Tecnologia que tem se tornado fundamental para agilizar operações e reduzir custos no campo, os drones também têm se mostrado muito eficientes em gerar negócios. Em Minas Gerais, não são poucas as empresas que faturam alto com a venda de equipamentos, serviços de manutenção e capacitação de pilotos. E a perspectiva é de expansão do mercado nos próximos anos. Segundo um estudo realizado pela Mordor Intelligence, o mercado global de drones agrícolas é estimado em US$ 2,41 bilhões (cerca de R$ 13,23 bi) em 2025 e deve atingir US$ 5,08 bilhões (cerca de R$ 27,88 bi) até 2030 - um crescimento de 16,05%.
Quem tem ganhado terreno neste segmento é o engenheiro mecânico e mestre em engenharia aeronáutica Jamerson Cunha. Após trabalhar por anos na companhia de aviação Gol e utilizar os drones para fins recreativos, ele resolveu empreender e abriu, em 2020, a Facilit'Air - empresa situada em Belo Horizonte voltada para prestação de serviços e cursos para pilotagem. O negócio fatura R$ 5 milhões por ano e prospecta crescimento.
“No início era até difícil vender o serviço, poucos produtores no campo sabiam do que se tratava. Hoje, o cenário mudou e a nossa dificuldade é encontrar espaço na agenda para encaixar os clientes. Temos tido um crescimento médio de 45% ao ano. Fora do período de maior demanda no Sudeste, que vai de novembro a março, também criamos a estratégia de atender fora de Minas Gerais para continuar faturando. Entre maio e setembro vamos para o Nordeste, principalmente Alagoas, Pernambuco e Maranhão”, afirma.
A empresa também investe na venda de cursos, uma vez que um dos maiores desafios do setor é a crescente demanda por mão de obra qualificada. Os cursos variam entre R$ 1 mil a R$ 7 mil, dependendo do nível de complexidade e área de especialização. “A capacitação, além de obrigatória, é importantíssima, uma vez que são equipamentos caríssimos, que podem custar R$ 200 mil”, aponta. Ao todo, a empresa já capacitou mais de 800 alunos até hoje.
Depois de formados, os alunos podem empreender ou procurar oportunidades em empresas que prestam serviços no campo. De acordo com Jamerson, a remuneração de um piloto no mercado formal pode variar de R$ 3 a R$ 5 mil, dependendo do tamanho da empresa, da experiência do funcionário e das comissões extras por hectare atendido. Em negócios mais robustos, os ganhos do funcionário podem variar de R$ 7 a R$ 15 mil.
“Já os ganhos de quem trabalha por conta própria varia de acordo com diversos fatores. Já vi casos de pilotos que faturaram R$ 18 mil em um único dia. Mas, para isso, é preciso atender uma área sem obstáculos, com condições climáticas favoráveis e com drone de grande porte, com capacidade média de 40 litros e em bom estado de funcionamento. Seria preciso pulverizar uma área de 120 hectares em um único dia, cobrando cerca de R$ 150 por hectare”, calcula.
Atualmente, a atividade de piloto de drone é regulamentada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que exigem que o interessado tenha mais de 18 anos, condições físicas adequadas e esteja registrado no Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
O profissional deve também concluir o Curso para Aplicação Aeroagrícola Remoto (CAAR), regulamentado pela Portaria n.º 298 do Ministério da Agricultura. A formação pode ser feita em formato on-line, presencial ou híbrido, com carga mínima de 28 horas.
Quem viu na área uma oportunidade de mudar de carreira foi Fernando Andrade. Após 18 anos trabalhando com segurança, como agente penitenciário e no ramo de transporte de valores, ele aproveitou o gosto pela tecnologia e fez um curso de piloto há cerca de três anos. Pensou em empreender na área, mas acabou contratado pela Facilit'Air.
“Além de ter uma rotina mais ajustada, com horários mais definidos, hoje não corro riscos, como antes, e consegui aumentar meus ganhos. Recebia em média R$ 4 mil e hoje consigo tirar R$ 7 mil. Há meses até melhores, dependendo do tipo de operação que realizo e das comissões que recebo”, comemora.
Alexandre Martins, analista de formação profissional do Sistema Faemg Senar, aponta que o interesse por esse tipo de formação também anda alta por lá. “Hoje, o curso de drone é a segunda qualificação mais procurada no Senar Minas, atrás apenas da capacitação sobre máquinas agrícolas. É um reflexo do mercado, que tem necessitado cada vez mais de uma mão de obra qualificada. Somos procurados tanto por produtores, que desejam treinar seus funcionários, quanto por pessoas que desejam trabalhar por conta própria”, diz.
Os treinamentos envolvendo drones acontecem desde 2017 e uma equipe de 37 instrutores ensinam sobre assuntos diversos - como pulverização de defensivos, operações básicas e mapeamento e interpretação agronômica de imagens. “Já tivemos 19.964 participantes treinados até hoje. As demandas acontecem em todo o território de Minas Gerais, com diferentes modalidades de treinamento em função das características regionais”, afirma.
Diversidade de atuações
A Atlantic Drones, empresa sediada no Paraná e que conta com uma filial em Luz, no Centro-Oeste mineiro, atua há 4 anos no mercado agrícola e tem como estratégia atender em três frentes principais. Além de realizar a pulverização, com uma equipe de pilotos treinados, a empresa também comercializa os equipamentos importados no país e realiza assistência técnica para os clientes.
“O mercado está aquecido e a venda de drones e peças é o que representa a maior parte do nosso faturamento. Em média, um kit completo (incluindo drone, baterias, gerador e carregador) pode custar a partir de R$ 100 mil. Vendemos principalmente para o Centro-Oeste, Sul e Sudeste, com Minas Gerais entre os destaques. Em 2024, tivemos um faturamento de R$ 13 milhões e a perspectiva para este ano é de crescimento de 30%”, conta Suelen Souza Gonçalves, diretora de operações.
A empresa também tem cumprido um importante papel como formadora de novos pilotos - mesmo que não ofereça a venda de cursos. Os colaboradores que trabalham com pulverização passam um ano como ajudantes, fazendo treinamentos e aprendendo o dia a dia do serviço até concluírem o Curso para Aplicação Aeroagrícola Remoto (CAAR). Guilherme Della Croce, diretor do setor de pulverização, comanda uma equipe de 10 pessoas e explica sobre o funcionamento dessa dinâmica.
“Geralmente eles atendem em duplas, formadas por um piloto e um ajudante. Quem está auxiliando aprende a trabalhar com o mais experiente e vivencia o dia a dia do campo. Não adianta tirar o certificado sem experiência prática, é preciso vivenciar as dificuldades. Ficamos muitos dias fora de casa, viajando, trabalhando no sol, respirando poeira. Além de aprender o serviço, os mais novos também podem decidir se realmente querem se tornar pilotos”, aponta.
Apesar das dificuldades de trabalhar no campo, ele lista a vantagem financeira como um dos atrativos para a profissão. “Enquanto um ajudante recebe cerca de R$ 3.500, um piloto dentro da empresa pode chegar a tirar R$ 20 mil em um mês, somando o salário base e as comissões. Então, essa ascensão dentro da carreira também estimula a formação dessa mão de obra no país”, diz.
Mudando de foco, mas ainda de olho nos drones
Os sócios Thomaz Lemos Alves e Carlos Ribeiro apostaram na prestação de serviços com os drones quando decidiram fundar, em 2015, a Sensix Tecnologia - empresa sediada em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, mas que atende produtores de todo o país. Com o tempo, no entanto, a dupla percebeu outro potencial de negócio, o processamento de imagens e dados para a tomada de decisões, e desenvolveu a FieldScan, plataforma que gera prescrições a partir de dados de solo, satélite, drones e máquinas.
“Fomos conciliando as duas atividades, de voos de drone e processamento das imagens, até que, em 2019, passamos a trabalhar apenas com a plataforma. Apesar de não voarmos mais, os drones ainda são importantes em nosso negócio, pois processamos as imagens registradas no equipamento do produtor ou de terceirizados por ele”, explica Thomaz.
Com as imagens registradas pelos drones, e processadas pela plataforma, os produtores têm uma importante ferramenta em mãos para decidir sobre aspectos estratégicos da produção - como aplicação de defensivos ou fertilizantes.
“O resultado é o aumento da produtividade e a redução de custos. Em plantações de algodão, por exemplo, já conseguimos aumentar em R$ 1.200 de lucro por hectare com a aplicação de reguladores de crescimento em taxa variável, prescrito por meio do processamento de imagens”, diz.
Ele também destaca que os drones apresentam algumas vantagens em relação a outras tecnologias. “Enquanto o satélite tem resolução de 3 a 10 metros por pixel, o drone tem de 3 a 5 centímetros por pixel, o que confere um nível de detalhes maior. Isso é útil na hora de aplicar defensivos em partes específicas da lavoura. Por voar abaixo das nuvens, os drones também não sofrem interferência delas na hora de registrar as imagens”, afirma.
Segunda fonte de renda
Não é só de grandes empresas que vive o crescente mercado de drones agrícolas. O empreendedor David Fragoso, dono da Zagros Drone’s Services, viu potencial no negócio por influência do pai, Renato Fragoso, e decidiu apostar no ramo. Fez cursos de pilotagem, mapeamento e pulverização no Rio de Janeiro, adquiriu um drone T40 e trocou o carro por uma caminhonete. Ao todo, investiu cerca de R$ 500 mil e começou a prestar seus serviços no final de 2023 em sua terra natal, Bom Despacho, na região Centro-Oeste de Minas.
“Hoje, é minha segunda fonte de renda, pois concilio com outras atividades. A época de maior demanda é principalmente entre novembro e março, há semanas em que chego a ter clientes quase todos os dias da semana. Tirando os custos da operação, consigo um faturamento líquido de R$ 50 mil nesse período. Quando eu terminar de pagar os empréstimos que fiz para iniciar os negócios, o retorno será ainda maior”, ressalta.
David conta que presta serviços principalmente de plantio, pulverização e dessecação em agriculturas de soja e milho. Na safra mais recente, atingiu uma média de 2 mil hectares de áreas pulverizadas - número quase três vezes maior que os 700 hectares trabalhados na safra anterior. Segundo ele, além do aumento da demanda, outros fatores também influenciaram no crescimento desse número.
“As dificuldades do terreno e a estrutura de cada cliente contam muito também. Quanto mais difícil o acesso à àrea da lavoura e quanto mais obstáculos existirem (árvores, postes, rede elétrica) por exemplo, mais lento é o trabalho. Houve uma fazenda em que consegui fazer 67 hectares em um único dia. Mas, isso só foi possível porque havia um colaborador da fazenda nos dando suporte. Sem falar que a área praticamente não apresentava obstáculos”, afirma.
Força feminina
Em um universo tão masculino, a engenheira agrônoma Mariana Barbosa se destaca como uma das mulheres que têm contribuído para levar inovação para o campo. Após anos de carteira assinada, ela fundou a Terra Verde Drones em 2023 na cidade de Paraopeba, região Central de Minas, e oferece serviços de pulverização para produtores de diversas culturas em um raio de 300 km da sede da empresa.
“Trabalhamos com milho, soja, feijão, pastagens e eucalipto. Um dos destaques é a banana, que tem trazido muitos clientes para nós. A produção, que era muito concentrada no Norte de Minas, tem se expandido na região Central. É um tipo de cultura suscetível principalmente a doenças e o drone vem como uma ferramenta imprescindível para as pulverizações”, diz.
A empresária aponta que a redução das perdas por amassamentos também é um fator que tem atraído a clientela. “As perdas por amassamento variam de 4% a 10% na lavoura com a utilização de tratores. No drone temos 0% de amassamento, além da agilidade e eficiência que o serviço é feito, a economia que tudo isso gera paga com tranquilidade o serviço contratado. O produtor vê na ponta do lápis as vantagens do nosso serviço”, avalia.
Mariana também aponta que, por se tratar de um serviço que está em fase de ascensão, ainda há muito terreno a ser desbravado. “Sou a única empresa do ramo na minha cidade e há poucas na região onde atuo. O mercado está aquecido para quem quer trabalhar com os drones. Porém, é preciso se capacitar para prestar um bom serviço”, aconselha.