Nessa quarta-feira (19 de março) o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, passando de 13,25% para 14,25% ao ano. Esta foi a quinta elevação consecutiva da Selic, sendo que as três mais recentes foram de 1 p.p. A estratégia de elevação é uma ferramenta clássica do BC para tentar conter a inflação - que, conforme Boletim Focus, está em 5,66% na previsão para 2025, bem acima da meta de 3% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Mas qual a relação entre esses dois fatores? Por que elevar a Selic ajuda a frear a inflação?

O que é a Selic?

Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, uma infraestrutura administrada pelo BC que se destina à custódia de títulos escriturais de emissão do Tesouro Nacional, bem como ao registro e à liquidação de operações com esses títulos. Como o próprio nome diz, ela é a Taxa Básica de Juros, ou seja, a “fórmula” que influencia todo tipo de juros cobrados em qualquer tipo de transação por bancos e financeiras. 

E o que é inflação?

Resumidamente, a inflação é o aumento de preços de bens e serviços. Quando estão mais caros, o cidadão perde poder de compra (com o mesmo salário e inflação alta, ele compra menos produtos do que quando a inflação está mais baixa). Um dos índices que mede a inflação no Brasil é o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que leva em consideração um conjunto de produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal das famílias, como habitação, alimentação, energia elétrica, transporte e outros.

Mas, então, qual a relação Selic x Inflação?

A professora da Uninter, Aleksandra Cabrita, explica que, ao elevar os juros, o Banco Central torna o crédito mais caro. Isso impacta diretamente no consumo e no investimento - pessoas que pretendiam comprar imóveis financiados, por exemplo, desistem da compra porque os juros ficam muito altos. “Isso diminui a demanda por bens e serviços, ajudando a frear o aumento de preços”, diz. Freando o aumento de preços, há impacto na inflação. A especialista pondera, no entanto, que esse efeito não é imediato e pode levar alguns meses para se materializar, além de gerar impactos negativos no crescimento econômico. 

“Uma questão importante é que taxas de juros mais altas tornam o Brasil mais atrativo para investidores estrangeiros em busca de retornos maiores em títulos públicos. Isso pode fortalecer o câmbio e reduzir o custo de importações, o que também contribui para o controle da inflação”, explica Aleksandra.

Pontos positivos

Quem fica feliz com a Selic alta é o investidor, como explica Aleksandra: “quando se trata do mercado financeiro, por exemplo, a rentabilidade de investimentos em renda fixa (como títulos públicos e CDBs) tende a aumentar, atraindo recursos que poderiam ser destinados à bolsa de valores ou a investimentos produtivos”.

O economista e sócio da Cimo Family Office, Caio Teruel, lembra ainda que esse movimento de aumento da Selic atrai os investidores porque influencia a precificação dos juros futuros. “Esses juros indicam a taxa que os investidores receberão ao aplicar em títulos com vencimentos mais longos. Esse ajuste nas taxas ao longo do tempo é conhecido como movimento na curva de juros”, diz. 

Mas por que muitos economistas criticam as mais recentes medidas do BC?

O Conselho Regional de Economia da 2ª Região – SP (Corecon-SP), por exemplo, apresentou diversos pontos para explicar por que a medida de aumentar a Selic, na atual conjuntura, não seria uma medida tão efetiva. Entre eles, o conselho cita a questão da inflação dos alimentos, que não seria impactada diretamente pela alta de juros. “O maior impacto inflacionário veio da alta dos preços dos alimentos, influenciada por fatores climáticos, como as secas e as enchentes, além do ciclo do boi, que afeta a oferta de carne”, diz a entidade.

Nessas situações, o aumento da Selic tem pouca ou nenhuma eficácia, pois os juros elevados não reduzem o preço dos alimentos nem alteram as condições climáticas. Ao contrário, aumenta o custo do capital para todos e isso vai ser repassado aos preços. O sacrifício da redução da inflação recai sobre toda a sociedade, especialmente para os tomadores de recursos financeiros”, alertam os conselheiros em carta divulgada nessa quarta-feira (19).

Além disso, a professora Aleksandra pontua que, “em tempos de aceleração da inflação, a política de elevação da Selic é uma medida necessária, especialmente quando há pressões de demanda e descontrole de expectativas”, diz. No entanto, pondera: “a Selic é eficaz para conter a inflação, mas seu impacto é desigual. Enquanto setores dependentes de crédito sofrem mais, outros podem ser menos afetados. O aumento da Selic pode também desacelerar a economia, reduzindo o consumo e o investimento. Em um cenário de baixo crescimento ou recessão, isso pode agravar problemas sociais, como desemprego e desigualdade”.