Após "penar" com a concorrência chinesa, representada por empresas como AliExpress e Shein, as gigantes do varejo brasileiro registraram altas nos lucros no segundo trimestre de 2025 - em comparação com o mesmo período do ano passado. Um dos motivos foi a famosa "taxa das blusinhas", que completou um ano de vigência neste mês e provocou um efeito positivo no caixa de empresas como Renner, C&A e Riachuelo.
Veja o resultado das três empresas no segundo trimestre de 2025:
- Renner: lucro líquido de R$ 404,5 milhões, 28,4% a mais do que o ano passado;
- Riachuelo: lucro líquido de R$ 143 milhões, registrando um crescimento expressivo de 151,2% em relação ao ano passado;
- C&A: lucro líquido de R$ 200 milhões, uma alta de 138,9% em relação ao ano ano passado.
Desde agosto de 2024, as compras de valores até US$ 50, antes isentas, passaram a ser taxadas em 20%. Para as importações de valores entre US$ 50 e US$ 3 mil, os importados de pequeno valor pagam uma alíquota de 60%. Sobre qualquer valor, incidem ainda o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17% a 20%, dependendo do estado.
Para Roberto Kanter, economista especializado em varejo e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a taxação foi um dos elementos que ajudou a impulsionar os resultados das gigantes do varejo brasileiro.
"A diferença de valor entre produtos similares ficou pequena e, em muitos casos, o consumidor percebe que não compensa esperar tanto tempo por um produto que vem de fora. Ele acaba preferindo retirar na loja ou esperar a entrega de uma empresa brasileira, que é bem mais rápida", analisa.
Ele também aponta que a concorrência com as chinesas fez com que as empresas brasileiras investissem mais em tecnologia, o que também se tornou uma vantagem para captar a clientela.
"As empresas nacionais passaram a dar importância ao processo de compra online e valorizaram ferramentas que unem o digital e a experiência na loja - como o 'compre e retire'. Isso foi fundamental para disputar com a concorrência internacional, que investiu pesado no online para captar compradores de outros países", diz.
Compras internacionais caíram
Enquanto as gigantes do varejo brasileiro registraram alta nos lucros, a "taxa das blusinhas" fez com que as compras de pequeno valor de outros países recuassem ao menor patamar desde 2021.
Dados do Banco Central mostram que, no primeiro semestre deste ano, as importações intermediadas por facilitadoras de pagamento somaram US$ 4,6 bilhões, uma queda de 13,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Os especialistas também apontam que foi a baixa renda a mais afetada pela taxação. Dados da Amobitec, associação que representa empresas de mobilidade e tecnologia, mostram que nos primeiros oito meses de implementação da taxa de 20%, o volume de compras internacionais realizadas pelos consumidores das classes C, D e E caiu 35%. Foram 14 milhões de pessoas que deixaram de importar via sites de comércio online.
Frio que aqueceu as vendas
Ao comentar os bons resultados do segundo trimestre deste ano, a Renner destacou que a performance foi beneficiada por temperaturas mais favoráveis neste inverno, com destaque para datas comemorativas como Dia das Mães e Dia dos Namorados, além de maior participação de itens vendidos a preço cheio.
Para Roberto Kanter, as temperaturas mais baixas em 2025 podem fazer com que os resultados do terceiro trimestre também sejam bem melhores no comparativo com o ano passado.
"Em 2024, as lojas já estavam fazendo liquidação na primeira semana de julho, porque o frio não chegava. Agora, estamos quase no meio de agosto e os preço ainda não caíram. As lojas nacionais também têm a vantagem da compra imediata. Dificilmente alguém vai esperar semanas por um casaco da China. O consumidor quer usar enquanto está frio", analisa.
O professor da FGV também aposta que 2025 terminará com saldo bastante positivo para o varejo brasileiro, mas aponta que fazer projeções para 2026 não é algo fácil.
"Não acho que vamos retroceder, mas também não podemos garantir que vamos continuar crescendo no mesmo ritmo. É ano de eleições, não saberemos como os consumidores vão se comportar", afirma.