O tarifaço de 50%, decretado nessa quarta-feira (30/7) pelo presidente Donald Trump, pode causar prejuízos bilionários para a indústria de carnes bovinas no Brasil. Só neste ano, o setor estima perdas na casa dos US$ 1,3 bilhão. Nos próximos anos, os prejuízos podem ultrapassar os US$ 3 bilhões anuais, caso a medida seja mantida. Os dados são da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). 

Os EUA são o segundo maior mercado para a carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Em 2024, os EUA responderam por 16,7% do volume exportado, com 532 mil toneladas e US$ 1,6 bilhão em receita, segundo a Abrafrigo.

Vale lembrar que a carne, um dos principais produtos brasileiros exportados para os EUA, ficou de fora da lista de exceções divulgada pelo governo norte-americano. O anexo do decreto que oficializou o tarifaço contra o Brasil trouxe uma lista de quase 700 exceções - incluindo suco de laranja e produtos siderúrgicos, como o ferro-gusa.

Pedro Braga, presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes, Derivados e de Frios de Minas Gerais (Sinduscarne), que reúne cerca de 850 empresas do setor, afirma que ainda não é possível estimar perdas específicas para o estado. No entanto, o setor mineiro também deve sofrer consequências, como o restante do país. 

“Caso a medida seja efetivada, a compra de carne brasileira pelo país norte-americano vai se tornar praticamente inviável. Não sei se as exportações serão zeradas, mas sem dúvida vão cair consideravelmente. Continuamos defendendo o diálogo entre os governos, precisamos encontrar soluções para que nenhum dos países saia prejudicado”, afirma. 

De acordo com dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Sede), Minas Gerais movimentou US$ 114,5 milhões em 2024 com exportações de carne bovina para os EUA.

Alívio temporário 

Em meio a tantas notícias pessimistas, Pedro Braga afirma estar um “um pouco mais aliviado” com a notícia sobre a extensão do prazo para entrada em vigor da alíquota. A tarifa entra em vigor daqui a sete dias para produtos que estão nos Estados Unidos e em 5 de outubro para os que forem embarcados em até 7 dias, de acordo com comunicado do governo dos Estados Unidos.

Estimativas da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) apontam que cerca de 30 mil toneladas da proteína brasileira estavam em alto-mar ou embarcadas nos portos nacionais prontas para serem encaminhadas aos Estados Unidos após o anúncio da imposição da tarifa em 9 de julho. “Isso deve representar cerca de US$ 150 milhões, segundo apuramos junto à Abiec”, aponta o presidente do Sinduscarne. 

Carne mais barata no Brasil?

Questionado se essa carne poderia ser destinada ao mercado interno, e se isso tornaria o preço do produto mais barato no país, Pedro Braga esclarece que os Estados Unidos compram principalmente carne moída e retalhos usados na produção de hambúrgueres. “Não são cortes como picanha ou alcatra. Se, hipoteticamente, esses produtos fossem vendidos aqui, os preços de outros cortes não iriam sofrer grandes alterações”, explica. 

Caso o tarifaço se torne uma realidade concreta a médio e longo prazo, ele aponta que a saída mais provável para o setor será procurar novos mercados externos para destinar a produção nacional. Além de China, União Europeia e Emirados Árabes, que já compram carne brasileira, o Vietnã é apontado pelo presidente do Sinduscarne como um dos potenciais países para futuros negócios 

A expansão do comércio entre o Brasil e Vietnã, inclusive, foi um dos principais assuntos de uma reunião realizada nessa terça-feira (29/7) entre o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Márcio Elias Rosa, e a vice-ministra de Indústria e Comércio daquele país, Phan Thi Thang. Ficou acertada a vinda de uma delegação vietnamita, ainda no início deste segundo semestre, ao Brasil. 

Em 2024, o Vietnã foi o 18º maior destino das exportações brasileiras e o 14º no ranking de países importadores. Os principais produtos brasileiros exportados para o Vietnã são commodities agrícolas, com destaque para algodão em bruto; milho e soja. 

A corrente comercial do Brasil com o Vietnã em 2024 somou US$ 7,7 bilhões, e o saldo brasileiro foi positivo, de US$ 415 milhões no ano. Em 2025, Brasil e Vietnã celebram 36 anos de relações diplomáticas.