Belo Horizonte foi a capital brasileira que teve o maior aumento do preço da cesta básica em setembro. A constatação foi feita pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na pesquisa mensal sobre o custo dos produtos. Ao contrário do ocorrido em 12 das 17 metrópoles, em BH houve um aumento de 1,88% na lista mensal de produtos que são considerados fundamentais à alimentação e higiene da população. 

Conforme o estudo, outras capitais com altas foram Campo Grande (1,83%), Natal (0,14%), São Paulo (0,13%) e Florianópolis (0,05%). Por outro lado, as maiores quedas no custo ocorreram em Aracaju (-3,87%), Recife (-3,03%), Salvador (-2,88%) e Belém (-1,95%). A pesquisa apontou que a cesta básica mais cara do Brasil é a de São Paulo, que custa R$ 750,74. Em Belo Horizonte, o valor global apurado foi de R$ 650,16. 

Tendo como base esse preço, os belo-horizontinos precisam trabalhar 118 horas por mês para bancar a cesta, que consome 57,99% do salário mínimo pago no Brasil - atualmente de R$ 1.212,00.

Técnica do Dieese em BH, Isabella Oliveira Mendes explicou que o destaque negativo de Belo Horizonte ocorreu por aumento no preço de produtos em nível maior do que em outras capitais. 

Enquanto a média nacional de aumento no valor de compra da batata foi de 9%, em BH o crescimento ficou em torno de 20%. A banana é outro exemplo, com elevação em outras capitais de 9%, mas em Belo Horizonte o preço escalou 27,8%. “E tanto a batata quanto a banana têm um peso importante na cesta. Essa diferença da alta maior desses produtos ajudam a explicar essa diferença”, analisou. 

Outro exemplo dado por Isabella foi o do óleo de soja. O produto sofreu uma queda geral de preço em setembro. Enquanto a média nacional de redução foi de 5,93% e em alguns locais chegando a 10%, o valor apurado em BH foi de 0,86%. “Enquanto na maioria caiu bastante, em Belo Horizonte o preço só ficou estável”, assinalou Oliveira. 

Encarecimento acima da inflação 

O boletim divulgado pelo Dieese também mostrou preços da cesta básica com encarecimento acima da inflação em setembro no Brasil, se for considerado o acumulado. Enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dos últimos 12 meses contabiliza 7,17%, o crescimento apurado na lista mensal de produtos pode chegar a até 18% no país durante o período. 

Recife foi a cidade em que o custo subiu mais: 18,51%. João Pessoa também teve destaque para a alta nos valores, com percentual apurado de 17,89%. Em Belo Horizonte, o percentual considerando os últimos 12 meses é de 11,59%, e de 7,44% se considerado só o período entre janeiro e setembro deste ano. 

De acordo com a técnica do Dieese, as quedas de preços que estão sendo observadas nos últimos meses, não trazem alívio ao orçamento da população devido à crescente que o país observou nos últimos anos. “Por mais que baixe o preço, tudo continua caro no bolso do consumidor”, atestou Isabella. Ela explicou que a deflação observada sobre os combustíveis nos últimos três meses tem pequena contribuição sobre a cesta básica. 

O que pesa a balança, na avaliação da especialista do Dieese, é a desvalorização do real frente ao dólar. “E isso afeta diretamente os alimentos que são importados e exportados. E aí entra café, farinha de trigo, produtos de origem animal como leite, manteiga, carne, óleo de soja”, detalhou Oliveira. Para ela, a ausência da política de estoques de grãos públicos, completamente esvaziada nos últimos anos, tem relação com o cenário de inflação. 

“Os brasileiros ficam muito expostos às variações cambiais e esses alimentos acabam puxando os preços da cesta básica”, complementa. Em setembro, as principais quedas de preço, no Brasil, ocorreram no óleo de soja, feijão carioca, leite, açúcar e carne bovina, atestou o estudo. No caso do leite, cujo litro chegou a custar R$ 8 nos supermercados Brasil afora, o decréscimo oscilou nacionalmente entre 16,39%, percentual apurado em BH, e 1,56%, em Belém.