Postos de combustíveis que praticarem aumento abusivo de preços por causa da crise do petróleo podem ser penalizados, afirmou ontem a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O órgão regulador acionou Procons em todo o país para ajudar na fiscalização. Em Belo Horizonte, os valores nas bombas ainda não mudaram, mas a entidade que representa o setor não garante estabilidade.

O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro), que congrega 4.000 postos, alegou, em nota à reportagem, que “os estabelecimentos revendedores de combustíveis são apenas mais um elo na cadeia de comercialização” e não assegurou que os preços vão se manter.

A entidade argumentou que os revendedores são “o último e mais visado” elemento na composição de preços dos combustíveis e afirmou ainda que “cada empresário define seu preço de venda”.

Feliciano Abreu, diretor do site de pesquisas Mercado Mineiro, afirmou que, segundo seus levantamentos, o preço nas bombas ainda não foi alterado em Belo Horizonte e região metropolitana.

Por outro lado, representantes do varejo de combustíveis de São Paulo afirmaram que os preços da gasolina e do óleo diesel só vão subir se a Petrobras reajustar a tabela de valores nas refinarias e se as distribuidoras repassarem o aumento.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro-SP), José Alberto Gouveia, disse que “até o momento, está tudo como estava”.

Ele negou que a alta do petróleo no mercado internacional seja capaz de influenciar as vendas no país. Segundo o executivo, 65% da venda nos postos está concentrada no etanol, e não na gasolina e no diesel.

“Se os derivados de petróleo ficarem mais caros nos próximos dias, o esperado é que o comércio de etanol cresça ainda mais”, afirmou Gouveia.

Contramão

Na noite de segunda-feira, a Petrobras informou que não vai elevar os preços nas refinarias, pelo menos nesses primeiros dias após o ataque à usina na Arábia Saudita.

Além disso, a ANP realiza pesquisas semanais de preços e garantiu que vai fiscalizar, “identificando distorções como preços abusivos ou indícios de cartel”.

Segundo a agência, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) tem a atribuição legal de investigar e punir, com abertura de processo, caso se constatem indícios de concentração econômica.

O diretor geral da ANP, Décio Oddone, afirmou que “não há motivos para preocupação com o abastecimento, muito menos para aumentos de preços”. Ele repetiu que a agência não identificou alta nos preços de combustíveis em decorrência do aumento no petróleo no mercado internacional.

Petróleo recua, e mercado respira

Depois de o preço do petróleo ter disparado e encostado nos US$ 70 na segunda-feira – maior alta desde a Guerra do Kuwait, em 1991 –, o valor da commodity desafogou ontem e tranquilizou o mercado.

A notícia de retomada rápida dos níveis de produção de petróleo na Arábia Saudita contribuiu para o clima. A cotação do barril de petróleo Brent caiu ontem quase 7%, para a casa dos US$ 64.

A afirmação do governo saudita de que sua produção de petróleo estará integralmente recuperada em, no máximo, três semanas abriu espaço para a queda. Contudo, ainda há cautela diante da troca de farpas entre Estados Unidos e Irã.

Apesar de castigar as ações da Petrobras, que devolveram parte dos ganhos de segunda-feira, com quedas de 1,32% (PN) e 1,55% (ON), a perspectiva de normalização da oferta de petróleo tira de cena a possibilidade de uma alta perene e ainda mais forte dos preços do barril, o que teria repercussões ruins sobre as expectativas de inflação e de crescimento brasileiro.

A melhora no clima internacional diminuiu a pressão por reajuste dos preços dos combustíveis pela Petobras. Na segunda à noite, o presidente Jair Bolsonaro disse que pediu ao presidente da companhia, Roberto Castello Branco, para não aumentar preços. (com agências)