No próximo domingo (7/9), por conta do feriado da Independência, Belo Horizonte ficará sem a tradicional Feira de Artesanato da Afonso Pena, a Feira Hippie. É que o desfile cívico-militar acontece justamente na avenida que abriga a feira. E, por causa de um decreto da prefeitura, ficou combinado que, quando as datas coincidem, a feira dá lugar ao desfile (a última vez que isso aconteceu foi em 2008). Sem o principal domingo do mês (logo após o 5º dia útil), os feirantes buscam alternativas para não perder faturamento - entre elas, vender produtos por meio de lives nas redes sociais. 

“Muitos expositores me pediram para ajudar a fazer lives para tentar vender online. Eu vou montar um post para ajudá-los e avisar os seguidores que eles vão fazer. Na pandemia foi assim”, revela Silvia Carvalho, do perfil @silviaindica, que atua ao lado dos feirantes há 26 anos. Ela conta que o clima entre os expositores é de preocupação. “A maioria não tem loja física, eles produzem para levar para a feira. É uma semana sem faturar”, afirma.

O expositor Marcos Ferreira Diniz, de 66 anos, explica que este seria o melhor domingo de setembro, por ser o primeiro após o 5º dia útil, e que a falta da feira pode impactar severamente as vendas. “É prejuízo de 100%. Isso a gente não recupera nunca”, frisa. Apesar disso, o expositor, que faz parte da Feira Hippie há 40 anos, entende que não havia outra saída. “A logística de fechar o centro da cidade impacta muito, não tem como fechar a Afonso Pena outro dia”, comenta, lembrando das sugestões de se fazer a feira em outro dia nos casos de coincidência com o feriado.

Outra sugestão que se ouve é fazer o desfile na Praça da Estação, mas também impactaria severamente o trânsito. “A PBH não pode fechar Afonso Pena e a Andradas, porque você fecha a Afonso Pena e a rota alternativa é a Andradas”, comenta, lembrando que, no Carnaval, por exemplo, isso acontece, mas a logística é pensada durante muito tempo e o impacto no trânsito é gigantesco.

Já Silvia acredita que a Praça da Liberdade é uma opção para o desfile, impactando menos em questão de trânsito. "Quando tem manifestação política lá, inclusive, ajuda, porque a feira fica cheia”, opina. “Aliás, os eventos mais próximos, como as corridas, ajudam muito. Domingo mesmo havia várias pessoas que participaram da corrida da Guarda Municipal”, conta Silvia.

Falta divulgação

Marcos acredita que o fechamento da feira para o desfile de 7 de setembro deveria ser mais bem divulgado pela prefeitura, para os frequentadores se programarem com antecedência. “Cada semana é um público diferente”, comenta, lembrando que o turista que vem conhecer a cidade sem saber que não haverá feira provavelmente não voltará na próxima semana.

Silvia acrescenta que tem recebido muitas mensagens de turistas perguntando sobre hospedagem, se programando para vir justamente no feriado e que vão ter que se reprogramar. “A PBH investe muito pouco na divulgação. A feira não tem uma mídia por parte da prefeitura”, opina Silvia, contando que ela mesma tem divulgado em seu perfil a ausência da feira no próximo domingo.

Quem também está tendo que avisar os próprios clientes de que não haverá feira é a Cláudia Regina dos Reis, do setor de vestuário. “Tem uma cliente minha lá de Fortaleza que estava vindo agora, 7 de setembro, para a feira. Aí eu falei com ela: vem não, porque não tem. Ela não estava sabendo. O pessoal de fora não está sabendo”, conta.

Cláudia, que expõe na feira há 15 anos em um ponto herdado da mãe, conta que o clima entre os feirantes é de conformidade. “Está todo mundo conformado. Mas é um impacto, né. Os boletos estão aí e não vai ter feira. Mas não tem jeito, quando o feriado cai no domingo, tem que ter a parada, e ela acontece na Afonso Pena”, pontua. Sem o trabalho no domingo, a feirante conta que, assim como outros colegas de feira, vai aproveitar para viajar - algo raro para quem trabalha todo domingo.