POSSIBILIDADES

Novo Belvedere, luxo, saúde ou tradição da moda: qual é o futuro do Barro Preto?

Políticos, representantes do setor produtivo e de associações de comerciantes traçam possibilidades distintas ao futuro do bairro


Publicado em 30 de janeiro de 2023 | 06:00
 
 
 

No intervalo de duas semanas, duas lideranças mencionaram que o Barro Preto tem o potencial para se aproximar do perfil do “Belvedere”, o bairro no limite com Nova Lima repleto de arranha-céus envidraçados. “O Barro Preto, na planta original, com quarteirões de 120 m por 120 m, metrô ao lado, toda uma estrutura urbana, energia, água e saneamento, com galpões? É ali que temos que ter torres de adensamento urbano. Não podemos ser contra a construção de arranha-céus”, declarou o presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), Gabriel Azevedo (sem partido), em entrevista à rádio Super 91,7 FM no início de janeiro. 

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, reforçou a ideia, também em entrevista à rádio: “O Belvedere de Belo Horizonte deveria ser dentro do Barro Preto”. Atualmente, o bairro é foco, junto a outras regiões de Belo Horizonte, de um estudo da prefeitura em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O levantamento busca construir um mapa da região, ouvindo comerciantes e representantes de associações, para verificar quais são os setores de maior aderência às características locais. 

“A gente sabe que existe um apelo de alguns grupos que querem que determinada região seja potencializada em determinado segmento, mas o segmento não é para lá. Então não adianta ficar insistindo em algo se as duas pontas não têm interesse em comum.  Precisamos entender se aquele determinado território oferece, no presente, as condições que um determinado mercado exige”, explica o secretário de Desenvolvimento Econômico de BH, Adriano Faria.

Comerciantes pedem abertura de mais lojas no bairro

Ele afirma que há uma necessidade latente de diversificação econômica no Barro Preto, mesmo com as alternativas que já existem na região. “O Barro Preto não pode ficar refém de ser um polo de moda. É uma das vertentes, ainda sobrevive, há muitas empresas lá, mas o bairro precisa de uma diversificação para que consiga ter um movimento maior, para que possa também ter um número maior de moradores. Um bairro que não tem gente morando acaba não tendo movimento à noite e no final de semana”, refletiu o secretário. 

Desejos distintos

Em um Barro Preto em transformação, diferentes setores têm planos e desejos para dar um novo rosto ao bairro. Na rua dos Tupis, próximo à avenida Bias Fortes, dois prédios estão sendo erguidos com proposta de serviços completos para os moradores, com academia e espaço de coworking. Nos anúncios de um deles, a incorporadora gaba-se da localização “a dois minutos da praça Raul Soares”. O endereço, que foi marginalizado há algumas décadas, hoje atrai com a promessa da modernidade, bem ao lado do Mercado Novo, que se tornou um centro de criatividade e gastronomia na capital.

Para o jornalista Chico Brant, autor do livro “Barro Preto”, da “Coleção BH. A cidade de cada um”, o bairro tem vocação justamente para a criatividade. “Tem que haver um plano diretor que ‘revocacione’ o bairro para alguma coisa. Ou a própria moda, ou escritórios mais voltados para a criação, por exemplo. Outra vocação é a cultural, não só espaços de exibição, mas de fazer cultural, da criatividade”, diz.

No esforço em tentar reimaginar o bairro e moldá-lo em outras formas, há quem deseje aumentar o luxo da região, como o presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos Vestuário e Armarinhos de Belo Horizonte (Sincateva BH), Lúcio de Faria Junior. “Esse luxo do Belvedere é utopia, mas o Barro Preto tem que trazer o glamour. Vão caindo tijolos do canteiro central da avenida Augusto de Lima e, se o comerciante não tirá-los da rua, ficam lá. Há dez anos, propus arrancar as árvores da avenida, que não são as ideias para ela, e colocar palmeiras no meio da avenida”, diz ele.

CDL defende manutenção de Polo da Moda

Seja como um canteiro de obras de arranha-céus, uma zona boêmia renovada pelo Mercado Novo ou uma área hospitalar cada vez mais consolidada, o Barro Preto não tira os olhos da moda. O vice-presidente de relações públicas e sociais da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Fausto Izac, detalha que existem 19.815 CNPJs do ramo da moda e acessórios na capital e região. “Sua vocação continua sendo em torno dela e ele continua sendo o principal polo da moda de BH. O segundo é o Prado e, juntos, estimamos que somem 600 empresas do ramo.O Barro Preto já deu a BH o título de capital da moda”, analisa.

Segue firme, por exemplo, o Barro Preto Fashion Day, desfile na rua Mato Grosso que exibe as criações de estilistas mineiros. Para o presidente da Associação Comercial do Barro Preto (Ascobap), José Paulino, essa identidade precisa ser reforçada. “Nos centros comerciais dos bairros tem quase tudo o que tem aqui. Por isso é importante fazer publicidade para mostrar aos clientes que o Barro Preto tem coisas que eles não encontram nos bairros”, finaliza. 

Barro Preto reflete turismo e melhorias 

Em meio aos desejos distintos de uma nova identidade econômica para o Barro Preto e aos estudos do Sebrae, a prefeitura de Belo Horizonte garante que o bairro pode ser impactado diretamente por melhorias feitas em outras áreas da cidade. Para o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Adriano Faria, um exemplo é a revitalização da avenida Afonso Pena, que integra a lista de projetos para o Centro.

“O Barro Preto possui, principalmente na região limítrofe ao Centro da cidade, características muito singulares. Então os mesmos movimentos que a gente faz para a região do Hipercentro, no entorno da Afonso Pena, acabam reverberando ali”, disse o secretário ao citar o retrofit em imóveis antigos para ocupação por empresas e novos moradores. 

Outro reflexo positivo, pondera, é a movimentação no Mercado Novo. Localizado a cinco minutos a pé da Praça Raul Soares, o espaço tem três andares ocupados por estabelecimentos comerciais de diversos segmentos, da alimentação ao vestuário. “O Mercado Novo tem tido uma utilização de um público que não sabia da existência daquele espaço e hoje está a um cruzamento de acessar o Barro Preto. Então pode sim haver uma expansão da utilização do público desse território para o Barro Preto”, acredita Adriano Faria. 

 

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