Os motoristas que precisaram abastecer o carro ou a moto em algum posto de Belo Horizonte neste sábado (1º de fevereiro), pagaram um pouco mais caro do que nos últimos dias. Isso porque os preços da gasolina e do diesel aumentaram neste primeiro dia do mês de fevereiro. A reportagem de O TEMPO percorreu a Avenida Antônio Carlos, região da Pampulha, em Belo Horizonte, e viu diferença de preço em três postos. O valor variou entre R$ 6,17 a R$ 6,47.
O auxiliar de esportes João Costa, de 42 anos, parou em um desses postos para abastecer a moto e tomou um susto quando viu o preço. “Eu passei aqui tem nem 20 minutos, mas não hora não consegui parar e estava R$5,99. Agora que vim abastecer já está R$6,19. Aconteceu de uma hora pra outra, assim fica difícil”, reclamou.
E para quem trabalha na rua como motorista de aplicativo, o prejuízo é ainda maior. Lucas Costa, de 24 anos, está nessa profissão há três anos, e agora já sabe o que vai fazer para não ser tão impactado com o aumento da gasolina. “A solução é trabalhar dobrado, parar menos durante o dia. Esse aumento impacta demais no fim do mês. Parece pouco, mas no dia 30 faz muita diferença. Se não trabalhar mais, a conta não fecha”, afirmou João.
Já a empresária Camila Azevedo, de 36 anos, diz que a família gasta cerca de R$300 por semana para encher o tanque. Com o aumento, ela prevê mais R$30 nesse gasto semanal. “Assustamos que chegamos aqui. Tudo está aumentando, né. A gente já pensa em tirar o carro um pouco da nossa rotina. Alguns trajetos que fazíamos com o veículo, vamos fazer a pé, caminhando. É uma forma de sentir menos esse impacto”, comentou.
O aumento acontece após uma alteração nos valores do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que incidem sobre os combustíveis. O crescimento vale para todos os estados do Brasil, e ocorre em momento de pressão sobre a política de preços da Petrobras.
A mudança em relação ao ICMS foi aprovada em novembro do ano passado, em reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). No caso da gasolina, a cobrança do tributo passou de R$ 1,3721 para cerca de R$ 1,47 por litro. O salto, nesse caso, foi de 7,14%. Já para diesel e biodiesel, o ICMS subiu de R$ 1,0635 para R$ 1,12 por litro, um crescimento de 5,31%.
“Esses ajustes refletem o compromisso dos Estados em promover um sistema fiscal equilibrado, estável e transparente, que responda adequadamente às variações de preços do mercado e promova justiça tributária”, argumentou o Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz).
Pressão
O aumento do preço dos combustíveis a partir de fevereiro ocorre em um momento de pressão do mercado sobre a Petrobras. A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) afirmou que os valores cobrados pela gasolina e diesel no Brasil estão defasados, em comparação ao mercado internacional. O percentual médio seria de R$ 0,85 para o óleo diesel e de R$ 0,37 para a gasolina, conforme os importadores.
Em contato da reportagem de O TEMPO, no último dia 21, o presidente da Abicom, Sérgio Araújo, salientou que a defasagem tem consequências que podem afetar os consumidores caso não se tenha um reajuste da Petrobras. "Os importadores independentes podem se afastar da atividade, deixar de fazer a importação em função da maior dificuldade para comercialização do produto que está mais caro. Não temos nenhuma indicação de desabastecimento, mas, sem dúvidas, o preço defasado afasta os importadores", exemplificou.
A diferença em comparação ao mercado internacional tem relação com as altas do dólar, desde o final do ano passado. O diretor comercial na Valêncio Consultoria, Murilo Barco, afirmou que também há impactos gerados pela alta da cotação do barril de petróleo no mercado externo. Os cálculos feitos pela empresa, segundo ele, indicam uma defasagem menor que a observada pela Abicom.
“Essa defasagem no longo prazo, tende a fazer com que o mercado sofre dificuldades para realizar importação, principalmente de diesel, que hoje é o nosso grande problema. As tradings e distribuidoras regionais, tendem a "tirar o pé”das importações, pois fica inviável financeiramente, trazer o produto e esse custo e até mesmo repassar isso ao mercado, pois as distribuidoras regionais não têm a mesma capacidade financeira e capilaridade que as grandes distribuidoras têm”, afirmou.