Barragens

Comitê que estuda descaracterização de barragem a montante inicia trabalhos

Trata-se do primeiro passo rumo à extinção das 43 barragens a montante, que oferecem maiores riscos de rompimento, no Estado. Trabalho técnico do Comitê estabelecerá as diretrizes para fim das estruturas

Por Portal Meio Ambiente MG
Publicado em 13 de agosto de 2019 | 22:38
 
 
 
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Minas deu nesta terça-feira, dia 13, um passo importante e concreto rumo à extinção das 43 barragens a montante ainda existentes em seu território. Nesta terça-feira, 13 de agosto, teve início o trabalho técnico do Comitê que estabelecerá as Diretrizes para Descaracterização de Barragens a Montante do Estado. O encontro do grupo ocorreu em reunião realizada no Prédio Tiradentes, na Cidade Administrativa, com a supervisão do secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Germano Vieira, e a coordenação técnica do presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), Renato Brandão.

A composição do Comitê foi estabelecida pela Resolução Conjunta SEMAD/FEAM/IEF/IGAM nº 2.827, publicada em 25 de julho de 2019. Os 19 membros, que têm formações técnicas diversificadas, terão o prazo de 120 dias para conclusão de seus trabalhos. O grupo irá estabelecer as diretrizes, premissas e termos de referência para a descaracterização de barragens que utilizam ou tenham utilizado o método de alteamento a montante em Minas.

O comitê foi criado após a sansão, pelo governador Romeu Zema, da lei nº 23.291/2019. O texto determina a descaracterização de todas as 43 barragens que têm o mesmo método construtivo das estruturas que se romperam em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019). Todas as empresas responsáveis pelas 43 estruturas já apresentaram cronograma de descaracterização junto à Feam. "A proposta de construção conjunta das diretrizes vai trazer um aumento da segurança com relação aos projetos de descaracterização, que são, por natureza, complexos", afirmou Renato Brandão.

O grupo de trabalho conta com representantes da Feam, que tem a coordenação do grupo, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), do Instituto Estadual de Florestas (IEF), do Instituto Mineiro de gestão das Águas (Igam), da Agência Nacional de Mineração (ANM), dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, e de especialistas com reconhecida experiência na área, como pesquisadores, engenheiros e consultores.

Durante a reunião, a tônica mantida nas falas dos participantes foi a de que está dada a largada para o fim do risco relacionado às barragens a montante. A expectativa do secretário Germano Vieira é que, com a presença de especialistas altamente capacitados sobre a matéria seja possível eliminar definitivamente todas as estruturas desse tipo em Minas, com segurança e bons projetos. “Esses projetos serão analisados com muito critério frente aos cronogramas de finalização que estão sendo propostos pelas empresas. Esse é o passo mais concreto para início da eliminação definitiva desse tipo de barragem”, disse Germano.

Presente na reunião, o advogado-geral do Estado, Sérgio Pessoa, elogiou a abertura do Estado a uma locução interinstitucional, buscando, na formação do comitê, não apenas referências nos órgãos públicos, mas também em instituições acadêmicas e consultorias especializadas. “Além das instituições jurídicas, que vêm se relacionando para o cumprimento por parte da empresa das obrigações decorrentes de sua responsabilidade objetiva no desastre ocorrido, teremos agora, por meio do comitê, a presença de especialistas trazendo uma contribuição da sociedade civil para a reparação integral dos danos causados”, ressaltou.

Em sua fala, o juiz auxiliar da vice-presidência do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), José Ricardo Véras, parabenizou o Governo de Minas pela iniciativa de criação do comitê e do empenho para a maior segurança na mineração. “Essa talvez seja a primeira vez, de modo organizado, articulado, e com a presença de vários especialistas, que a discussão será levada adiante no sentido de estabelecer regras para a descaracterização de barragens a montante, sem que haja impactos para a exploração do minério, já que minas vive historicamente dessa exploração”, ponderou.

Nesse sentido, segundo ele, o comitê tem uma grande responsabilidade ao estabelecer as diretrizes para esse processo. “Precisamos realizar uma verdadeira migração tecnológica, capaz de promover um extrativismo sustentável e, principalmente, seguro. Neste sentido, o trabalho do comitê será fundamental”, disse.

Um dos integrantes do comitê, o engenheiro civil, mestre em engenharia geotécnica e consultor independe na área de mineração em todo o Brasil, Paulo Franca, acumula experiência em trabalhos técnicos no caso de cinco rompimentos de barragens. Para ele, foi fundamental a escolha da Semad e da Feam pela multidisciplinaridade do grupo, o que, certamente dará maior segurança técnica ao trabalho. “É grande a expectativa em relação ao resultado. Todas as vezes em que temos um grupo multidisciplinar a tendência é que todos os aspectos sejam vistos. Quando atuamos apenas com o olhar da nossa área, estamos eventualmente perdendo alguma diretriz”, afirmou.

De acordo com o coordenador regional da Promotoria de Meio Ambiente das bacias dos rios das Velhas e Paraopeba do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Francisco Generoso, a Lei 23.291/2019 reflete o anseio do povo mineiro por mudanças em relação à Política Estadual de Segurança de Barragens, havendo necessidade de regulamentação de alguns aspectos específicos desta legislação. “A expectativa do Ministério Público é de que o refinamento desse instrumento normativo ocorra em observância aos postulados previstos durante sua aprovação no Legislativo estadual. Acredito que o trabalho deste comitê irá contribuir enormemente para isso”, afirmou.

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