Em Minas

Construtoras cobram repasse

Setor não recebeu R$ 45 milhões do Minha Casa, Minha Vida; pagamentos pararam em 2018

Por Ludmila Pizarro
Publicado em 16 de abril de 2019 | 03:00
 
 
 
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A falta de repasses do Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) pelo Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR) gerou um rombo de R$ 45 milhões no setor da construção civil em Minas Gerais de novembro de 2018 a fevereiro deste ano, segundo o presidente do Sindicato da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Geraldo Linhares Júnior. “Isso afeta o fluxo de caixa das construtoras, principalmente, as de pequeno porte. O valor também é necessário para terminar as obras que podem atrasar”, explica Linhares Júnior. No Brasil, os repasses atrasados do MCMV chegam a R$ 450 milhões. O programa completou 10 anos em março de 2019.

O contingenciamento pode afetar a retomada dos empregos no Estado. A entidade estimava um crescimento de 3% do setor neste ano. Nesse caso, o setor construiria cerca de 5.000 novas unidades, o que geraria, só nas 100 maiores cidades mineiras, 20 mil empregos diretos e indiretos. “Se continuar nesse ritmo, não vamos crescer e esses empregos não serão gerados”, alerta.

Segundo dados divulgados pelo Sinduscon-MG, nesta segunda-feira (15), no primeiro bimestre de 2019, 60% das vendas de apartamentos novos, nas cidades de Belo Horizonte e Nova Lima, foram do padrão econômico (PMCMV). “O programa representa em Minas Gerais 66% de todo o setor e 68% no Brasil”, acrescenta Linhares. Os repasses são do subsídio oferecido pelo governo federal no programa que representam 10% do valor do imóvel. Segundo o dirigente, o valor é utilizado, na maioria das vezes, para a entrada. “A pessoa que tem cerca de R$ 2.000 de renda mensal, não consegue reunir o dinheiro para a entrada. Sem o repasse, o cliente não tem como comprar um imóvel. Isso é ruim para o setor e para a população também, porque fica mais difícil conseguir um imóvel próprio”, avalia.

Aprovado em fevereiro deste ano, via Decreto 9.711, o orçamento do governo federal permitiu que o MDR liberasse, no primeiro trimestre, apenas 1/18 do orçamento anual por mês. Com isso, existe o risco do orçamento do MCMV ser menor do que o previsto, que é R$ 4,45 bilhões em 2019. “É um orçamento pequeno, muito pouco dinheiro para um programa tão importante”, diz Linhares.

Caso os repasses continuem caindo, é possível faltar imóvel dentro do programa MCMV. Mesmo sendo o segmento com maior número de venda, o estoque de imóveis disponíveis para o programa na região metropolitana de Belo Horizonte é de apenas 24% do total. Segundo o Sinduscon, eram 3.726 imóveis disponíveis em fevereiro e 897 correspondiam ao padrão econômico.

Preço do imóvel cai, em média, 5,7% no Estado neste ano

Os preços de venda de imóveis em Minas Gerais caíram nos dois primeiros meses de 2019. Uma pesquisa da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi) apontou que redução de 5,7% no valor dos apartamentos comercializados no primeiro bimestre de 2019 (R$ 330 mil) em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 349.945). “Estamos em um momento mais favorável para a compra de imóveis”, diz o diretor da CMI/Secovi-MG Leonardo Matos.

“(Os preços) estão meio estacionados desde o ano passado. Tem imóveis que já vejo há um tempão. Vou começar a anunciar o meu, porque o mercado está desaquecido”, afirma a servidora pública Angélica Machado, 43. Ela pretende trocar de imóvel, e considera o momento bom apenas para “quem tem dinheiro na mão para comprar”, diz.

“Para quem quer trocar ou vai financiar uma parte grande, não está adiantando nada”, avalia. Segundo a servidora, além da falta de interessados, os juros estão muito altos. “As parcelas estão ficando muito altas quando fazemos a simulação nos bancos”, diz.

Matos, porém, afirma que os juros estão caindo. “Hoje, os bancos privados oferecem opções de financiamento com taxas de apenas 8,5% ao ano. Há três anos, esses números chegavam a 12,5%”, afirma o dirigente. “Nossa previsão é de crescimento do mercado neste ano, de forma sustentável e contínua”, conclui.

Desde 2014

Queda. De 2014 a 2018, o PIB da construção caiu 27,7% no país, enquanto a economia nacional, no mesmo período, teve redução de 4,14%. Em Minas Gerais, a queda do PIB do setor, nos quatro anos, foi de 5,09%.

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