponíveis em uma plataforma personalizada e intuitiva, para que o trabalho possa ser acompanhado de perto pelo cliente, sem a necessidade de deslocamento de colaboradores. “Enquanto muitos planos de reflorestamento terminam após o transplante da muda, nós entendemos esse controle como essencial para o sucesso do projeto, com vistorias feitas trimestralmente nos primeiros dois anos”, explicou Adrien Pages.