Amargo regresso

Em casa, o jeito é cortar gastos

Na crise, mineiro ‘esquece’ academia, TV a cabo, clube, festas e roupa nova

Por Juliana Gontijo e Queila Ariadne
Publicado em 30 de setembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O carro está parado, o plano de saúde está cancelado. “Até o cigarro eu troquei por uma marca mais barata. Tudo mudou, pois o país está quebrado. Roupas e calçados novos, só se eu ganhar de presente”, afirma Renato Sifuentes Moreira Melo. Pesquisa do Grupo Mercadológica, realizada com exclusividade para o jornal O TEMPO, revela que entre as estratégias adotadas para conviver com a crise, a principal delas é cortar gastos. Das 514 pessoas entrevistadas, 82,6% delas afirmaram que já não compram mais itens considerados supérfluos.

Oito em cada dez entrevistados pelo instituto afirmam que também já não viajam na mesma frequência, nem promovem festas e encontros com amigos e familiares. “Festa, só se for como convidado”, admite Melo.

O levantamento do Grupo Mercadológica mostra que mais da metade dos entrevistados (56,6%) cancelou serviços como academia, TV a cabo e clubes. Em casa, os hábitos também mudaram. Para economizar energia, 66% passaram a ligar menos a televisão e o computador, e 71,5% fizeram pequenas mudanças na rotina, como diminuir o tempo do banho. “Na verdade, meus hábitos de consumo mudaram muito nos últimos dois anos por causa da crise. Eu viajava mais. No supermercado, passei a pesquisar mais. Já não compro mais roupas e calçados como costumava fazer”, afirma a protética dentária Cláudia Santos.

Supérfluos primeiro. De acordo com o professor de economia do Ibmec Eduardo Coutinho, cortar supérfluos é a primeira alternativa para conciliar o orçamento menor com as despesas. “Para manter o essencial, a primeira coisa a se fazer é cortar gastos com itens e serviços possíveis de se viver sem eles. Em segundo lugar, a estratégia passa para o campo da substituição por produtos simulares e mais baratos. É o caso do banho, por exemplo. É perfeitamente viável gastar cinco minutos em vez de dez”, destaca.

Se depois dessas adaptações o dinheiro ainda não for suficiente, vem a terceira fase, que é a mais difícil. “Aí tem que cortar na carne mesmo, abrir mão de algumas coisas que são essenciais. Em casos extremos, isso pode afetar até mesmo a alimentação, e as pessoas passam a comer menos”, analisa.

Na avaliação de Coutinho, o limite vai exigindo cada vez mais criatividade dos consumidores, principalmente entre aqueles que não só perderam renda, mas estão sem emprego. “Não tem muita mágica, o caminho é gastar só o que se tem. Do contrário, vai ter que pagar caro, com juros altos”, alerta.

Qualidade de vida. Segundo levantamento da Mercadológica, 45% dos mineiros mudaram a alimentação por questões financeiras e mais da metade passou a comprar itens mais baratos.

Até “gatos” entram no planejamento

A crise é tanta que já tem gente admitindo que tem feito “gatos” de energia. Segundo o levantamento do Grupo Mercadológica, 11,4% dos entrevistados afirmaram que já recorreram a esse jeitinho clandestino para economizar. O problema é que a conta de quem não paga acaba sendo dividida por todos os consumidores.

Conforme a Cemig, as ligações irregulares geram prejuízo de aproximadamente R$ 300 milhões por ano. Segundo estimativas da concessionária, sem os “gatos” a tarifa de energia dos mineiros poderia ser até 5% menor. Das 132 mil inspeções feitas neste ano, a Cemig encontrou irregularidades em 60 mil.

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