A inflação invadiu despensas, concessionárias, farmácias e chegou aos corações: nem os encontros românticos escapam às altas de preços e, com o aperto no bolso, os apaixonados precisam planejar o orçamento para manter uma rotina de "dates". Sentar em um bar para tomar um copo de 300 ml de chopp, cada, e comer uma porção de fritas chega a R$ 40, segundo o site de pesquisa Mercado Mineiro. E ir a um cinema no Centro de Belo Horizonte na sexta à noite, sem pipoca ou refrigerante, não sai por menos de R$ 60.
Quando o ator Caio Castro discordou de que homens tenham que pagar a conta no "date", sequer citou a inflação ou preços elevados. Mas também houve quem tenha ressaltado como o aumento de custos se tornou uma barreira para os encontros.
O povo querendo discutir quem paga o date. Gente, realiza. Quem é que tá com dinheiro sobrando pra gastar em date? Cês tão sabendo do preço do leite, né.
— Prem Vagina (@ChristianeCSil1) July 31, 2022
Com o atual preço de tudo, cada um que coma seu marmitex antes de sair pro date.
— André C. Pio Martins (@AndrePioMartins) July 28, 2022
Pesquisa do Mercado Mineiro, divulgada neste mês, mostra um aumento generalizado de comidas e bebidas nos bares da capital. Quem deseja uma cerveja mais cara que a média, como a Heineken de 600 ml, paga cerca de R$ 15,32 — aproximadamente 7% a mais do que no mesmo período de 2021. Ir além da porção de fritas, a opção geralmente mais barata, e pedir uma porção de picanha, sai a cerca de R$ 101, alta de 27%.
“Sair está muito caro. Pessoas já recusaram sair porque estavam apertadas, principalmente no final do mês. Tudo subiu, principalmente bebida alcoólica. Vejo isso na cerveja. Às vezes, prefiro que o date seja em casa, pedimos alguma coisa ou compramos para cozinhar”, exemplifica a engenheira eletricista Ana Carolina Matos, 31.
O presidente do braço mineiro da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Matheus Daniel, defende que os aumentos praticados pelos bares ficaram, em geral, abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial da inflação no Brasil.
“Fizemos reajuste médio de 6%, abaixo do IPCA. O tíquete médio de consumo subiu porque os preços aumentaram. Mas a turma solteira está ávida por sair e construir relacionamentos, porque dois anos na pandemia foram pesados para quem estava solteiro”, diz. De acordo com o IBGE, a cerveja ficou 4,5% mais cara em um ano, fora de casa, e 8,4%, em casa.
Dar um presente ou comprar uma roupa nova para o encontro também está pesando mais: as roupas masculinas ficaram 20,8% mais caras e as femininas, 18%. Já perfumes e bijuterias tiveram um aumento mais discreto, de 1,9% e 4%, respectivamente.
Motéis pagam mais por roupa de cama e cozinha e casais sentem alta
A hospedagem em geral aumentou cerca de 20% em 12 meses, acima do IPCA, de acordo com o IBGE. Quem sair do bar para o motel também pode preparar o bolso para pagar mais caro. A alta foi no mesmo nível da inflação, segundo o diretor da Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis), Marcelo Campelo. Mesmo assim, isso não freou o ímpeto do público e os estabelecimentos continuam com alta demanda, de acordo com ele.
“Os jovens procuram mais o pernoite do que o uso por hora. Motéis que não aderiram à nova motelaria, que hoje não tem a pegada sensual e tem mais automação do quarto, por exemplo, estão precisando fazer promoções para atrair clientes”, pontua. Hoje, motéis investem no cardápio da cozinha, por exemplo — e lidam com a inflação dos alimentos.
No motel do próprio Marcelo, o Fly, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, o consumo médio dos clientes é R$ 170. Mas, em ocasiões especiais, como um pedido de casamento, alguns gastam R$ 3.800 para um pacote com direito a passeio de helicóptero pela capital. “Apesar de ele não ser acessível, todos querem saber sobre esse pacote. Pacotes mais caros, como esse, aumentaram muito acima da inflação, porque o combustível do helicóptero subiu”, pontua.
No motel Dubai, no bairro Caiçaras, na região Noroeste de BH, o aumento dos custos não foi repassado aos clientes em 2021, segundo o diretor executivo do estabelecimento, Luís Flávio Câmara, porém o preço será reajustado nas próximas semanas. Vai ser um aumento de aproximadamente 15%.
“Temos hospedagens a partir de R$ 70 e vamos ter que fazer reajuste em todas. Nossos custos subiram demais. Uma renovação de todo o enxoval fica em R$ 100 mil”, relata. A roupa de cama teve um aumento de 9,9% em um ano, lista o IBGE.
‘Escurinho do cinema’ também ficou mais caro, mas BH tem alternativas gratuitas
Um passeio cultural no cinema, teatro ou em um show, ficou mais caro acima da inflação acumulada em junho deste ano: a alta foi de 12,4%. O preço dos ingressos é um dos principais fatores pelos quais o número de mineiros que vão ao cinema mais de uma vez por mês encolheu quatro vezes, em relação ao período anterior à pandemia. Hoje, menos de 3% da população do Estado têm esse hábito, segundo pesquisa da ONG Contato, em parceria com o Instituto Ver.
No shopping Cidade, por exemplo, no Centro, o preço mínimo do ingresso é R$ 14, antes das 17h, às terças — R$ 2 mais caro do que em julho de 2021. De quinta a domingo, sobe para R$ 30 após esse horário. Quem quer aumentar o luxo do encontro paga R$ 64 pela sala Premier, com largas poltronas e cardápio exclusivo no Ponteio Lar Shopping, no bairro Santa Lúcia, na região Centro-Sul.
Mas é possível economizar: o Cine Humberto Mauro, no subsolo do Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, BH), tem uma programação constante e gratuita de filmes. Em agosto, ele exibe sete filmes com temática de dança, como “Billy Elliot”, de 2000, e “Flash Dance”, de 1983. Outra alternativa gratuita é o Cine Santa Tereza (rua Estrela do Sul, 89, Santa Tereza, BH), que, em agosto, tem uma mostra dedicada a animações.