A elevação - e possível manutenção - da taxa básica de juros, a Selic, em 15%, pode comprometer o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária. A avaliação foi feita por representantes do setor, durante coletiva de apresentação dos resultados de 2024, quando a soma das riquezas do agro somou R$ 235 bilhões, um salto de 10% em comparação ao ano anterior.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Antônio Pitangui de Salvo, diz que junto com questões climáticas, como a estiagem prolongada nos dois últimos anos, a elevação da taxa contribuiu para a queda de 0,5% na produção, observada no ano passado, mas também reflete na redução de 5,6% observada no primeiro trimestre deste ano.
“Existe uma insegurança institucionalizada colocada em nível de Brasil que você fica inseguro de investir. Então, o investimento e a capacidade produtiva estão diretamente ligados à segurança que o produtor tem para continuar produzir”, disse.
Salvo destaca que os aportes no campo são para ganhos a longo prazo, reforçando a necessidade de um ambiente econômico e político mais favorável a investimentos. “Você tem que ter uma segurança a longo prazo e isso não tem acontecido no governo federal, que não está dando ao produtor a segurança. Então, certamente, se não é problema climático é problema governamental. Nós, apesar de tudo, continuamos fazendo a nossa parte e vamos continuar produzindo para garantir segurança alimentar e tranquilidade para o Brasil”, resume o presidente da Faemg que criticou a alta de gastos da União.
“Uma segunda taxa de juros mais alta do mundo ameaça tudo. Não temos condição de ter um governo que gasta mais e, para isso, tem que segurar para não ter investimento. É impossível trabalhar com dois dígitos. Não é possível um país suportar isso. Nós não suportamos”, completa.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Thales Fernandes, endossa a crítica sobre o valor para obtenção de crédito para investimentos nas propriedades rurais. “O otimismo sempre nos permeia, a gente acredita que pode melhorar. Mas as situações que nós temos hoje, principalmente do crédito agrícola nos limitando, e as questões climáticas, a gente acredita que esse cenário deve permanecer”, sinaliza o secretário.
PIB em 2024
No ano passado, a inflação sobre commodities agrícolas resultou em um crescimento de 10% na arrecadação do setor. O café, principal produto exportado, encareceu mais de 80% nos últimos doze meses, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em função de quebras na produção ocasionadas por longos períodos de estiagem nos dois últimos anos.
No ano passado, as exportações do produto somaram US$ 7,9 bilhões, com o embarque de 31 milhões de sacas ao exterior. “Chamou a nossa atenção a forte elevação dos preços de commodities agrícolas importantes para a economia”, ressalta o pesquisador da Fundação João Pinheiro, Raimundo Leal. O especialista acredita que o cenário para o café deve se manter em 2025.
“Ainda vai levar algum tempo para que haja a recuperação desses patamares mais elevados de produção”, sinaliza Leal, que diz ser necessária a adoção de novas tecnologias para impulsionar a produção e reduzir o impacto da agenda climática.