Durante a 29ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku, no Azerbaijão, chegou-se ao consenso de que é necessário levantar US$ 1,3 trilhão até 2035 para mitigação, adaptação e compensação por perdas referentes a mudanças climáticas em países em desenvolvimento. Mas de onde vão sair esses recursos?
Essa é a grande questão que norteia o II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza, que está sendo realizado nesta segunda (26) e terça-feira (27), no Rio de Janeiro, por sete entidades com foco ambiental. A intenção é antecipar parte do principal debate da COP30, que acontece em novembro, em Belém (PA).
O evento, que reúne representantes do poder público e da iniciativa privada de diversos países, tem como objetivo fomentar uma reflexão estratégica sobre o papel da arquitetura financeira global na promoção de um desenvolvimento econômico aliado aos compromissos climáticos e de preservação da natureza.
Josué Tanaka, membro sênior honorário em finanças climáticas no Imperial College London, fez parte do grupo de especialistas que definiu o valor de US$ 1,3 trilhão em Baku para a cobertura dos custos referentes ao aquecimento do planeta.
Segundo ele, finalmente o mundo passou a falar em um número que realmente chega ao tamanho da magnitude da questão. “Parece um número muito grande, mas há recursos para isso. Somente a soma dos ativos dos bancos no mundo é de US$ 140 trilhões”, argumentou.
Durante o primeiro painel realizado no fórum, o especialista explicou que bancos multilaterais (como o banco dos BRICs, por exemplo) e os bancos de desenvolvimento são fundamentais para o processo de financiamento da agenda climática, mas não podem ser os únicos atores desse processo.
Para ele, é preciso investir em capacitação para formar pessoas que saibam construir projetos, além de engajar a população.
Iniciativa privada
O ex-ministro da Fazenda brasileiro Joaquim Levy foi um dos convidados de um painel sobre a importância de bancos multilaterais e de desenvolvimento no financiamento de projetos ligados à agenda climática.
Ele deixou claro que não só essas instituições de fomento e o poder público devem se engajar na agenda climática, como também a iniciativa privada.
“Empresas, especialmente de capital aberto, devem demonstrar qual proposta para redução de emissão de carbono, o que estão fazendo, quais são as metas, o que ainda vai ser feito. Isso é importante não somente para as empresas, mas também para a sociedade. Mas isso não acontece de uma hora para a outra”, afirmou.
Rachel Kyte, enviada especial para o clima do Reino Unido, reforçou durante o evento a importância de se desenvolver regulações nos mais diferentes processos produtivos para que todos ajam conforme a urgente necessidade de se barrar o aquecimento global.
“(Na COP de 2015 em Paris) erramos ao achar que poderia ser de forma voluntária, não é possível. Líderes podem até querer mudanças, mas quem está abaixo precisa regulamentação para agir”.
Expectativa
O fórum foi importante para que especialistas de diferentes países falassem sobre a grande expectativa que existe em torno da presidência do Brasil para a COP30, em Belém - sobre como o país-sede vai liderar o debate em torno de metas e financiamento.
CEO da Fundação Europeia do Clima, a francesa Laurence Tubiana disse esperar que a diplomacia brasileira dê voz aos países mais vulneráveis e impactados pelas mudanças climáticas - como as nações insulares do Pacífico. “Nas outras COPs, eles acabaram sendo descartados da discussão”, argumentou.
O britânico Alok Sharma, que presidiu a COP26, em Glasgow, na Escócia, afirmou que o evento em Belém deve ter como prioridades, além do financiamento, a restauração de florestas, a substituição de combustíveis poluentes e metas mais ambiciosas para a redução de emissão de gases que provocam o aquecimento global.
Analista do Climate Analytics, Dimitris Tsekeris colocou que a COP30 pode ser marcante na história do debate mundial sobre mudanças climáticas - como foi no Rio de Janeiro, em 1992, ou em Paris, em 2015. “É uma oportunidade de reinício global de um debate sobre mudanças climáticas com mais esperança e cooperação. A próxima COP tem que ser um sucesso”.
A repórter viajou a convite do e-mundi e o Instituto Clima Sustentabilidade