Crise

iFood nega relação entre demissões e perda de exclusividade com restaurantes

Aplicativo demitiu mais de 300 funcionários, dias após ser obrigado a reduzir para 25% o total de parceiros vinculados a acordos de exclusividade


Publicado em 03 de março de 2023 | 06:00
 
 
 
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O iFood, maior aplicativo de entrega de comida do país, negou que a demissão de 355 funcionários da empresa, a maioria na área de tecnologia, tenha ligação com um acordo firmado recentemente com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que limitou a quantidade de contratos de exclusividade da plataforma com os restaurantes, algo que era considerado uma das principais vantagens do iFood em relação aos concorrentes.

O Termo de Compromisso de Cessação (TCC) determinou que o aplicativo tenha, no máximo, 25% dos seus parceiros vinculados a acordos de exclusividade. O iFood também ficou impedido de fechar este tipo de contrato com marcas que tenham mais de 30 unidades no Brasil.

Mas se este não é o problema, o que explica a demissão dos 355 profissionais, que representam 6,4% dos 5.500 funcionários do app? Segundo Sandro Magaldi, consultor e autor do best-seller "Gestão do Amanhã", o iFood enfrenta três situações que dificultam as operações neste momento. 

“O primeiro fator diz respeito ao fato de que essas organizações tiveram um boom de consumo com a pandemia e o isolamento social. Todas as empresas de base tecnológica, sobretudo as que trabalham com e-commerce e serviços, como o próprio iFood, foram beneficiadas e acabaram tendo crescimento nos negócios. E elas redimensionaram as suas equipes para atender uma demanda alta. Com o arrefecimento da pandemia e a volta das pessoas aos ambientes de trabalho, houve uma diminuição do nível de consumo. Essas empresas que estavam preparadas para uma demanda mais alta tiveram que ajustar suas organizações e equipes a uma nova realidade”, explica. 

O segundo problema para o iFood e outras empresas de base tecnológica é a queda de investimentos nas startups. Segundo Magaldi,o aumento da taxa de juros levou muitos investidores a procurarem formas mais seguras de aplicar o dinheiro, como o tesouro direto e a renda fixa. 

“Com a escassez desse recurso, essas organizações tiveram que recorrer ao próprio caixa para se financiar. Esse parece que é o caso do iFood. Se você pegar todos os comunicados, eles alegam que realizaram as demissões porque tiveram que interromper investimentos em novos projetos. Então quando o capital é escasso e eu tenho que usar o meu próprio capital, a tendência é canalizar todo essa força para o meu negócio essencial e não para inovação”, afirma.

O terceiro motivo que explica estas demissões, na avaliação do consultor, é um movimento cíclico da economia, que vive um período de baixo crescimento. 

“O que acontece hoje com as empresas de base tecnológica já aconteceu em larga escala, por exemplo, nas décadas de 1980 e 1990, com as empresas da indústria automobilística e do setor de alimentação. A economia obedece ciclos e hoje nós estamos num momento muito mais restritivo, que demanda conservadorismo das empresas”, explica.

E segundo o especialista, os cortes nas equipes acabam ocorrendo nestes momentos de economia mais fraca porque o pagamento de funcionários costuma ser a maior despesa das empresas.

“A maior despesa de qualquer companhia é sua folha de pagamento. Então é para onde vai todo o foco inicial, numa tentativa da empresa de ter uma gestão de caixa mais conservadora para lidar com o período mais restritivo. Então é também parte desses movimentos cíclicos da economia, que se no passado ocorria com a economia tradicional, com empresas tradicionais, hoje acontece com as empresas da nova economia”, conclui.

Além do iFood, outras companhias anunciaram demissões recentemente, como 99, Google, Amazon, Loft e Yahoo.

Versão do iFood

Em nota, o iFood alega que as dispensas ocorrem como parte de uma decisão de descontinuar algumas posições e que o cenário econômico mundial exige ações imediatas para enfrentar o momento difícil.

“Lamentamos por cada perda e estamos comprometidos em garantir que esse momento difícil seja conduzido com o máximo de cuidado e respeito a essas pessoas”, diz a nota da plataforma de delivery.

O iFood ainda garantiu que os funcionários demitidos terão extensão do plano de saúde e do auxílio alimentação, além de suporte para recolocação profissional.

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