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Cachaça brasileira quer ser patrimônio nacional na Europa

A principal esperança do setor para que isso aconteça são os acordos bilaterais entre Mercosul e União Europeia, que devem se desenhar no próximo ano

Por Lucas Negrisoli
Publicado em 14 de novembro de 2019 | 18:59
 
 
 
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No México, há a tequila. Na Inglaterra, o uísque. E o verso brasileiro, como escreveu Carlos Drummond de Andrade, é a cachaça.

Contudo, a aguardente ainda não possui o patamar de bem cultural do país no mercado mundial, como ocorre com as outras duas bebidas - coisa que o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) espera mudar nos próximos anos. 

A principal esperança do setor para que isso aconteça são os acordos bilaterais entre Mercosul e União Europeia, que devem se desenhar no próximo ano.

A perspectiva foi anunciada nesta quinta-feira (14), durante evento na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) em que se discutiu o papel da cachaça no mercado internacional. 

Com isso, os produtores esperam que a bebida ganhe reconhecimento como patrimônio brasileiro no mercado europeu, o que já ocorre em países como Estados Unidos, México, Chile e Colômbia.

Segundo o diretor executivo do Ibrac, Carlos Lima, é uma questão de respeito à tradição brasileira e ao “saber fazer” dos produtores nacionais. 

“A cachaça é uma bebida exclusiva do Brasil. O trabalho que vem sendo desenvolvido é para que os outros países a reconheçam como um produto nosso. A bebida está ligada à nossa história, a manufatura dela em outros lugares é uma apropriação indevida”, diz. 

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No Brasil, há 1.307 produtores registrados de cachaça, que é a segunda bebida alcoólica mais consumida no país – com 520,9 milhões de litros vendidos todos os anos. A maior parte da manufatura é em Minas, onde há 525 alambiques. 

O setor movimenta, como um todo, R$ 14 bilhões por ano no país e emprega direta ou indiretamente 600 mil pessoas. A previsão de crescimento do mercado de cachaça é, segundo o Ibrac, de 2% até 2020. A capacidade de produção no Brasil chega a 1,2 bilhões de litros anualmente. 

Contudo, o volume de cachaça efetivamente fabricada varia entre 700 milhões a 800 milhões de litros ao ano, dos quais cerca de 1% é voltado para a exportação, com receita gerada no exterior estimada em US$ 15,6 milhões, segundo o Ibre. 

Altas taxas

A cachaça é um dos produtos mais altamente tributados no Brasil, com 82% do preço de venda do produto resultante de tributos. O percentual é, inclusive, maior do que aquele aplicado ao cigarro no país, fixado em 66,7% em decreto do Poder Executivo promulgado em 2016. 

“Hoje, a cachaça é o produto mais tributado no Brasil, apesar de avanços que tivemos nos últimos anos. É um ponto que precisa ser equacionado para que o setor volte a crescer”, afirma o presidente do Ibrac. 

Informalidade
 
Cerca de 80% dos produtores de cachaça no Brasil estão no mercado informal, segundo informações do Censo Agropecuário do IBGE e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

O instituto averiguou que há 11 mil locais que trabalham com a manufatura da bebida, enquanto apenas 1.300 estão oficialmente registrados como produtores.

Em Minas, a informalidade é ainda maior – há 5.510 manufaturas de cachaça no Estado, mas só 525 delas estão devidamente formalizadas. 

“Havia um discurso de que a alta tributação do setor seria um impedimento para a formalização. Contudo, com a inclusão da manufatura de cachaça no Simples Nacional, ocorreu a diminuição em até 40% dos custos. O que se mantém é a cultura da informalidade, infelizmente”, analisa Lima. 

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